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Outra Política: a produção audiovisual no município – 2


Neste cartaz do Coletivo Caifazes, publicado no blog do cinequebrada, dá para ver como é relativamente simples fazer um cineclube e atuar nas beiradas do circuitão. Passar de um esforço pontual para algo sistêmico é um esforço de política pública.

Coluna quinzenal publicada no portal da TV Tribuna, Baixada Santista (SP)

Retorno a este portal dando seqüência e concluindo o tema proposto de como gerar, produzir e distribuir o audiovisual de baixo custo a partir dos municípios. No texto que segue, me atenho ao tema do apoio e suporte a roteiros e edição. Para ser preciso no argumento, deixo a capacidade de distribuição do conjunto da obra para o último texto da trilogia.

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Antes que nada o artigo parte de uma premissa. De que, por mais criatividade que tenha um autor independente, temos nossas mentalidades mediatizadas. Ou seja, a livre criação no audiovisual será tão ou mais repetitiva do padrão da mídia comercial do que uma formação um pouco mais erudita. É neste quesito que entra a importância do apoio aos roteiros.

O Brasil vive a ressaca da expansão descontrolada das faculdades privadas surgida na década de ’90. Infelizmente, o mercado de trabalho formal não consegue absorver uma leva de dimensões absurdas de jovens trabalhadores em comunicação que são formados todos os anos. Quanto menor a economia de um município ou região, mais heróica é a função de fazer mídia. Mídia de qualidade então, com algum grau de independência editorial e sem ser escravo dos anunciantes, é algo ainda mais difícil.

Portanto, em qualquer região do país, por mais triste que seja esta constatação, teremos profissionais de mídia ociosos. É certo, não abundam nem sobram egressos das escolas de cinema, mas a abundância resulta enorme em outras áreas de comunicação. Assim, seria uma forma de tirar do ostracismo e projetar o potencial criador destes profissionais atribuindo-lhes uma tarefa.

Imaginem que em cada escola municipal, sendo uma média de 60 colégios por cada 200 mil habitantes (padrão da cidade onde moro), haveria um profissional formado em uma área da comunicação. Sendo amplo e não corporativo, este ou esta pessoa poderia ser graduada em relações públicas, jornalismo, publicidade, radialismo (de nível superior), estudos críticos da mídia e cinema. Todo o processo seria coordenado por um grupo composto de cinco pessoas com diploma em cinema ou realização audiovisual. Desta forma se ocupam as mentes formadas pelo esforço brasileiro e que na maioria das vezes estão sendo pouco aproveitadas. A coordenação dos processos de roteiro e finalização caberia aos profissionais da área, cinema e realização audiovisual, tanto para respeitar a divisão de tarefas e áreas do mercado de trabalho, como para a ajudar na edição e finalização dos curtas.

Em termos de remuneração, tampouco o esforço é difícil. Projetos como “escola aberta”, costumam remunerar com ¼ de salário mínimo por mês referente ao trabalho de 4 horas por um dia de fim de semana. Supondo que o trabalho do festival dure em torno de três meses, trata-se assim de 12 sábados. Estes dias, multiplicados por 4 horas dariam um total de 48 horas de oficinas de produção audiovisual. Isto porque o processo de produção não implicaria sair direto para roteirizar e filmar, mas passaria por uma formação mínima em cultura cinematográfica e de educação para a mídia.

O conteúdo pedagógico seria o papel da equipe de coordenação dos projetos de roteiro do festival, que se encarregariam de montar uma filmografia brasileira e latino-americana, além do debates guiados. Na prática, um festival dessa ordem seria um incentivo para ampliar o conhecimento dos munícipes em relação ao patrimônio audiovisual de sua região, nacional e da América Latina.

O custo do trabalho dos oficineiros, calculando a base de 60 escolas municipais a cada 200 mil habitantes, pelo valor total de R$ 7.200,00 por mês, ou R$ 21.600,00 ao cabo do trimestre de atividades. Trata-se de uma bagatela para o valor que agrega à cidade. Imaginemos que um grupo de produção tenha, obrigatoriamente, de contar com ao menos 5 membros. E que, por cada escola – centro de produção, formação e edição – existam pelo menos 5 grupos. Assim, teríamos a conta de 25 pessoas para cada oficineiro. Na base de cálculo acima esta cidade teria iniciados na cultura cinematográfica a no mínimo, 1500 cidadãos. Em termos financeiros é um valor irrisório. Como patrimônio cultural de uma localidade, estas pessoas são um público alvo, críticos e possíveis consumidores de mídia local e regional.

Já a equipe coordenadora, igualmente trabalhando com valores modestos, poderia receber na base de três salários mínimos, livres de custos como deslocamento e alimentação, referentes a três dias de trabalho por semana. Por esta conta, a coordenação do projeto teria o “custo” de R$ 6.500,00 por mês ou R$ 19.500,00 ao final do trimestre.

O total com mão de obra já teria incluídos aos finalizadores, os mesmos coordenadores de projeto. Assim, para iniciar a 1500 cidadãos, realizar 300 curtas e difundir o nome do município por todo o país, os custos com mão de obra envolvida na produção audiovisual sairiam por R$ 41.100,00. Isto dá, por cidadão envolvido no festival, o valor de R$ 27,40! Já por curta gravado em formato digital, a mão de obra sai por: R$ 137,00!

Suponhamos que seja feito um estojo com jogos de curtas, três DVDs, com 100 curtas em cada um deles. O exemplar, bem finalizado, teria um custo de produção de R$ 5,00 sendo vendidos pelo valor de R$ 10,00 cada. O pacote de todas as realizações em DVD seria vendido pelo valor total de R$ 30,00, e os realizadores abririam mão dos direitos autorais já em contrato, sendo que o ganho com a venda serviria para cobrir os gastos e se houvesse sobra, entraria para o investimento do mesmo festival no ano seguinte. Com a venda de 1370 exemplares do pacote com os três DVDs, estaria coberta toda a mão de obra. Ouso dizer que caso sejam vendidos 2000 estojos com o conjunto dos curtas, conseguindo o valor de R$ 60.000,00 e todo o investimento no festival, incluindo o material de divulgação, as estruturas físicas, e o transporte e estadia do júri estariam cobertos.

A exceção do valor incluído é a compra dos projetores, fator esse que havia afirmado antes que deve ser visto como investimento e não custo. Isto porque o festival é um mote, já a exibição regular de filmografia regional, brasileira e latino-americana é a atividade permanente.

Reconheço que o gargalo da viabilidade imediata é a distribuição e sobre este fator nos debruçaremos na próxima quinzena. Mas, ainda que uma atividade como esta não seja superavitária num primeiro momento, no largo prazo ela é viável, tanto financeiramente como para a cidadania.

O valor agregado com a cultura geral de um cidadão é incalculável. O brasileiro não tem nem preguiça de ler e tampouco se contenta “naturalmente” com a mediocridade dos enlatados. O que falta é o habito incorporado ao consumo de bens culturais mais sofisticados, aqueles que falam de nós mesmos e ampliam horizontes. Qualquer administração municipal que tenha um mínimo de inteligência aplicada no bem comum ficará atenta para idéias de baixo custo e grande impacto.

Infelizmente, os dados de realidade me contradizem. Ou seja, poucas são as prefeituras que vêem a cultura de sua população como um valor. Digo mais, para o mau político, a ignorância e a banalidade estética são benefícios. Cabe aos que se indignam e tem boas idéias virar este jogo!

Este artigo foi originalmente publicado no portal da TV Tribuna – Baixada Santista






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