A operação que resultou na prisão do magnata da noite de São Paulo, o psicólogo Oscar Maroni traz à tona um tema delicado e muitas vezes olvidado. Refiro às coberturas exclusivas, pré-acertadas entre um órgão de Estado e uma empresa de comunicação social. Desta vez, o acerto foi entre a Rede Globo e o Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Noutras tantas vezes, a Diretoria de Comunicação Social (DCS) da elite da força policial brasileira, a Polícia Federal, tratara de gerar fatos exclusivos com a mesma emissora líder de audiência. Não bastasse a promiscuidade entre as contas públicas, as verbas de Publicidade e Propaganda da Secretaria de Imprensa e Comunicação (Secom) e dos governos estaduais para com as emissoras lideres nacionais e regionais, não fosse o suficiente a farra do BNDES no socorro de 2003 e agora “acenando” com uma enxurrada de empréstimos a muito longo prazo para a conversão digital, acatando o padrão NEC japonês – indicação da Globo – para a TV Digital, passamos ao cúmulo de que a cobertura das operações policias passa por uma amaciada assessoria e acerto prévio.
O jagunço Assis Chateaubriand vendia a cobertura eleitoral com exclusivas de gênios da polêmica como David Nasser, dentre outros da era de ouro da pena política tupiniquim. O que os sábios dos estudos culturais se negam a compreender, é que a correlação promíscua entre mídia e Estado é tão antiga quanto à própria imprensa. E, neste sentido, tão brasileira como a feijoada ou o genocídio.
Surpreende a passividade dos outros grupos de mídia perante tamanha relação privilegiada. Não que sejam santos estes conglomerados, mas entre o Ali Babá e os demais 40 ladrões, existe um diferencial de notoriedade.
Nota originalmente publicada no portal de Claudemir Pereira