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ISSN 0033-1983
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Belo Monte e o modelo de desenvolvimento
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O mapa da ilustração demonstra como o Rio Xingu, o Parque Nacional e as respectivas áreas dos povos originários serão afetados com a Usina financiada basicamente pelos recursos da União.
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26 de dezembro de 2013, Bruno Lima Rocha
Muito já se escreveu sobre os conflitos em torno da Usina de Belo Monte. Pessoalmente, considero esta obra no Pará, assim como Jirau, em Rondônia, como a síntese do modelo de desenvolvimento aplicado neste país nos últimos dez anos. Para cumprir a meta de melhorar a infra-estrutura e oferta de energia, se privatizam portos, aeroportos, rodovias e campos de petróleo. Em paralelo, o Estado financia toda obra considerada estratégica. É preciso reconhecer que qualquer desenvolvimento é melhor do que nenhum, e neste sentido, a última década proporcionou uma melhoria de vida para os brasileiros – em termos materiais – infinitamente superior ao período áureo do neoliberalismo e do alinhamento automático com o Consenso de Washington. Por outro lado, estamos mais próximos do modelo chinês do que nunca.
enviar imprimir Belo Monte é comparável a Três Gargantas, a maior hidrelétrica do planeta, construída a partir da gigantesca barragem no Rio Yang-Tsé, cujo delta concentra 20% do PIB da economia que mais cresce no planeta. A diferença entre as obras foi o nível de resistência externado. As gargantas do Rio Yang-Tsé são comparáveis com a Volta Grande do Rio Xingu, cujo desvio é o cerne da mudança de padrão de vida de povos ribeirinhos e originários. Como a república de Deng Xiaoping coaduna capitalismo selvagem com ditadura de partido único terceirizada para os dirigentes provinciais, lá a contestação é mais difícil. Já no Brasil atual, o governo pós-reformista admite toda a gritaria possível, desde que não altere nada de seus planos originais.
Munidos de razão de Estado, antes Lula e agora Dilma, utilizam do arsenal de financiamento direto – via BNDES – e indireto - através de fundos de pensões onde o Poder Executivo tem hegemonia na influência dos votos de conselhos administrativos, para jorrar o caixa deste empreendimento e similares. A obra cujo lago vai represar parte significativa do Rio Xingu terá um custo total estimado de R$ 29 bilhões (cerca da metade da usina chinesa já citada), sendo que o empenho até a inauguração em dezembro de 2014 será de R$ 20 bi. Ou seja, vale o bordão de que quando o tema é considerado estratégico, os recursos aparecem, ou para esta função são destinados.
Infelizmente não se trata de novidade. A lógica do desenvolvimento das forças e capacidades produtivas nunca levou em conta as vontades específicas das coletividades humanas. Para o modelo aqui implantado, os povos da floresta são considerados - no máximo - como sendo parte do dano colateral.
Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat
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