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Arruda, o mensalão brasiliense e a necessária Oaxaca Candanga

blogdapaola

A criatura e seu criador, com a repetição da história de tantos outros na polititica do país. José Roberto Arruda trouxe condigo um homem de confiança de Joaquim Roriz. Um peso político em forma de continuidade do esquema anterior. Ao não cumprir um pacto aparente, Arruda se enforcou na experiência de investigador do ex-delegado de Polícia Civil, Durval Rodrigues Barbosa, ele próprio fiel depositário das tradições da direita policial na política profissional, uma vez que responde a 33 processos por corrupção. Nada mal.

07 de dezembro de 2009, Bruno Lima Rocha,

Este artigo de opinião e análise vem na forma de alguns comentários a respeito da Assembléia Popular que hoje defende a forma de fazer política por fora das formas consagradas em Brasília e na seqüência, caracterizo a cultura política do Brasil tomando a capital como espelho nada invertido das camadas dirigentes da nação.

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As variáveis do governo e do Estado em Brasília implicam em um excelente laboratório de uso e abuso dos recursos coletivos. Entendo que essa matriz louca se dá quando o Brasil decreta a sua fundação, na era dos 50 anos em 5 de JK (sendo que um de seus herdeiros cruzados é o empresário e ainda atual vice-governador Paulo Octávio), e tal como a lenda de Atlântida, estabelece o núcleo planejado (patrimônio da humanidade!) e as cidades-satélite. Essa concepção ultrapassa a tentativa de planificação do Estado então Desenvolvimentista e não consegue e nem pode e sequer tenta frear o fluxo contínuo de pessoas e de gente que para lá afluiu. A decorrência é a barbárie político-administrativa em forma de grilagem. As formas de empresas com pessoas jurídicas, o tal do ramo imobiliário, passa a ser a riqueza que brota do ente federado que nada produz em termos de economia para o país, embora seja seu centro de poder, e por tanto, irradia poder. A camada aparente da coisa (da besta fera como dizem os hermanos) que não é midiatizada nas coberturas nacionais é a elite política local, onde o empresariado se conforma na abertura e venda de novos espaços urbanizáveis e habitáveis.

Brasília seria brasileira embora planejada. A raiz do problema se encontra nos barracões de construção civil e nas refeições com alimento vencido (como carne podre). O cerrado foi aberto, o Plano Piloto se erguera sobre o descaso com as condições dos que lá foram para trabalhar no pesado, e depois por lá permaneceram. Essa é a base social controlada e dominada, através do roubo de recursos do Estado Nacional repassado para o Estado Distrital e cuja fonte de riquezas, nas suas origens, são títulos de propriedade e falsas planificações de loteamentos e vendas de imóveis. Há de ser reconhecer que a máfia dos consórcios econômico-eleitorais por lá é versátil. Ao lado da pistolagem está o uso de grilos em gavetas de madeira e na manipulação de processamento de dados.

Neste ponto, Brasília exagera na dose, com Arruda, Roriz e Cia., mas não deixa de ser o retrato do Brasil; pela genialidade arquitetônica, na ousadia de construir uma capital e retirar o eixo do poder do litoral brasileiro (que por lá ficara desde Cabral) e também pelas mazelas de sempre. Neste item, o DF é brasileiríssimo na violência policial, que é o braço repressivo do descaso do Estado fruto do roubo sistemático de governos cíclicos. Diante de tanta titica estrutural, o que muda? Agora, há delação e provas. O que difere Arruda de Roriz e seus amigos do peito é que o primeiro foi gravado e o outro não se sabe, ainda...

Na podridão do poder constituído, outros podem se formar, nem que seja a partir do nada desprezível poder simbólico dos espaços físicos institucionais. Neste momento, o protesto é a negação do que ali está é a única forma de política. Ironia com o DEM, ao incorporar o moralismo de tipo Carlos Lacerda, recebe agora a mordida de seu próprio remédio. Não há como esquecer. Antes de ser DEM e depois de ser ARENA e PDS, os demo foram e sempre serão PFL. O estilo de ACM é o padrão de qualidade da turba, nova ou antiga.

Falta uma Oaxaca Candanga

Diante da paralisia decisória, é da natureza da política (qualquer uma, mesmo da polititica como a vemos no país) eu uma força externa tome à frente e destitua o poder incapaz de governar e ter legitimidade. Em pequena escala, é isso o que ocorre nesse momento na Câmara Distrital de Brasília (equivalente ao “parlamento” brasiliense). Por sorte, um grupo de estudantes razoavelmente aguerridos e com um interessante grau de coerência interna, resolveu intervir de fora das regras do simulacro de representação da democracia liberal. Na verdade, no caso do DF, trata-se de uma plutocracia que entre si disputa a regulação da vida em sociedade e o espólio do Estado naquele nível de governo. Os políticos profissionais de Brasília exageraram na dose, mas a capital não deixa de ser um retrato do país, ao menos no que diz respeito de suas elites dirigentes e os vínculos orgânicos com empreendedores econômicos de distintas áreas.

Espera-se que o canto da sereia da representação legal, a ser re-instaurada a sua roleta russa a partir de junho do ano de 2010, não seduza as novas lideranças estudantis que agora ocupam a “mui nobre, leal e valorosa” e organizam – junto a outros setores – a Assembléia Popular. Fossem outros os tempos, e não estivessem as forças populares tão apaziguadas de projeto em projeto e haveria uma Ágora Candanga de fronte a essa casa dos mensaleiros e outra forma de expressão de poder ganharia forma a partir da indignação e da organização prévia. Como esta segunda categoria ainda não tem a envergadura popular dos políticos profissionais e dublês de grileiros do DF – como Joaquim Roriz, o fantasma do finado padrinho José Aparecido de Oliveira, o senador cassado e cartola Luis Estevão, a amigo de alguns deles e dono da empresa GOL Nenê Constantino, dentre tantos outros que puderam parir para a vida pública um secretariado à altura do de Arruda – resta afirmar o fôlego dos que lá peleiam e rogar que tenham sucesso na empreitada. Seria louvável também o afastamento do discurso da vassoura Udenista justamente para dar de relho na UDN pós-moderna (o DEM), o que seria uma incoerência cruel na base de argumentação dos que na Assembléia Popular peleiam.

A debandada de 15 secretários e 6 partidos da base do governo Arruda prova a ética da turma. Diante do perigo, salve-se quem puder e que o Executivo se queime sozinho. A aposta no cassino da política é mais alta para quem obtêm os maiores dividendos. Que Arruda pague, dizem os aliados! Que Arruda e a Máfia saiam do aparelho de Estado dizem os membros da Assembléia! Melhor esta segunda afirmação.

Que os ventos de Oaxaca soprem no Planalto Central!

A saída está em buscar a alternativa longe e distante do atual pólo de poder

Para modificar as práticas políticas brasileiras é necessário compreender como é o Jogo Real, a norma e os custos que regem seus operadores. E, por obviedade, buscar gerar formas de poder, controle e participação, por fora d jogo viciado da representação profissional e da gestão dos consórcios econômico-eleitorais da coisa pública. A res-publica pode vir a renascer na medida em que se torne o Estado controlável pela parcela organizada da população e que, seus rumos, sejam condicionados pela ação coletiva destes mesmos setores mobilizados. Do contrário, não há saída de médio e longo prazo e o horizonte possível será apenas mais uma operação da Polícia Federal, seguida da devida impunidade, é óbvio.


Este artigo foi originalmente publicado (com outro título e outra edição) no portal do Instituto Humanitas da Unisinos (IHU)






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