O Estado brasileiro sempre foi muito hábil em sua diplomacia. O famoso ou famigerado Barão do Rio Branco, segundo o ponto de vista, conseguiu a proeza de delimitar a fronteira entre os dois países sem o acesso ao rio, portanto, sem o acesso ao mar. A Bolívia como Estado foi prá lá de castigado, espoliado por vários Estados vizinhos, dentre eles o nosso. Imitando aos EUA, criamos o Acre. Assim como o coronel Sam Houston comandou a “república” texana que veio a anexar-se ao destino manifesto de Washington, o Acre de Galvez anexou-se ao Brasil recém republicano.
No auge da crise boliviana anterior a vitória eleitoral de Moral, o comitê cívico cruceño, figura jurídica da oligarquia local, entrou em pé de guerra contra a Constituinte nacionalizante. Manobras mil vieram sucessivamente, dentre elas a ameaça de secessão ou aumento da autonomia da província. Historicamente, esta região do país mais empobrecido da América do Sul, tem em sua elite uma forte aliada dos capitais externos. Dentre eles, os capitais do Brasil, sejam estatais ou não.
A projeção do Estado brasileiro tem de optar por sua parceria estratégica dentro da Bolívia. Se escolher os Cambas, o passo “natural” é trabalhar urgentemente por um clima de comoção política e reconstrução de um sistema partidário favorável ao sub-imperialismo brasileiro. Caso escolha a administração de Morales, terá de matar no peito o investimento da Petrobrás e pensar os quase US$ 4 bi de dólares como fundo perdido para a projeção regional do Estado nacional.
Qual é a geopolítica do governo Lula? Agora, está dado o momento de se por à prova e tentar executar o fantasma do Barão do Rio Branco. O problema, um dos, é a incorporação tipo cavalo de terreiro, reiteradamente repetida na forma de fazer política do gaúcho campineiro Marco Aurélio Garcia. Entre os gritos do ex-ministro Ricupero, aquele mesmo pego no flagrante junto ao “repórter” da Globo Carlos Monforte, auto-confesso de fazer campanha enquanto difundia o Plano Real, e a falta de decisão de um ex-metalúrgico em campanha, o staff de Brasília preocupa-se mais com a reeleição do que com a estratégia do país. Um pouco mais e os fazendeiros de Santa Cruz irão clamar pelo Império de Orleans Bragança outra vez.