Embora a Superintendência da Polícia Federal do RS esteja trabalhando a milhão, não vou falar a respeito da Operação Rodin. Entendo ser mais interessante apontar aspectos analíticos que podem dar suporte a uma mirada distinta no factual. Vamos aos conceitos.
As autoridades presas em função das operações do Detran-RS estão ocupando postos-chave do Rio Grande, de forma interrupta é verdade, mas no mínimo desde o governo Britto. Se raspar a fundo, tem para todo mundo, incluindo o ex-secretário de segurança do governo Rigotto (José Otávio), o ex-de Yeda (Ênio Bacci) e os muitos amigos dentro do PMDB que os presos na Avenida Ipiranga têm. Isto implica em uma hipótese de gestação colegiada da má versação de fundos.
Outro dado é a sofisticação dos esquemas de corrupção operando no pago gaúcho. O mito opera sobre essa base, isolando os mandantes dos chefes políticos. O caso Macalão é o mais célebre dos exemplos. Como se o gênio dos selos fizesse tudo por conta. Como se o elemento não fosse indicado sem concurso. Como se o mesmo não operasse por dentro dos corredores do Parlamento há muito.
O Detran é rolo no Brasil inteiro, de norte a sul do gigante adormecido. No caso daqui, o esquema passava não apenas pela super-mais-valia na emissão da carteira de habilitação, mas na contratação de serviços como segurança privada, treinamento e serviço de guincho. Leia-se o conceito: a falta de controle e a terceirização levam a uma ausência de Estado e a balcanização dos mandos do serviço público. Isso é antigo, repetitivo e funciona.
A hidra tem longa cauda, mas é a cabeça que pode regenerar a criatura. Se não cortar a cabeça, exibir em praça pública (em linguagem figurada é óbvio) e matar a alimentação a fonte volta a dar de comer. O mito de que o ambiente político e do serviço público gaúcho é distinto do “resto” do país está por cair. Falta passar a corda no pescoço de uns e outros. A lista está aumentando.