Semana a semana, o país e alguns estados entram em ebulição. Seria hipócrita não admitir que fatos conturbados vão agitando o dia a dia já espetacularizado. Antes o filme de terror explicitando aquilo que todos sabem e poucos provam, e se provas há, quase não se pune, do que a pasmaceira diária do folhetim fantasioso. Não pretendo aqui ir além do comentário fazendo analogia entre literatura consumível e o noticiário político. Não se trata disso, mas de reconhecer que a real politik é deveras mais tenebrosa do que os significados emitidos por mídia eletrônica.
A última de Brasília caracteriza uma situação peculiar e absurda. O presidente do Senado foi alvo de investigação da própria amante. Um caso particular de relação extra-conjugal, que diz respeito somente aos dois, ganha contornos de espionagem política. Há dois anos, no escritório da empresa Mendes Júnior, uma das cinco maiores empreiteiras do país, a jornalista Mônica Veloso levara um microfone de lapela, mas escondido em sua roupa e gravara conversações com representantes-lobistas e também com seu ex-amante.
O erário público, alvo de roubo explícito, uma vez que o jovem estudante de Direito da UFAL, então membro do PC do B e convidado para concorrer a cargo legislativo na oposição legal do PMDB, enriquecera mil vezes mais do que seus vencimentos o permitiam. Renan está na vida pública há 30 anos, e acumulou patrimônio pessoal equivalente a mais de 300 anos de vencimentos. Isto é fato, indiscutível, e nada ocorre. Um suspeito dessa envergadura se reúne com o presidente e negocia, ou faz chantagem, com o mandatário da nação. Este por sinal tem o mesmo toque de Midas enquanto serve a vida pública. Sua esposa, a primeira dama, estoura o cartão de crédito corporativo, e o STF impede a quebra de sigilo bancário.
Quem mudou? O estudante de esquerda de 1978 ou a esquerda de 2007? Qual foi a transfiguração, do sindicalista agregando multidões em 1977 ou 1980, confrontando a polícia de Paulo Maluf, ou o sindicalismo de 2007, ou mesmo o Maluf, que sai da cadeia da PF em São Paulo para mais um mandato de deputado federal? Hoje, Renan, Maluf e Lula são aliados, e nada disso é falsa polêmica. Para entreverar ainda mais, a oposição, empedernida, brada nas inserções dos horários eleitorais, mas arrepia na hora de relatar seu igual, nobre e admirado senador.
Renan, de sua parte, vê a sua vida tornar-se um inferno, semeado e irrigado com afinco, entre pecuária superfaturada e desvios (eufemismo para ROUBO) dos cofres do Estado. O problema está aí. O Estado é o ente que regula as relações sociais, a ele é outorgada licença de exercer o poder público, e não o público exercer poder através de mecanismos próprios e diretos. No exercício do poder do povo licenciado através do Estado, uma casta profissional entra e sai de encargos estatais, eleitos ou não e tomam o Estado de assalto e as vitórias em guerras, desde que o mundo existe como tal, se dá através de um sistema de espólio.
Não é bandalheira não, é norma. E, nesse sentido, da vida como ela é, e porque mesmo para modificá-la, é através da intervenção do mundo dos homens e mulheres e não do circulo virtuoso do faz-de-conta que alguém acredita da academia e das consultorias especializadas que dizem o que o cliente supõe que seja algo bom para escutar, os especialistas estão devendo. E muito. A dívida para a sociedade é enorme, igual ou maior que os rombos dos cofres dos EUA, US$ 1 trilhão, dívida esta balizadora da liquidez digital da globosfera. Com tanto economês e não aparece um ECONOMISTA para explicar em termos didáticos como de fato funciona o sistema financeiro.
No pago, sinto dizer, embora o comportamento não seja tão nefasto, a Assembléia Legislativa, agindo em causa própria e isolando representante de representado, convoca o auto-aumento de 21,22%. Eles ganham R$ 9.540 e passarão a receber R$ 11.500 a partir deste mês. O efeito cascata, iniciado nas hordas planaltinas, chega ao Rio Grande como uma cabeça d’água, serra abaixo e varrendo lavouras e milharais.
Mais complicado é a função do bombeiro conceitual, buscando da uma teoria normativa potável, sendo que a episteme da classe política auto-referenciada, é marcada pelo interesse particular sobre o coletivo, o ganho a qualquer preço e a formação de consórcios político-econômicos, cujos dividendos são pagos em emendas e os investimentos, de risco e rentabilidade alta, no mercado eleitoral.
Se este é o “menos pior dos regimes”, então fica a curiosidade em conhecer o “menos melhor”.