Rigotto, embora veterano na política, tendo sido um dos articuladores de Fernando Henrique como líder de seu governo no Congresso, o dentista caxiense soa como novidade no cenário nacional. Com estilo oposto ao de seu padrinho nesta empreitada, o conterrâneo senador Pedro Simon (PMDB/RS), o governador vem de família tradicional e tem discurso calmo e afável. No palanque, tenta acalmar os ânimos e chamar para um debate “construtivo”. De fala fácil e eloqüente, sua relação com a imprensa é muito boa. Resta saber se um fenômeno político estadual pode repetir-se no país inteiro, a começar pela peleia braba na interna do PMDB nacional.
O ponto de atração de Rigotto seria sua capacidade de alterar o pólo da campanha. Projetando cenários, as chances reais do político gaúcho alternam-se segundo o nome do PSDB para o pleito. Duas são as hipóteses possíveis. O nome tucano poderá ser o prefeito paulistano José Serra ou então o governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Consideramos a primeira hipótese como a mais provável. Portanto, começamos uma breve comparação a partir da segunda possibilidade.
Caso o médico natural de Pindamonhangaba concorra com Luiz Inácio, estaria dada uma situação complicada para Rigotto. Isto porque ambos governadores tem estilos de comunicação bem parecidos, mas com uma brutal diferença executiva. O político gaúcho compôs um múltiplo gabinete, caso típico de co-governo onde PP, PSDB, PFL, PTB e PL compõem as pastas e CCs de 1º escalão. Mas, a distinção não está na composição do gabinete, tampouco na relação com a Assembléia. O problema é de fundo, e está na forma de conduzir seu secretariado. O estilo Rigotto de governar é morno como sua fala. Já Alckmin, quando as câmaras estão desligadas, é tão duro como sua política de segurança pública. Quem conhece minimamente as relações reais de poder sabe que, na Presidência, são necessários os salamaleques públicos e a mão de ferro na mesa. Estas mãos pesadas, sem dúvida, não são as de Germano.
Já o economista pós-graduado em Cornell e ex-funcionário da CEPAL José Serra, tem o estilo necessário para coabitar o ambiente eleitoral com Rigotto. O cenário ideal para o governador do Rio Grande seria uma disputa acirrada entre o ex-ministro do Planejamento e da Saúde de FHC contra Luiz Inácio. Caso isto venha a ocorrer, em tese estão dadas as chances de se estabelecer uma “terceira via”.
Eis o sonho de Rigotto. Ele próprio exemplifica o case eleitoral de 2002, como algo que pode ser repetido. O cenário era clássico da política gaúcha. O ex-repórter da RBS Antônio Britto disputava a eleição com o advogado Tarso Genro. Este, por sua vez, havia derrotado Olívio Dutra em acirradas prévias do PT gaúcho. A forma um pouco mais dura do governo de Olívio era indefensável pelo moderado Tarso. Já Britto sofria com altas taxas de rejeição pelo fato de ter sido ele o operador político que privatizara grande parte do patrimônio gaúcho. Para piorar o quadro, o atual diretor-presidente do Grupo Azaléia concorria por uma pequena legenda, o PPS/RS, fruto do racha de seu grupo com os caciques Simon e Eliseu Padilha. A partir daí já é história conhecida, Rigotto começara a disputa com 2% e ainda no primeiro turno termina em 1º lugar. Britto pagara a conta das privatizações e Tarso atraiu para si os desafetos do governo Olívio. O término do pleito indica a vitória do PMDB e seu leque de aliados.
Rigotto representara o início de um Rio Grande “pacificado”, conforme palavras da mídia estadual. Um governo sem ódio de classes onde o Piratini seria o epicentro de diálogos e conversas de todos para todos. Considerando a sentida baixa nas mobilizações sociais, fruto da indecisão em que se encontram os movimentos populares, não houve muitas oportunidades de conflitos radicalizados em solo gaúcho. O problema de seu governo foi e está sendo outro.
Em geral, as contas de governo, são cobradas de três formas. Uma delas são as manobras e operações políticas que resultam em CPIs e auditorias. Normalmente, quase nunca dão em nada, a não ser na fritura de alguns poucos bodes expiatórios. Outra cobrança bastante sentida se dá com o peso das ruas, com os setores de classe organizados lutando por direitos adquiridos, conquistas históricas ou na defesa do patrimônio público. E, por fim, a mais conhecida, são as cobranças dadas via mídia, no meio das campanhas eleitorais.
Mesmo com todo o discurso de “bom moço” do governador gaúcho, se os números de seu governo e os conseqüentes efeitos sociais forem postos na mesa, será muito difícil se defender. O Rio Grande do Sul quebrou o recorde de queda no crescimento industrial no ano de 2005. Além das taxas de desemprego, o são estado sofreu uma queda de 4,8% no seu PIB, segundo a FEE, agência oficial gaúcha. A indústria perdera 4,8%, os serviços 0,50% e a agropecuária 15,2%. Obviamente que o Piratini e os membros do co-governo atribuem o problema à seca e a taxa de câmbio. Conforme dissemos em artigo anterior, estão mandando a conta para São Pedro, com recibo e tudo.
A verdade é que o Rio Grande do Sul estagnou e não por culpa dos céus. Curioso é que o Banrisul, banco público do estado, bate recordes atrás de recordes de lucro líquido. No último balanço lançado, o de 2005, o líquido fora de R$ 351,9 milhões. Em função destes números, fica a pergunta: porque a economia gaúcha não se alavanca através dos créditos dessa instituição? Prontamente, os “especialistas” locais atribuem o problema ao repasse que o banco faz ao governo, e o posterior desaparecimento destes recursos ao pagar as contas da máquina pública e na atualização da dívida do estado.
Reconhecemos que isto é verdade, mas em parte. O que os “especialistas” não dizem nem lembram, é o fato do Banrisul, por exemplo, financiar reformas em rodovias privatizadas, já entregues para a administração de concessionárias. Tampouco recordam que, também em 2005, o Grupo Gerdau, orgulhosamente chamado de “multinacional gaúcha”, recebera quase 1 milhão de reais do governo do estado através do Programa Fundopem. Detalhe, neste mesmo ano, o grupo fechou seu balanço com um lucro líquido de R$ 3,254 bilhões.
Voltando ao governador Germano Rigotto e sua “terceira via”, para ser candidato, terá de passar por Garotinho e as possíveis “novas regras” para o cálculo das prévias do PMDB.
Caso consiga, não se pode desprezá-lo como “produto político midiático”. Se as campanhas fossem baseadas em programas de governo, contrapondo resultados comparativos de gestão pública, seus resultados seriam indefensáveis. Mas, como sabemos todos, as regras são outras. A sociedade real é um “produto” de segundo escalão numa campanha para presidente.
Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat