Na montagem da administração, Yeda Crusius repete a composição do chamado co-governo. Embora válido pelas normas, o debate para ser levantado é se esta junção de forças é legítima. O emblema de campanha foi um “choque de gestão”, subordinando os acordos políticos pela “eficiência administrativa”. Alterar o padrão da política tradicional no Rio Grande pós-1985, é o oposto do que a futura administração está fazendo.
A falta de conseqüência entre discurso de campanha e prática política, começa na composição de secretarias, gabinetes, estatais e autarquias. Governar entre quase todos significa lotear cargos e funções com partidos aliados no 1º e 2º turnos. Prevalecem os cálculos políticos, garantindo a maioria na Assembléia e dividindo o ônus de governar com rombo no caixa. Nada que não foi feito em mandatos anteriores. E, por mais que se diga o contrário, muito parecido com forma de compor do governo Lula.
Como novidade até o momento, a “nova forma” de fazer política tem a postura dinâmica da governadora eleita. Isto porque, tanto os choques com seu vice, Paulo Afonso Feijó, como a falta de espaço para os aliados de 1º turno, são um padrão na política brasileira. O debate a ser feito é de outra ordem. Não devemos nos ater a “governabilidade”, mas sim a identificação entre mandato e propostas originais.
O eleitorado votou em três partidos coligados, identificou estas propostas e delegou a governadora eleita o mandato. Não cabe aqui fazermos conjecturas sofisticadas cujo fim é gerar ainda mais confusão. Democracia implica um regime de concorrência entre partidos, políticos e idéias. Marketing eleitoral é uma coisa e mandato programático é outra. Dificilmente os eleitores de Yeda saberiam dizer os porquês das alianças. A não ser que se assuma o pressuposto de que o próximo governo será uma continuidade do “governo entre todos” de Germano Rigotto. Se assim for, outra promessa de campanha foi quebrada antes mesmo de iniciar o governo.
Governabilidade de fato são soluções estruturais para o Rio Grande. Isto, incorporar aos mais de 10% de desempregados e retomar a capacidade de investimento do Estado. Fora disso, tudo não passa de paliativo. Aglomerar legendas tradicionais e “nanicas”, não é governar e sim acomodar forças. Na prática, interesses político-partidários, corporativos e empresariais disputam o controle de uma máquina pública à beira da falência. Da maneira que se encaminha a composição de governo, a “novidade” vai esgotar antes do que se imagine.
Artigo originalmente publicado no jornal Zero Hora, caderno de Opinião, Tema para Debate, edição de domingo, dia 10 de dezembro de 2006, página 21