Os 60% de brasileiros que vivem fora do estado de São Paulo nem precisam conhecer a metrópole paulista para serem íntimos de suas desgraças cotidianas. Através da televisão, o país assiste os absurdos do caos urbano e do desgoverno diariamente. Na ponta de lá da alça de mira das câmaras de TV, sempre aparecem marginais de baixa captação financeira embora de alta periculosidade. Esta mesma agressividade, produzindo a todo vapor a fábrica de escândalos, não se vê repetida quando o problema é de falta de governo.
Durante a tarde de 6ª, o helicóptero da TV Record, empresa pioneira da televisão brasileira e há mais de 10 anos sob controle direto do grupo empresarial do Bispo Macedo, emprestou pavor e desinformação para milhões de brasileiros. Enquanto o locutor urrava como se a cada desabamento fosse um gol no Pacaembu, as obras da Linha 4 do Metrô de São Paulo desabavam. Não havia um repórter pressionando o prefeito Cassab, o secretário municipal de obras, ou o governador José Serra, ou secretário estadual de obras (da atual e da administração) da alta gerencia do Metrô SP e menos ainda o Consórcio Via Amarela, pool de empreiteiras que fez a obra.
Indo além da crítica jornalística, a cobertura televisiva vende a emoção superficial como mercadoria e evita contrapor a desordem como desgoverno. Há que se admitir a impossibilidade de administrar uma metrópole. Portanto, uma outra saída institucional deveria ser buscada. Além disso, responsabilizar as “autoridades” que autorizaram semelhante estupidez.
Ah, detalhe, os valores do seguro das obras daquela seção do Consórcio Via Amarela ultrapassam os R$ 1 bilhão e 300 milhões. Quem pagará por isso?