29 de janeiro de 2014, Bruno Lima Rocha
Nos dias 22 e 23 de janeiro, tive a oportunidade de realizar duas palestras-debate em universidades sediadas em Washington D.C. (EUA). Na Georgetown University e George Washington University, estudantes brasileiros lá radicados, colegas professores e pesquisadores visitantes, além de brasilianistas e estudiosos de temas afins em relações internacionais, debateram comigo as possibilidades da reeleição de Dilma, e por suposto, as partes mais vulneráveis desta continuidade.
Dois aspectos foram ressaltados; o primeiro aborda a possível escalada de violência e repressão sistemática aos protestos de rua e o consequente aproveitamento oportunista da “nova” oposição caracterizada pela candidatura Eduardo Campos e Marina Silva.
O segundo é a parcial deterioração macro-econômica, reforçada pelo que o Planalto denomina de Guerra Psicológica no tema. Neste artigo e no próximo abordo estas fragilidades, iniciando pelos protestos.
Pelo visto, o ano já começou. Na 5ª, 23 de janeiro, Porto Alegre viu a retomada dos protestos sociais contra o aumento das passagens e os gastos com a Copa do Mundo. Reunindo cerca de 2 mil pessoas, o ato foi relevante, aproveitando também a presença de delegações presentes para o Fórum Social Temático.
Nos três dias seguintes, foi realizado o 2º Encontro dos de Baixo. Trata-se de uma instância político-social que reforça a aliança para a realização destas lutas. A mesma composição de movimentos sociais, partidos de esquerda e agrupações libertárias organizou o protesto de São Paulo, em 25 de janeiro, quando o nível de violência e repressão excedeu a intensidade do final de 2013. O pavio está aceso.
A soma dos protestos legítimos e a intensidade nos conflitos podem gerar para o governo central um jogo de perde-perde. Caso reprima, perde por intolerância, dando preferência para a realização da Lei Geral da Copa e os acordos impostos pela FIFA. Se não o fizer, deixa o flanco desguarnecido para a acusação de ser irresponsável e tolerante com os acusados de “vandalismo”.
Em ambas as situações, a dupla do PSB pode pegar carona, desde que Marina seja a porta-voz das críticas. O governador do violento estado de Pernambuco tem o telhado de vidro no tema da segurança pública.
Dilma corre pouco risco de que a pauta incida na campanha, a não ser que ocorra uma comoção a exemplo do Massacre de Tlatelolco (México, 1968). De qualquer maneira, já vem pagando pela ausência de uma política nacional de transporte público que materialize o Estatuto da Cidade.
Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat.