Com maior envergadura, embora muito despolitizado, foi o ato-show da Força Sindical. Mais de 20 mil pessoas se aglomeraram no Anfiteatro Pôr do Sol, embalados por conjuntos musicais e a pregação carismática do Padre Marcelo Rossi. Essa curiosa mescla teve como pano de fundo os discursos de Cláudio Janta (presidente estadual da FS) e a presença de políticos gaúchos, dentre eles o prefeito da capital José Fogaça. Ligada ao PTB e PDT, a Força hoje tem como representante no governo o ministro do Trabalho Carlos Lupi (PDT-RJ).
A CUT, cujo ex-presidente Luís Marinho é o atual ministro da Previdência, juntou algumas centenas de pessoas no Parque Farroupilha. Em seu ato, além de falas e músicas, trouxeram de volta a descendente da antiga CGT do Joaquinzão. Hoje representada na Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), é a linha de transmissão da ala mais governista do PMDB, controlada pelo que restou do antigo MR-8 quercista.
Rivalizando com a CUT, a oposição sindical à esquerda juntou um pouco mais de gente no Largo Zumbi dos Palmares. Convocado por Intersindical e Conlutas, sua meta era marcar um tom diferente dos atos-shows que hoje caracterizam o 1º de Maio das duas centrais ligadas ao governo. Embora aguerrido, cerca de quinhentas pessoas terminaram por escutar uma lista enorme de falas e discursos.
No interior de Cruz Alta, contrastando com os atos na capital, as pastorais sociais convocaram a 11ª Romaria do Trabalhador. Mesmo diluídos, uma parcela significativa de trabalhadores organizados na Via Campesina se somaram à celebração. Assim, evita-se o alinhamento da maior parcela de militantes gaúchos, organizados no campo, dentro da disputa da CUT e suas oposições de esquerda.
O fato é que o 1º de Maio como data de luta popular vem sendo, há quase duas décadas, esvaziado de seu caráter simbólico. Por um lado, abundam apelos popularescos, como espetáculos musicais e rezas carismáticas. De outro, ainda falta criatividade para marcar um tom combativo, convocando pessoas que estão fora da esfera de influência da militância política e social. O vazio no ato da CUT, somado a pouca criatividade de Intersindical e Conlutas são sinais concretos de uma falta de reflexo político para os tempos atuais.
Nas lutas convocadas contra a Emenda 3, a mesma crise se repetiu. A contundência necessária não foi vista, sendo que a maior parte dos dirigentes sindicais sequer foi para as ruas. A verdade é que o grosso dos contingentes mobilizáveis para lutas sociais hoje não é composto por sindicalistas. Mudar uma cultura de acomodação é tarefa árdua e necessita de muita paciência e tenacidade.
Coluna para a Revista Voto, Porto Alegre, maio de 2007, Ano 3, No. 32, página 53