Tendo a chance de ver a Telesur com alguma freqüência, a simples audiência da emissora nos trás algumas reflexões imediatas. Gostaria de aportar estas impressões nesta Nota e algumas reflexões na Nota seguinte.
Sem dúvida, a emissora financiada pelo governo bolivariano da Venezuela, dentro de um estrito campo midiático, é uma agradável surpresa. Mesmo sabendo que não se pode excluir a estética do conteúdo, considerando que esta TV deixa muito a desejar em termos de inovações de linguagem jornalística, a programação é um avanço para uma audiência tão mal tratada como a nossa. O Continente apresenta uma demanda de programas feitos para nosso público, buscando a identidade necessária e com premissas narrativas distintas das apresentadas.
A linguagem acaba sendo parte do calcanhar de Aquiles da Telesur. A outra ponta do problema é a apologia de uma TV estritamente vinculada a um governo e a uma liderança carismática. Se por um lado a linguagem se assemelha a um estúdio “clássico” tipo CNN, os enquadramentos, cortes, tomadas e planos são próximos a TV Espanhola internacional. Não por acaso, as linguagens apresentadas são o espelho de uma correlação de forças e alianças, tanto da interna do campo jornalístico e midiático, como das relações exteriores de Venezuela com o governo do PSOE com José Luiz Rodríguez Zapatero à frente.
Assistindo com calma e atenção ao noticiário da TV espanhola, em especial os programas especiais de latino-américa, temos uma leitura transversa e pouco discreta da política externa do governo de Espanha. O mesmo se dá com o governo de Hugo Chávez e sua política externa, tanto para a América Latina como no plano mundial. O interessante nestas abordagens é o aporte de informações estruturantes da economia, especificamente da economia política – modelos de negócios, serviços e obras de impacto – dos países da região.
Uma experiência como esta, de TV voltada a si mesmo, buscando um público cativo com perfil contrário ao espelho invertido por onde nos observamos é uma iniciativa de impacto. Mesmo longe do modelo de comunicação democrática defendido pelos setores mais comprometidos com os meios comunitários da América Latina, a gravitação crescente desta emissora, quase sempre coligada com TVs estatais de uso semi-público. Mais uma vez nos vemos diante de uma experiência que caso fosse universalizada, por exemplo com uma TV deste perfil por país, o controle e o oligopólio dos meios seria abalado.