05 de fevereiro de 2014, Bruno Lima Rocha
Neste artigo dou sequência ao tema da semana anterior, reproduzindo uma síntese do debate a respeito das possíveis vulnerabilidades para a reeleição de Dilma, refletindo duas palestras que tive oportunidade de realizar na George Washington University e na Georgetown University. Ressalto a “Guerra Psicológica na Economia” como outro ponto sensível para o desempenho eleitoral.
Se formos analisar item por item, todo o desempenho do lulismo e sua herdeira é absurdamente superior ao período FHC. Os críticos dos governos de centro-esquerda dizem que o PT assumiu em condições de estabilidade da moeda, que isso foi feito na transição de Itamar e garantido nos oito anos da dobradinha Fernando Henrique e Pedro Malan.
Também afirmam que Lula teve sorte ao pegar um cenário positivo da economia internacional, onde havia expansão e necessidades de aumento da produção primária. A crítica sempre conclui com a previsão que o Brasil não tem a capacidade de infraestrutura necessária para expandir sua economia e que por isso mesmo não deve receber um fluxo de capital tão intenso nos próximos anos.
Considerar que a estabilidade e o combate a inflação vieram com FHC é uma obviedade; mas daí a antecipar que teremos problemas de manutenção do modelo de crescimento e isso pode incidir na eleição, é confundir desejos ideológicos com o pragmatismo político que rege a aliança de classes no poder.
Dilma garante a fidelidade de ampla parcela da classe dominante e das transnacionais aqui operando através de seguidos “pacotes de felicidade”. O último trata da política de concessões e a perspectiva de investimento compartilhado para portos, aeroportos e rodovias. Para o governo, basta garantir emprego direto com inflação anual tolerável. Os 40 milhões da classe C vão manter-se fieis aos executores das políticas de Estado que geraram sua melhora na qualidade de vida.
Como parte da análise econômica é composta por expectativas e graus de confiabilidade, o que ocorre no país é projeção de valores. O empresariado médio, ao menos o que se manifesta em pesquisas de opinião, perdera confiança no modelo macroeconômico, confiança esta que nunca teve. Daí, equivocadamente, projeta-se esta visão do país como um indicador de vulnerabilidade para a reeleição.Não se pode confundir perspectiva ideológica com cenário eleitoral.
Se não houver escassez de bens primários (como foi o caso do tomate em 2013), inflação e desemprego, os opositores de Dilma terão pouco o que fazer para derrotá-la na campanha.
Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat.