10 de outubro de 2013, Bruno Lima Rocha
A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, a acreana Marina Silva, decide por aceitar o convite da direção nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e se filia a esta legenda. Se somadas as intenções de voto suas e de Eduardo Campos, governador de Pernambuco; observa-se uma real ameaça para a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Para além da análise política como corrida de cavalos e jogos de oportunidades, a filiação da criadora da abortada Rede de Sustentabilidade, reflete a mesma crise de representação política tão contestada nas ruas brasileiras na jornada de protestos, cujo ápice foi em junho.
Qualquer teoria democrática que inclua a organização de cidadãos em torno de um conjunto de ideias verá o conceito de experiência política acompanhado pelo sentido de pertencimento. Imagino a reação de um militante de base, membro de diretório municipal de um partido, ao ver todas as suas instâncias internas esvaziadas, ou atropeladas, a partir de manobra eleitoral da direção estadual ou nacional. Quando uma líder política da envergadura de Marina é convidada a participar de uma sigla, trazendo consigo um enorme volume de votos, ninguém em sã consciência espera que a ex-companheira de luta de Chico Mendes irá, pacientemente, construir sua trajetória dentro da nova agremiação para, em um par de anos, começar a disputar cargos eletivos.
O processo é justamente o contrário. Políticos profissionais com cacife vêem seus passes disputados por executivas nacionais assim como empresários e cartolas brigam por contratos de craques de futebol. Se avaliarmos sua trajetória pregressa, quando ainda liderava seringueiros e extrativistas na Amazônia Legal, a hoje política fez o inverso quando era sindicalista e defensora do meio ambiente. Na década de ’80, a construção partidária surgiu do movimento popular e deste saíam os projetos de poder. Três décadas após, tenta erguer um partido já com viés eleitoral, sem a densidade social necessária para diferenciá-lo do pragmatismo político.
É possível que a manobra leve Marina e Eduardo Campos, ou vice-versa, ao Planalto. Justiça seja feita, a filiação realizada não é nenhuma novidade, sendo empregada na última década pelo governo de quase todos. A ex-ministra demonstra ser uma operadora política de primeira grandeza – com chances reais de ganhar na urna o Poder Executivo. Ao mesmo tempo, materializa com a jogada o pior da política brasileira, reforçando a mesma crise de representação radicalmente criticada no país.
Artigo originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat