OExército de Caxias e Médici faz acordo com traficantes para reaver seus fuzis roubados e permitir que continue o movimento de drogas nos morros ocupados. Enquanto isso, a Rede Globo, sua grande aliada,nos impressiona.
Ao transmitir o documentário produzido por MV Bill e sua equipe, o jovem que conheci em 1992 como um dos cantores do grupo de rap Geração Futuro, promovendo o 1o e 2o CDD (festival de hip hop da Cidade de Deus) passa a categoria de estrela nacional. O documentário, se peca por algo, não é necessariamente nas imagens, mas sim na conclusão que a Globo expõs. Bill, ao mesmo tempo que chama a atenção, garante seu espaço e não confronta a emissora.
Mas, as imagens estão dadas, não precisa de muita teoria para compreender que há uma outra sociedade, convivendo em regras distintas e negociando o trânsito entre dois mundos todos os dias. O que varia, segudo cada região metropolitana, e o modo e intensidade que esta forma de vida se desenvolve. Mas, isto é uma realidade grassante. Detalhe, tudo ocorre igual ou pior, há pelo menos 20 anos, no caso específico do Rio de Janeiro.
Ano que vem completam duas décadas da Guerra do Dona Marta, bairro de Botafogo, zona sul do Rio. Zaca enfrentou a Cabeludo, o 3o. Comando combateu o CV e venceu provisoriamente com apoio de ex-policiais. Depois, foi derrotado e saiu do morro. Histórias como estas já são sem fim e parece que pouco ou nada importam.
O aumento das necessidades básicas e a permanência das estruturas clientelísticas fazem do eleitor um cliente em potencial, e um tipo que vai remunerar o investidor que fornecer sua necessidade. Neste caso, necessidade mesmo. Mas, por mais que renda em voto e cabresto, é simplesmente impossível manter uma sociedade onde partes consideráveis dela vivem e sobrevivem de economias predadoras da capacidade criativa dela mesma.
Sim, estamos falando do narcotráfico, mas também da jogatina na folia do sistema financeiro. Aqui, como no Haiti, um não existe sem o outro.