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Uma reflexão produzida antes, durante e após os atos de 15 de março

instituto liberal

Os neoliberais brasileiros refletem neste cartaz o protagonismo de quem defende o impeachment

16 de março de 2015, Bruno Lima Rocha

 

Neste breve artigo analítico, faço a colagem de meus comentários a respeito do ato pelo impeachment organizado em todo o país e com evidente apoio midiático (basta comparar com a cobertura de 2013, ao menos até a conquista do não aumento das passagens). Postei aqui em ordem cronológica para facilitar a compreensão d@s leitor@es.  Sintetizo neste início algumas teses a serem desenvolvidas:

 

- É preciso retomar o espaço político à esquerda, como em 2013.

 

- Não se pode subestimar a histeria midiática e nem as operações de tipo revolução laranja através da internet.

 

- O Planalto acusou o golpe e, no meu ponto de vista, equivocadamente se pronunciou de forma detalhada e ainda deu coletiva com dois ministros para toda a mídia que bate sem parar no segundo governo Dilma.

 

- A grande vitoriosa desta triste tarde de domingo 15 de março foi a direita ideológica, hegemonizada por sua versão neoliberal, taticamente travestida de democrata.  O PIG ajudou – e muito – nesta vitória pontual.

 

- Definitivamente estamos  pagando  o preço da despolitização e letargia iniciados em 2003 e somente interrompidos quando a esquerda não governista saiu às ruas em 2013 e realizou conquistas diretas.

 

- O segundo turno de 2014 foi um plebiscito e, de forma acelerada e indefensável, Dilma e seu núcleo duro de governo cometeram estelionato eleitoral e agora pagam o preço por isso.

 

- Não tem como defender o golpe da direita que perdera e tampouco ficar como linha auxiliar do governo dos oligarcas e dos arrependidos.

 

- O PMDB está assistindo a tudo e faturando nos bastidores com a crise política. O grande líder dos oligarcas de plantão já é Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nobre presidente da Câmara Baixa e liderança inconteste do baixo clero.

 

- Está rompido o pacto de classes do lulismo e inicia – finalmente – a curva descendente do PT na hegemonia da esquerda. O problema é que a esquerda terá de ser reconstruída apesar deste mesmo pacto de classes.

 

- Por fim, o óbvio. A crise política só está começando.

 

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14 de março de 2015 - Amanhã, a direita vai tentar comparar a mobilização, mas está longe de desestabilizar um governo já enfraquecido (a não ser que o Planalto ajude, o que não seria de se estranhar)

 

O que vou escrever pode deixar alguém mais poluto meio escandalizado, mas, como já disse o mesmo em rede estadual de rádio da província (ao menos em duas ocasiões, sendo uma na manhã de sábado, 14/03/2015), afirmo que a tática dos herdeiros de Lacerda no Brasil está equivocada. Só há uma chance de ocorrer uma virada de mesa no país, e esta passa por um escândalo midiático de grandes proporções. Não digo algo como a Lava Jato, pois no caso a população se indigna, mas observa - distante e revoltada - com o circo da CPI com direito a discurso "espontâneo" de Eduardo Cunha, para delírio do Blocão. No ato da direita do dia 15, e para derrubar este governo - algo que não quero e sou contra qualquer intento de golpe reacionário - os lacerdistas têm de partir para a Guarimba Escuálida. A tática, empregada pelos escuálidos venezuelanos, trata de desestabilizar o governo Maduro através do aumento dos confrontos, e logo, a intensidade da repressão do Estado. Estamos anos luz aqui deste nível de tensão, mas ou a direita faz isso, ou vai fortalecer a versão Capriles daqui, Aécio Neves.

 

Acontece que estamos diante do imponderável e algum grau de conflito pode ocorrer. E, a diferença de 2005 quando do escândalo do Mensalão, é que desta vez e através da internet com reforço da mídia (PIG em ação), a direita está mobilizada e tem algum grau de massificação. Sem povo não se derruba governo e não sei se tem massa disposta a "Marchar com Deus pela democracia". Falta - para a outra direita, a que perdera nas urnas e levou na Fazenda, na Agricultura e na Indústria - uma ou mais lideranças políticas, como Lacerda e Magalhães Pinto, e também um nível razoável de agitação não caricata, sem passar por Bolsonaro e pastores neopentecostais do PSC. A julgar pelos ocorridos em 2013, quando em junho a mídia e a direita tentaram sequestrar uma pauta que estava muito à esquerda do governo dos arrependidos, há chance real de Guarimba, embora ainda com baixa probabilidade.

 

O Planalto deve estar mais preocupado em perder a pouca base que lhe resta e, se não for pura bravata, parece que não vai aturar o pacotaço e o arrocho de Levy e cia. Tomara! A unidade da esquerda não se trava com reboquismo e menos ainda apostando na letargia política embasada na loucura do pós-fordismo ditando nosso ritmo de vida. Do lado de onde venho e para quem escrevo, toda crítica ao governismo é pouca, desde que não aparente fazer coro com a direita que perdera nas urnas e agora quer virar a mesa.

 

Obs. Posterior: houve efeito midiático, mas não a comoção nacional diante de alguma ação repressiva ou de provocação. Parece que houve a orientação de tipo publicitária para fazer do protesto no domingo (de manhã ou pela tarde), em um “happening” de grandes proporções.

 

Última da noite anterior ao 15 de março

 

Pude ler uma orientação da direita que perdeu nas urnas para o ato de domingo 15 de março de 2015. Não deve ter Guarimbazo não. Venezuela é Venezuela, e lá parece que os escuálidos são mais dispostos a tudo do que aqui. Vão marchar com Deus pela Democracia como se fosse um desfile cívico. Há explícita orientação para evitar confrontos e prevenir qualquer tipo de tumulto.

 

Assim, a organização do ato - dos atos - fica isenta de ações que fujam a este controle. Ou seja, o que houver - se é que haverá - vai ser caracterizado como infiltração. No domingo 15 de março, ao que parece, teremos a estranha performance da TFP saindo às ruas como numa mescla de escotismo cidadão e rebelião do andar de cima.

 

Se eles tivessem um Lacerda apoiado por milicos dispostos - como os que fizeram Aragarças e Jacareacanga - a coisa ia ficar feia para o Planalto. Como não tem, a aposta é a rebelião da "base aliada", cujo líder em ascensão é o nobre e impoluto Eduardo Cunha, vanguarda do Blocão do baixo clero. Se Dilma for emparedada, cresce Temer, Cunha, Renan e outros caciques do fisiologismo. Quem achou que ia formar finalmente um bloco histórico com a burguesia nacional e as oligarquias regionais dando suporte se enganou, e muito.

 

Para refletir nesta manhã de domingo, 15 de março: Cuidado com o fantasma de Lacerda e afastamento prudente do governismo.  

 

Costumo comparar os momentos históricos onde temos a contradição da contradição. Julgo ser o lulismo um pacto de classes de caráter conservador embora popular, tal e como o varguismo a partir de 1945 até sua derrocada final com o golpe de 1964. No período de retorno do ex-ditador repaginado como líder populista, Vargas teve como grande adversário ao ex-comunista Carlos Lacerda. O corvo seguiu infernizando a Vargas e seus herdeiros, em especial ao sucessor político, o recalcitrante João Goulart.

 

Lacerda via a si mesmo como o redentor do Brasil e da moralidade e adulou a milicada para o baile. Terminou como outros ex-golpistas civis, no ostracismo, com morte suspeita e reclamando. "Marchou com Deus pela democracia e agora chia, chia..." tal e como outro golpista de '64, o então pessedista Ulisses Guimarães. Cuidado com toda essa gente e igualmente cuidado com o crime histórico de hipotecar a autonomia do povo brasileiro e a independência de classe ao governo de turno aliado dos oligarcas de sempre.

 

O segundo governo Vargas teve seu perfil nacionalista e popular somente a partir de 1953 e durou menos de um ano. Getúlio preferiu matar-se a enfrentar a elite brasileira com risco de guerra civil. Dez anos depois, Jango preferira o exílio a defesa da democracia de massas e as reformas de base. Na hora H, o populismo sempre rói a corda e, acreditem o peleguismo também.

 

Agora a farsa se repete. Não tem golpe algum a caminho, mas se tivesse, não seria possível contar com a maioria dos "dirigentes" hoje governistas e defendendo a "democracia" nas ruas. Na hora da decisão, caberia para a esquerda restante defender os direitos fundamentais e as condições materiais de vida. Não havia dispositivo anti-golpe em 1964 e duvido que exista algum plano de contingência dentro do PT em nenhuma instância. Se a direita brasileira - a direita política - fosse mais consequente e estaríamos agora em uma situação pior do que estamos.

 

Não inventei a comparação de '54, ouvi esta analogia sendo ofendido por governistas de carteirinha no auge dos protestos de 2013. Atribuíram à esquerda restante a responsabilidade pela indignação popular na luta por mais direitos. Agora vão atribuir a sua base aliada o fato de serem os oligarcas de sempre, e quem mudou programática e eticamente, foi o reformismo.

 

Conclusão após os atos da direita na tarde de domingo 15 de março: quem tem a hegemonia na esquerda paga a conta na História  

 

A política é cruel mesmo para quem se propõe a transformar a sociedade. Realmente a coisa massificou e não adianta ficar trocando ofensas e ironias sem fim pela internet. Tem uma multidão de gente que aderiu e não é golpista e nem neoliberal. A grande mídia ajudou e a cultura política do humor sem limite também, mas existe algo de representativo nas marchas de hoje, e isso é inequívoco. A saída contra o avanço ideológico da direita (porque o fisiológico é constante) é partir para o convencimento, demonstrando, por exemplo, que no Brasil se sonega mais impostos do que temos de cobrança de tributos. Contradições básicas já ajudam no argumento.

 

Ao mesmo tempo, quem ainda se posiciona na esquerda e as esquerdas para além do governismo, as mesmas que derrotaram as máfias dos transportes urbanos em 2013, precisam partir para a ofensiva em duas frentes. Para os ex-companheiros, é chegada a hora de passar a conta e o recibo para os dirigentes do pacto de classes do lulismo. Quem tem a hegemonia paga a conta da História. Foi assim quando o anarquismo não superou a repressão de Bernardes; o mesmo se deu com Jango e o reboquismo do partidão, que se fraturou em 10 antes e depois da reação aos expurgos pós-stalinismo. Agora, a conta é dos que um dia foram denominados sindicalistas autênticos e, de fato, representaram o reformismo radical nos anos ‘80. Só espero não passar esta fatura em clima de impeachment à direita, promovido pela "base aliada".

 

É hora das esquerdas voltarem a crescer, abaixo e peleando. O povo brasileiro construiu alternativas como Palmares, Canudos, Contestado e as Greves Gerais de 1917. Quando a matriz marxista passou a hegemonizar nossa esquerda, as opções passaram por quarteladas e pela via eleitoral. Vivemos o mesmo dilema ainda hoje. Ao menos temos o consenso de que a democracia popular é a única saída, e a democracia direta e exercida com o protagonismo do povo organizado. Demorou mas a outra matriz da esquerda se deu conta.

 

Uma pergunta: - Como e quem resistiu ao golpe de 1954? Ninguém, a revolta veio depois. E agora José, quem vai protagonizar a resistência contra o arrocho de Levy e o intento de golpe da outra direita? A crise política está só começando e temos a real oportunidade de abrir um novo ciclo de hegemonia das esquerdas no Brasil. Mas, para isso, é preciso agora lutar em duas frentes: combater a direita dentro do governo e o pacotaço do arrocho e, nas ruas, derrotar ideologicamente os neoliberais travestidos de democratas e arautos da moralidade pública.

 






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