A agenda social e o encurtamento da corda dos subsídios dos bancos estatais são incompatíveis. Já a proposta de racionalidade gerencial vinda dos tucanos pode ser um elemento de impacto diante da conduta patrimonialista - e estrutural - do Estado brasileiro. Como o lulismo governa ancorado na oligarquia, e o partido de governo foi contaminado pelo modus vivendi, a conta a ser paga, como por exemplo na Petrobrás, é sempre bastante alta. Outra conta a ser paga pelo lulismo é a continuidade das prerrogativas do capital financeiro em seus primeiros anos de administração. Palocci é a prova viva disso.
A pauta da corrupção é a marca de quem está na oposição e aponta para o governo de turno. A Petrobrás é o "mensalão" de Dilma. O lulismo de fato é parte do esquemão das oligarquias e só pode contra-atacar se apontar o Metrô de São Paulo, a Cemig, a Sabesp e o Leilão da Telebrás. Mesmo colocando o engavetador geral da república na reta (o inesquecível Geraldo Brindeiro) do período FHC. Sivam, Compra de votos da PEC de 1997, Pasta Rosa, Mensalão Tucano, Metrô de São Paulo, faltou a Operação do Grampo do BNDES. Se o Aécio perder a ironia e passar para a raiva pode ser perder. Paulo Roberto Costa é conta política da Dilma, esta será debitada na urna.
O tema do aeroporto de Cláudio, interior de Minas, é as ações de difícil defesa estão tirando Aécio Neves (Cunha) do sério. A acusa de leviandade e antes da fala final olhou para a plateia ao menos 4 vezes, no mínimo para pedir orientação. Se Dilma traz o tema dos Perrella e seu helicóptero (o que fora flagrado transportando cocaína). A Refinaria de Abreu e Lima é outro pepino tanto para Dilma como para a memória de Eduardo Campos. Levantar essa suspeita é difícil para os novos aliados do PSDB. Nepotismo mineiro e a elevação de nível é o apelo vindo de Aécio. Tática correta. O lulismo está utilizando a estrutura de campanha de José Serra "medo, eu tenho medo". Pode estar funcionando, porque a coordenação de campanha do lulismo aposta nisso.
Violência contra a mulher, tanto pode vir o debate de Dilma em termos de política pública, como na Lei Maria da Penha. A pasta da Secretaria de Políticas para as Mulheres pode ser uma das pastas que não deveriam ter a estatura de ministério. Se apontar o corte deste ministério, o candidato tucano pode se complicar. Aécio tenta virar o tema para a segurança pública, pauta mais ampla. As políticas específicas do lulismo - positivas, embora limitadoras - e complementadas com formas de amparo social não se coadunam com a fala gerencial. Aécio precisa concordar com esta política e dizer que vai melhorá-la. Vai neste sentido, mas compara com os investimentos de segurança pública e saúde. Aécio rebate com o parecer do TCE (precisa ser conferido).
Aécio puxa a pauta das políticas sociais para tentar escapar dos ataques que o PSDB vai cortar o Bolsa Família e os bancos públicos. A pauta de Cuba é realmente um absurdo para qualquer pessoa que não seja leiga em Relações Internacionais. Dilma não deveria ter entrado neste tema, e apenas manter o ataque aos tucanos acusando-os que vão retirar as políticas sociais. O caminho de Dilma na explicação é errado. Bastava dizer que sem os bancos públicos não tem como financiar o emprego direto e as políticas sociais. Aécio reage bem com o reconhecimento do Bolsa Família. O financiamento do porto em Cuba pode ser um ponto para Aécio, devido a ignorância do eleitorado conservador brasileiro. Tentar assegurar a paternidade do Bolsa Família para FHC e Ruth Cardoso é um exagero, mas é um bom golpe de marketing. Dilma deveria atacar mais para faturar em cima da memória dos 8 anos de FHC.
Segurança Pública em Minas é um bom ataque para Dilma, mas sua fala é muito, muito difícil. Fala mal, se enrola na formulação e perde a condição de ataque. A falta de uma Política Nacional de Segurança é uma falha do governo de Dilma, na verdade, desde o primeiro governo de Lula. Na crise da PF Luiz Eduardo Soares perdeu o cargo e deixou a SNSP. Com a confusão na fala de Dilma, o ataque do lulismo se perdeu. Vale ressaltar que Aécio disse que não iria contingenciar verba da segurança pública.
A pauta da educação é ponto para o governo federal, mas a não implantação do piso nacional do magistério - assim como o piso nacional dos policiais - é um flanco aberto pelo lulismo, e poderia ser um trunfo eleitoral. Assim como a renegociação da dívida pública dos estados. Se isto fosse feito, a eleição seria no primeiro turno. As realizações do governo federal na educação deixam flanco aberto para o eleitorado, uma vez que não é de responsabilidade da União o ensino médio e fundamental e a pré-escola. Flexibilizar os currículos seria aplicar o sistema de créditos no ensino médio. Aécio escolheu o tema errado.
Baixa qualidade do serviço público e o tema da meritocracia. O tema tão odiado pelas bases sindicais e que gera a concorrência entre os trabalhadores do serviço público - esse papo chegou aqui no RS e foi devidamente combatido pelo CPERS Sindicato. Dilma rebate atacando a gestão de Aécio Neves, através de condenação. Tenta desviar do tema e usa termos incompreensíveis para o eleitorado ("sofisma"). Se a vida privada entrar em comparação, Dilma leva, mas aí a baixaria fica total na campanha.
Meritocracia de novo. Entre uma keynesiana tardia e um neoliberal a base sindical sempre perde. Dilma ataca com a defesa da pré-escola e os repasses do Fundeb. Os números das políticas sociais poderiam ser mais amplas, mas os 11 pontos da Selic nunca permitem. Dilma agora ataca com o medo do desemprego, se a memória do período FHC vier à tona é ponto para o lulismo. Esta parte é positiva para o lulismo. Impressiona, a tática de Serra foi incorporada pela coordenação de campanha. O tema da credibilidade é para atrair investimentos e liberar os bancos do Estado para as garantias mínimas do Estado liberal. Este argumento é facil de ser rebatido. "Fabulando" é "inventar mentira", bom argumento. Aécio deixou o flanco aberto com o desemprego. O pleno emprego do Brasil é de dois salários mesmo. Se Dilma entra em contato com esta base e esta realidade, ponto e gol. A qualidade do emprego não tem relação com o investimento no Brasil, até porque o investimento direto não entra assim pela base da credibilidade. Aécio termina bem este bloco, ao menos na performance.
No último bloco, as considerações finais, Aécio começa. Seu poder de fala é impressionante, supera o de Dilma com larga vantagem. Chama para o Centro da política, lembrando o leque de alianças de Lula para o 2o turno de 2002. Faz a homenagem a Eduardo Campos através da viúva Renata Campos, e adula Marina pelo compromisso da ex-petista empregado com o tucano. A fala do medo da divisão social é típica e tem apelo emocional; clama pela racionalidade gerencial e completa bem sua fala. A claque aplaude. Dilma encerra em tom mais sóbrio, não tem como se empolgar porque se perde no meio do discurso. Aponta para a experiência e as realizações sociais, duvida do compromisso de Aécio (ponto), chama pelo apoio político, a presença do Brasil no cenário internacional e vai marcando meio ponto por item, até porque se perde na fala. Aécio encerra melhor (na performance). Final truncado de Dilma, em conteúdo sai vitoriosa, em performance e desempenho diante da tela, o tucano levou vantagem. Paro por aqui, boa noite.