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ISSN 0033-1983
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Artigos Para jornais, revistas e outras mídias
As caricaturas de dirigentes históricos
| Folha
O estudante José Dirceu durante manifestação na região central de São Paulo em 1968.
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04 de outubro de 2012, Bruno Lima Rocha
Quando o ex-ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff, o médico sanitarista Antônio Palocci consumou sua queda do cargo, escrevi nesta publicação um artigo onde caracterizava o próprio, assim como outros dirigentes históricos do mesmo partido, de grotescas caricaturas de si mesmos.
O mês de outubro retoma drama semelhante em cenário diferente. José Dirceu de Oliveira e Silva e José Genoino Guimarães Neto são militantes históricos da esquerda brasileira. enviar imprimir Ambos são réus no Supremo em função de um suposto esquema de compra de votos para formar maioria parlamentar e assim dar base de sustentação a um governo de centro-esquerda, cujo presidente é um líder carismático com ampla aprovação popular.
Ou seja, embora fosse mais difícil, seria perfeitamente possível governar por outra via, não se aliando com as oligarquias de sempre. Dirceu, Genoino e Lula tinham trajetórias respeitáveis, e transformaram suas reputações em capital político a favor da coalizão.
Minha tese é relativamente simples e a crítica está mais à esquerda do que o senso comum. Entendo que a política, realizada em defesa dos interesses das maiorias, é executada sobre uma delicada equação. Esta tende a equilibrar realizações viáveis e um projeto de acumulação de forças, onde o poder se constrói sobre identidade ideológica, pontos de doutrina, objetivos programáticos e movimentos táticos.
Quando um partido começa a abrir mão deste equilíbrio, caímos no vale tudo típico das carreiras políticas tupiniquins. Quando no ano passado caracterizei estes dirigentes históricos como caricaturas do que teriam sido, tomei-os como espelho de toda uma geração militante.
Podemos até conjecturar que o suposto Mensalão nunca existiu (o que duvido), mas não se pode negar o modus operandi da tal da governabilidade. Este foi (e é feito) ao estilo do impagável Severino Cavalcanti (PP-PE).
Como analista, não é possível retirar as responsabilidades de José Genoíno, José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e demais correligionários como líderes políticos e dirigentes partidários. Tampouco é correto demonizar apenas estes operadores. Eles não agiam sozinhos e eram (e são) legítimos dirigentes do maior partido de “esquerda” da América Latina.
É triste admitir, mas o preço do pragmatismo político foi tornarem-se caricaturas de seu passado heróico. Ex-guerrilheiros hoje assemelham seu comportamento com o pior da política brasileira: são réus em casos de corrupção, sendo parecidos com os arenistas de sempre. E para quê?
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat.
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