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A tragédia Grega da traição de Tsipras em dois níveis de análise


Alexis Tsipras é só mais um na longa fila de quase líderes a ceder diante ao inimigo diante da possibilidade real de vitória do povo.

17 de julho de 2015, Bruno Lima Rocha.

"Caso a Grécia tivesse mantido de pé o resultado do referendo de 5 de julho, haveria a condição concreta de subordinar as vontades dos delinqüentes financeiros diante da força democrática, através de consulta direta. Agora, as chances de vitória da longa rebelião grega estão mais distantes", afirma Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de relações internacionais.

Eis o artigo. 

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Introdução e crítica a dois analistas brasileiros

Na noite de 15 de julho de 2015, o Primeiro Ministro grego Alexis Tsipras leva à votação um pacote de medidas negociadas (impostas na verdade) com a Troika europeia. A contradição desta consulta parlamentar é o fato de que tal pacote é justamente o mesmo – ou quase o mesmo, pois em alguns aspectos é ainda pior – que fora rejeitado pela população em um referendo ocorrido no domingo 5 de julho. Oxi (Não) em grego foi a decisão de 61% dos votantes. Agora, pesquisas alegam que mais de 70% dos gregos seria a favor da postura de Tsipras. Isso é altamente discutível, porque pesquisas de opinião não podem ser mais legítimas do que mecanismos de consulta direta. Citando novamente o excelente portal Auditoria Cidadã da Dívida e diretamente a auditora Maria Lúcia Fatorelli, caso tal dívida fosse revelada suas origens provocaria revolução nas finanças mundiais. Tal dívida “tem origens ilegais e ilegítimas”. Concordo e reforço a tese, compreendendo entendo que tal dívida é impagável (como fora dito pelos economistas Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Thomas Piketty) e odiosa (como é o conceito para uma dívida a ser auditada).

Vale observar e discordar com dois respeitáveis reformistas. O editor do portal Opera Mundi, Breno Altman afirma que: “Mas o primeiro-ministro grego, para o bem ou para o mal, deve mesmo preferir, nestes dias decisivos, a lembrança daquela cidadezinha outrora polonesa, na qual a delegação bolchevique entregou todos os anéis e muitos dedos para sua revolução continuar engatinhando e respirando.” Altman realiza uma duvidosa comparação de Tsipras com Lênin quando do tratado de acordo e rendição de Brest-Litovsk, quando a Rússia trava um acordo com a Alemanha e assim poderia, segundo o próprio, devotar-se ao conflito interno. Lênin teria indo contra a posição da maioria do Comitê Central do Partido Bolchevique, tal e qual Tsipras que não seguiu a postura do Comitê Executivo da coalizão Syriza. Sinceramente, Altman se equivoca ao afirmar que a sabedoria de um líder provisório pode estar acima da vontade coletiva de delegados eleitos. Assim não há formação partidária que resista e perde-se toda e qualquer confiança nas novas instituições políticas, teoricamente – ao menos no caso do Syriza – marcadas por democracia interna e consulta direta em temas fundamentais.

Já o jornalista, professor de Relações Internacionais e dirigente do PSOL, Gilberto Maringoni, afirma – em entrevista para o portal Opera Mundi, publicada em 10 de julho, que: “Com relação ao referendo realizado no último domingo (05/07), no qual o “não” ao acordo que vinha sendo proposto pela Comissão Europeia venceu com mais de 60%, Maringoni diz que foi “duríssimo" o plebiscito. "Eles tiveram 35% dos votos nas eleições e foram para a decisão [do referendo] contra toda a pressão da Comissão Europeia. Venceram”. E acrescenta que “o plebiscito não era para suspender pagamentos ou coisa que o valha e sim para dar legitimidade interna às negociações”.

Assim, a votação não deu carta branca à Grécia, que segue isolada internacionalmente, diz. "Não houve nenhum movimento no tabuleiro externo [para apoiá-la]. Ao contrário, quem se movimentou e consolidou foi a Comissão Europeia. Isso porque, segundo Maringoni, apesar de apoios pontuais – principalmente vindo dos sul-americanos – nenhum país grande se movimentou.”

Apesar da correta avaliação geopolítica, o tema é outro. A população decidiu por uma medida e não há bola de cristal nem carta branca ao premiê para utilizar a vontade popular e assim corrompê-la em nome do bem comum decidido pelos delinqüentes que levaram a Grécia para tal situação insuportável. Contar com o apoio de operadores financeiros como Mario Draghi e bases partidárias como o PASOK e o Nova Democracia é simplesmente atirar no lixo as possibilidades de toda a nova esquerda reformista européia, como o Podemos da Espanha ou o Partido de Esquerda (Parti de Gauche) da França. Mesmo não concordando com a via eleitoral, entendo que a mesma catalisa – equivocadamente – a vontade da maioria e a inverte, diante de poderes que não são nem visíveis em menos ainda legítimos.

Por vezes, a análise do realismo internacional traz a cegueira das possibilidades políticas em qualquer ambiente interno. Em outras palavras, em nome da “responsabilidade” se justificam as maiores traições, terminando por reforçar as teses do ceticismo e da política como forma de controle popular sob a aparência democrática.

Análise da conjuntura imediata no cenário interno

As medidas vindas da Troika são impagáveis segundo o próprio FMI; para poder mover novamente a sociedade grega dentro de uma economia capitalista na Eurozona, seria necessário forçar a negociação com o FMI ao menos e abater mais de 2/3 da própria dívida, auditando a mesma. Na votação do Parlamento grego, na noite de 4ª, 15 de julho, dos 300 votos possíveis, o premiê Alexis Tsipras teve 229 votos a favor. Da base parlamentar de seu gabinete, dos 129 possíveis votantes, 32 votaram contra, 6 se abstiveram e um não compareceu. Acertadamente, o Partido Stalinista (KKE, hoje o maior partido comunista da Europa), votou contra e convoca sua base sindical, o PAME, para fazer o possível contra a medida. Nas ruas, também acertadamente, as agrupações anarquistas cataliza a revolta grega e coordena a rebelião contra a traição de Tsipras e companhia.

Dos líderes conhecidos desta formação de esquerda eleitoral, o ex-ministro da Economia (Yanis Varoufakis), a presidente do Parlamento (Zoe Konstantoupoulo), o vice-ministro da Defesa (Kostas Isijos), o ministro da Energia e do Meio Ambiente (Panayotis Lafazanis) e o vice-ministro da Seguridade Social (Dimitris Stratoulis) votaram contra.

Os efeitos na nova esquerda reformista europeia foram imediatos. Na Espanha, a estrela eleitoral, o Podemos, se manifesta a favor das medidas do Syriza, ou ao menos da maioria do Syriza e sob a liderança de Tsipras. O problema é que os votos da oposição que aprovaram o acordo são justamente originários dos grandes responsáveis pela crise grega. Os representantes da direita pós-ditadura (Nova Democracia, oriunda ainda da guerra civil grega) e da social-democracia (o Pasok, equivalente ao PSOE espanhol) votaram a favor e devem recompor a nova formação de gabinete de Tsipras. Assim, é possível interpretar que o golpe parlamentar, atentando contra o respeito à decisão do referendo de domingo 5 de julho, vai ter o custo político de descrença na saída eleitoral e reforçando - novamente - tanto os stalinistas como a extrema-direita (Aurora Dourada, Golden Dawn), ambos partidos com representação parlamentar, tendem à uma razoável ascensão.

A contra parte do acordo é o reforço da cultura política grega da violência de massas. Existe uma considerável capacidade de mobilização do tecido social grego, sendo que as agrupações anarquistas chegam a colocar até 200 mil pessoas nas ruas de Atenas, gente esta disposta a tudo no nível do conflito de massas. Obviamente, a energia vinda do Syriza como coalizão de forças à esquerda do KKE e já comprovadamente capitulante, vai se diluir, aumentando o ceticismo popular.

Prognóstico de conjuntura no curto prazo

A lógica da dureza das relações de poder nos diz que, no curto prazo, haverá um reforço do aparelho repressivo do Estado, incluindo fundos especiais da Europol, garantindo que não vai escassear o estoque de gás lacrimogêneo, como ocorrera na rebelião iniciada em dezembro de 2008, sendo que a repressão grega fora abastecida pelos excedentes do Estado de Israel. No Parlamento a nova maioria contará com a força renovada do Syriza, quando em nome da "responsabilidade", Tsipras passa por cima de seu próprio programa e forma com os inimigos de classe responsáveis pela crise que ao contestá-la, assim foi eleito.

Na base sindical, o PAME - frente sindical vinculada ao Partido Comunista e a Renovação Comunista e mais à esquerda, a Iniciativa Rocinante (Anarco-sindicalista) tentam organizar o possível da base social vinculada ao mundo do trabalho. Segundo os relatos da Rocinante, o cinismo opera como base de negociação. Em discursos oficiais, membros do governo Tsipras citam Althusser e cantam Bella Ciao, enquanto nas ruas, declaram Estado de Emergência ao redor da Praça Syntagma (Praça da Constituição) bem na frente do Parlamento Grego. O futuro imediato não é difícil de antever.

Socialmente o dia a dia se revelará mais acirrado e com escassez. Ainda bem que o caldo de cultura política na Grécia não é passivo ou desarticulado, como é o caso dos demais países do sul da Europa. Infelizmente a grande oportunidade passou. Caso a Grécia tivesse mantido de pé o resultado do referendo de 5 de julho, haveria a condição concreta de subordinar as vontades dos delinqüentes financeiros diante da força democrática, através de consulta direta. Agora, as chances de vitória da longa rebelião grega estão mais distantes.

No momento mais necessário para a unificação das forças por esquerda, a posição irredutível dos mais convictos ajudou na capitulação dos neófitos e vacilantes. Alexis Tsipras é só mais um na longa fila de quase líderes a ceder diante ao inimigo diante da possibilidade real de vitória do povo. Não há nenhuma justificativa de pragmatismo político ou real politik nem qualquer desculpa de tipo macro para justificar o abandono da vontade popular convocada por ele próprio.






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