Enquanto o governo central abre a quitanda oferecendo de tudo um pouco (mas só um pouquinho) para a prorrogação da CPMF, a mídia grandona continua insistindo em inverter fatos. Lembro que, ao longo de umas das 5 greves ocorridas durante o período da graduação em jornalismo, um colega pediu a palavra em assembléia, bradando uma profecia:
- “Se a gente afrouxa numa greve enquanto ainda somos estudantes, é porque seremos puxa sacos de editores, aprendiz de jabazeiros e os poucos eleitos para subir na hierarquia da mídia, serão especialistas em inverter fatos e fazer nariz de cera para assunto inútil!”
Se e caso este esquecido colega fosse profeta, seus livros venderiam tanto quanto a auto-ajuda empresarial. Dito e feito. Na geração pós-Pimenta Neves, a titica abunda na mente pouco ilustrada dos rostos divinos e maliciosos. Fiz todo esse redondeio para chamar a atenção no tema “carga tributária”. Não é possível que alguém em sã consciência consiga crer na relação única entre gastos de governo e tributação.
Os números apresentados pelo próprio governo Central atestam que o superávit primário é fantasioso em função do déficit nominal. Traduzindo, não importa o volume de arrecadação, os serviços da dívida são vorazes. Comprometendo o orçamento, institucionalizando o desvio de dinheiro através da famigerada DRU, a União opera como fiel pagador da agiotagem internacional.
Ao opinar, 9 entre 10 coleguinhas que tem essa potestade na indústria repetem a cartilha bovina: “O absurdo da carga tributária revela um Estado enorme e ineficiente!” Mentira. O botim impositivo é a centralização necessária para pagar aos agiotas com título de banqueiro. E, para acentuar a farra, a Selic normatiza a volatilidade de uma economia cujo lastro é a amputação de nosso potencial ao sangrar o PIB brasileiro e o dinheiro circulante.
Mas, se até esse humilde analista, teimoso e por vezes quixotesco, sabe disso, que dirá os sábios do Campo Majoritário e seus oponentes de-faz-de-conta na frente de telas finas, microfones direcionais e links de TV!!! O bom seria, se estes opinantes dissessem em alto e bom som:
- Sim, nós profissionais de comunicação elevados ao Olimpo da mídia oficiosa (salvo raras exceções, como Ricardo Boechat), concordamos com o lucro dos bancos, com o pagamento da dívida, apenas desejamos que esta farra de juros não se extraia da tributação sobre salários e consumo. Ou seja, que paguem os arigós, através do desmonte do serviço público e não mais apenas os nossos bolsos e o de nossos amados patrões!
Ah os delírios e desejos de quem aqui escreve. Esta “sinceridade” é simplesmente inviável.
Já imaginaram algo assim:
“Eu entendo, dizia o colunista, que o governo de Lula é corrupto como os anteriores e governam para os bancos como os antecessores. A diferença, se é que há, é que o atual governo trabalha de forma menos sutil no Congresso e é mais eficiente com os agiotas. Ou seja, Mensalão e Meirelles na cabeça! E, o melhor, é que a gente pode bater à vontade, porque por mais que faça o serviço direitinho, nem ele nem a Marisa pertencem ao nosso meio!”
Como isso não vai acontecer, o mais sensato é criticar a mídia como ela é, e buscar nas beiradas a ajudar a fazer a mídia como ela poderia ser.
Nota originalmente publicada no portal do brioso jornalista santamariense, craque da área, recordista de furos na região, Claudemir Pereira.