A contar desta última madrugada, os mortos entre os “suspeitos” de São Paulo já ultrapassam uma centena. Jovens são assassinados em esquinas e vielas, corpos com marcas de tiro na cabeça, parentes vão reconhecer os familiares e os B.Os. já estão prontos. Isto tem um significado, simples e direto. Ou o Estado autorizou a vingança policial ou volta a emergir outro Estado dentro do Estado. A “autonomização” dos corpos de segurança é algo tão antigo quanto a violência e repressão política. Mas, em plena “democracia” com a mídia (concentrada e convergente, é verdade), cobrindo e dando pau, aí sim é novidade.
Podemos nos iludir que está tudo sob controle, mas não está. Nem em São Paulo, e menos ainda no Congresso Nacional. A espionagem política deita e rola nos bastidores da classe de representantes do país. O teatro de ações é a nova mídia, eletrônica, imediata, digital. Pouco ou nada se sabia da tal CPI do Tráfico de Armas. Parlamentares pouco ou nada idôneos como o próprio Paulo Pimenta (aquele mesmo da lista de MV e grande amigo dos transgênicos) na relatoria e gente como Arnaldo Faria de Sá (ex-cartola da Lusa, Associação Portuguesa de Desportos) gritando dos microfones. Dois delegados do DEIC dando depoimento em CPI há menos de 48 hs de estourar uma crise sem igual. O áudio magnético some por R$ 200,00 e dois advogados do PCC levam e trazem informação, fazendo vigilância ostensiva sobre uma Comissão do Congresso.
Tudo isto nos faz lembrar ao México de Salinas de Gortari, ao fim do governo que ruiu os pilares do regime do PRI. Desiludidos com suas obras, grandes ficcionistas latino-americanos confessaram-se incapazes de competir com a própria sociedade. Sim, tanto no México como no Brasil a realidade supera a ficção, e há muito. Isto, se considerarmos o mundo real como mundo dos absurdos e o mundo das declarações como o suposto mundo real.
Na realidade da rua como ela é, a Polícia de São Paulo anda com dedo solto e ligeiro. A diferença é que agora têm pela frente adversários como não os tem desde os primeiros anos da década de ’70. Isto gera medo e crise, a crise da prepotência da superioridade bélica e de ação dos corpos policiais. E também, crises de sinceridade como a entrevista do Dr. Lembo, chutando e paus de barraca quatrocentenárias da província de Piratininga.
Talvez devêssemos agradecer ao Cesinha, Geleão e Sombra por nos fazerem lembrar de fato a sociedade que somos e não aquela que representamos ser. Hoje, Marcola, criador e criatura de seu ‘Partido”, aplica na prática a “reforma política” de um mundo em crise, cuja única linguagem é a da violência. Conforme já dissemos, já estamos dizendo e também lendo aqueles que repetem a mesma lenga lenga desde 1985, tinha de dar nisso. Ou será que ninguém leu Rota 66 mais de uma década antes de Cobras & Lagartos?!