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Política de massas e o enigma da reeleição


Greve de 1600 operários da Saab-Scania, em São Bernardo, SP, 12/05/1978

30 de julho de 2014, Bruno Lima Rocha

A possível reeleição tornou-se uma dúvida concreta. Qualquer analista político deve se perguntar: - Como é possível incluir mais de 44 milhões de brasileiros ao mundo do consumo e dos direitos fundamentais, garantir o quase pleno emprego direto por uma década e ainda assim amargar um possível segundo turno apertado?

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Antes que algum desavisado imagine tratar-se de agouro, ou torcida pelo lulismo, asseguro que não é nada disso. Presumo que Dilma venha a ser reeleita embora corra um risco real desta vez.

Isto se dá, na minha hipótese, por não haver acumulação ideológica de massas entre as realizações de governo na área do emprego e renda e os beneficiados diretos destas.

Nos últimos dez anos, observa-se a progressiva desorganização do tecido social. Aumenta a fragmentação, ninguém se entende mais no movimento sindical e os setores organizados perdem a capacidade de se articular. Quem tem caixa não tem base e vive das relações umbilicais com o governo.

Os movimentos sociais ainda com base mobilizável terminam jogando na defensiva, encurralados pelo peso do agronegócio na balança comercial ou a aliança do Planalto com as grandes empreiteiras.

As referências acumuladas desde as lutas operárias do ABC foram pelo ralo em nome da tal da governabilidade. Tudo parecia valer a pena, porque para Luiz Inácio e sua trupe, o Poder Executivo implica em transformar a vida de milhões de brasileiros. E para isso, quase tudo vale a pena.

O descompasso se nota naquilo que na Argentina denominam “massas em disponibilidade”. No país vizinho, quem conquista o imaginário do peronismo e tem parte da máquina justicialista, tem chance de chegar à Casa Rosada. O custo é dividir uma boa parte da renda nacional, ou ao menos mentir tão bem a ponto de convencer os eleitores de que não serão completamente traídos.

Aqui, o trabalhismo nunca foi tão militante e sua versão contemporânea, o lulismo, faz o vínculo pela imagem e não através da política. Aposta no carisma e não na organização social. Logo, joga na cancha do adversário, não conseguindo sequer fidelizar o voto a ponto de formar uma reserva eleitoral. Não foi por falta de aviso e tampouco por inocência política.

Desmontar o movimento popular brasileiro a partir de sua referência eleitoral foi escolha dos dirigentes que hoje coabitam as dependências do sistema penal. Agora precisam de campanha bilionária e tempo de TV barganhado com a base “aliada”. A reeleição que teria no mínimo uma margem de 30 milhões de votos virou um enigma.

Artigo originalmente publicado no blog do Ricardo Noblat.






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