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A dimensão estratégica internacional do “golpe” branco sendo aplicado no Brasil


Desestabilizar um rival em potencial é a regra para manutenção da hegemonia dos EUA na América Latina e, por tabela, diminuir a capacidade de articulação de China, Rússia e Índia.

23 de abril de 2016, Bruno Lima Rocha

Ao contrário dos argumentos baseados no senso comum, o processo brasileiro de impeachment da presidente Dilma Rousseff, e sua caracterização como um golpe institucional, não formam um fenômeno político essencialmente nacional ou doméstico. Como todas as mudanças de regime ou desestabilizações regionais na América Latina, há uma presença constante, direta ou indireta, de forças oficiais ou oficiosas dos Estados Unidos da América. O senso de humor político aplicado para os momentos mais trágicos nos faz lembrar que: “o risco de golpe de Estado é menor em território soberano dos Estados Unidos porque lá não tem embaixada dos EUA!”.

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Para além das teorias conspiratórias, há evidências de sobra e suporte teórico e empírico para auxiliar nesta interpretação da existência de forças externas na atuação da nova direita em solo brasileiro e, consequentemente, para operar no acionar do impeachment ou golpe em andamento. Mesmo que, supostamente, não houvesse sequer a evidência já comprovada de financiamentos da Fundação dos Irmãos Koch — conhecido como o “maior partido político semissecreto do mundo” — e de entidades afins, como a Rede Atlas e sua “escola de líderes”, já teríamos abundante material de estudos estratégicos demonstrando o interesse e projeção de poder vindos dos EUA para atuar sobre e dentro do Brasil. Há evidência e quem tiver curiosidade em saber quais são as instituições “parceiras” da Rede Atlas no Brasil, acesse esta página disponível no link http://bit.ly/1W3ChfA.

Existem termos e conceitos-operacionais concomitantes para definir uma atitude hostil de um Estado, ou ao menos de um Estado-maior conspirativo, para com outra soberania na forma de um país independente. As guerras convencionais no Continente são cada vez mais raras, ainda que remanentes. Tivemos o conflito entre Peru e Equador em 1995 e em 1982 a Guerra das Malvinas com a prova cabal que nenhuma força reacionária é anti-imperialista. A vergonhosa rendição da ditadura argentina e o envio de recrutas contra forças profissionais britânicas demonstra a impossibilidade estratégica de confrontar as potências imperiais sem um câmbio profundo de mentalidade. Para a América Latina, o nível de conflito indireto é convencional, sendo sim, a guerra regular, uma exceção.

Desestabilização do país e conceitos de guerra não convencional

O que passa no Brasil desde outubro de 2014, antes denominado de “venezuelização”, corre neste sentido. Nosso país teve um segundo turno quase plebiscitário sendo que, definitivamente, a continuidade do governo Dilma Rousseff foi o oposto do prometido no palanque. Este fator já deu razões suficientes para retirar parte considerável de sua legitimidade frente ao próprio eleitorado. Mas, as operações de tipo “corações e mentes”, a exemplo da “greve dos caminhoneiros” de 2015, culminando com o primeiro dos atos massivos convocados pela nova direita ideológica — mobilizada por lideranças treinadas pelos canais de financiamento da Fundação Koch e da Atlas e retroalimentadas pelos grandes grupos de mídia —, pareciam cumprir um roteiro pré-traçado, a exemplo do desabastecimento que ocorre na Venezuela após a eleição de Maduro ou mesmo a ação de sabotagem econômica sofrida por Salvador Allende a partir do final de 1971.

Tais operações, em baixa escala de violência, refletem literalmente o Manual de Forças Especiais, obedecendo à proposta de política externa do governo de Barack Hussein Obama, com ênfase para o período de Hillary Clinton à frente do Departamento de Estado. O termo hoje empregado, Guerra Não-Convencional (UW na sigla em inglês), obedece à tradição pós Segunda Guerra, como guerra irregular (IW), contra insurrecional, assim como a terminologia mais contemporânea, de Guerra de 4ª Geração ou Guerra Híbrida. Em alguma medida, todos estes conceitos-operacionais — portanto, validados quando postos em prova, sendo que a empiria se dá em sociedades concretas — estão sendo aplicados no Brasil neste momento.

Como diz a teoria e nosso maior especialista civil, o jornalista Pepe Escobar, a Guerra Híbrida começa com uma revolução colorida, com um preparo no psicológico massivo (PsyOp, no termo em inglês), aproveitando as justas demandas da esquerda e extrema-esquerda ocorridas entre março e junho de 2013. O trabalho invisível através da nova direita, somada com as redes neopentecostais associadas com viúvas da ditadura (como na aliança entre Marco Feliciano, o pastor Everaldo e a família Bolsonaro) deixaram o tecido social intermediário se contaminar com antipetismo como sinônimo de, pasmem, antissocialismo. A Operação Lava Jato, cuja obtenção de bases documentais ainda não está totalmente justificada, aponta para formas de “colaboração entre agências amigas”, se não na forma vertical (acordos formais), ao menos de forma horizontal (como demonstrado pelo wikileaks).

Golpear o Brasil é uma necessidade estratégica do Império

Estrategicamente o Brasil é uma potência média, cuja camada superior é colonizada intelectualmente e não tem vocação de poder no Sistema Internacional. Assim, prefere ajudar a sabotar possibilidades de projeção do país através dos arranjos dos BRICS, jogando um papel soberano e independente na nova disputa de tipo Segunda Guerra Fria. A defesa do Pré-Sal, a detenção de tecnologia sensível através de desenvolvimento científico brasileiro — e arranjo empresa-Estado típicas do intento de gerar excedentes de poder, são o alvo permanente do acionar oficial e oficioso do Departamento de Estado e do Comando Sul dos EUA para nosso país.

Independente da posição política doméstica, qualquer analista internacional vai afirmar o mesmo descrito acima. Um país como o Brasil é líder “natural” do Continente e com projeção para o Atlântico Sul. Desestabilizar um rival em potencial é a regra para manutenção da hegemonia dos EUA na América Latina e, por tabela, diminuir a capacidade de articulação de China, Rússia e Índia. No que diz respeito a potenciais transformações estruturais brasileiras, seu efeito seria catalisador em nosso Continente, o que por obviedade contraria os interesses permanentes dos Estados Unidos. Assim, se “aonde for o Brasil irá a América Latina”, se nosso país ficar no mesmo lugar ou entrar em ciclo regressivo, amplia a influência da potência hegemônica em toda a região. Logo, o inverso também é verdadeiro, opondo estrategicamente os objetivos de longo prazo da maioria brasileira diante das projeções do Império sobre nós mesmos.






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