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A desconfiança política e a crise na Província


O presidente do Banrisul Fernando Lemos, duro na queda, permaneceu nos governos Rigotto e segue com Yeda; agora desvia dos tiro certeiros de Feijó, cuja munição alimenta as baterias de procuradores estaduais ávidos por acordos ou holofotes.

A desconfiança política e a crise na Província

Bruno Lima Rocha

Quarta, 21 de maio de 2008; Vila Setembrina dos Farrapos traídos ao espelho do Mar de Dentro; Continente do Rio Grande de São Sepé e dos rios assoreados; Liga Federal de los Pueblos Charruas, Minuanos y Tapes

Pode parecer enfadonho o tema, mas os efeitos da Operação Rodin continuam lavrando a desconfiança entre as elites políticas no Rio Grande do Sul. Ao contrário de outras crises políticas, esta surgiu de uma longa investigação policial, tendo como alvo pessoas conhecidas na sociedade gaúcha. O fato político foi fruto do levantamento destes dados e não ao contrário. Somente após o estouro do esquema no Detran-RS é que foi instaurada a CPI tratando da gestão do órgão nos últimos sete anos. Na etapa onde se encontra a investigação parlamentar, faltam provas materiais e abundam indícios levando a algumas conclusões lógicas.

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Em se tratando da crise política, os últimos dias foram vertiginosos. Na segunda-feira 12 de maio o ex-secretário de segurança durante o governo Rigotto, José Otávio Germano, foi depor na CPI comandada pelo deputado estadual Fabiano Pereira (PT, base de Santa Maria). José Otávio, deputado federal pelo PP-RS, procura esquivar-se da crise. Isto porque como a investigação é regressiva, o esquema funcionaria durante a sua gestão à frente da então Secretaria da Justiça e da Segurança Pública. Antes da reforma administrativa, o Departamento de Trânsito era vinculado à pasta que este político de Cachoeira do Sul, que também é cartola do Grêmio, comandara. Sua situação se complica porque alguns dos gestores do órgão, por ele indicados, têm relações políticas e pessoais há mais de trinta anos. Para não cairmos em ilações irresponsáveis, é preciso ressaltar que até o presente momento, nem o Ministério Público e nem a Polícia Federal o acusam de nada.

Acompanhando o depoimento na CPI deste experiente parlamentar e militante conservador desde o período da ARENA, podemos concluir que ele, até agora, conseguiu escapar do juízo político. O objetivo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito é justamente buscar fazer o julgamento das responsabilidades políticas do gestor público. Como o modus operandi não mudou, abunda ruído midiático, sobra boataria e carecem as provas materiais.

Voltando ao aspecto jurídico-policial da crise, as evidências foram fruto de investigação prolongada e são documentais. Dois dias após José Otávio depor, na quarta-feira 14 de maio, uma força-tarefa do Ministério Público Federal atuando no Rio Grande do Sul (MPF), denunciou 44 pessoas à Justiça Federal (ver a listagem completa). Para o stablishment da Província de São Pedro, o efeito é traumático. Vale ressaltar alguns nomes e suas relações: Antônio Dorneu Cardoso Maciel (ex-presidente da CEEE), Carlos Ubiratan dos Santos (diretor-presidente do Detran entre 2003 e 2006) e Flávio Vaz Netto (diretor-presidente do Detran quando a operação fora deflagrada) são homens da cúpula do PP no Rio Grande e amigos pessoais de José Otávio Germano; Eduardo Wegner Vargas (filho do presidente do Tribunal de Contas do Estado - TCE - e ex-deputado estadual pelo PDT, João Luiz Vargas); Lair Antonio Ferst (ex-tesoureiro informal da campanha de Yeda e ex-coordenador da bancada do PSDB na Assembléia); Francisco José de Oliveira Fraga (filiado ao PTB e secretário de governo de Canoas); Rubem Höher (ex-secretário da Fazenda de Canoas); Luiz Paulo Rosek Germano (irmão do deputado federal José Otávio Germano); Paulo Jorge Sarkis (ex-reitor da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM); José Antonio Fernandes (sócio da Pensant Consultores e acusado de ser um dos mentores do esquema), dentre outros e outras.

Para completar o caldeirão político, na segunda-feira 19 de maio o ex-secretário de segurança já sob o governo Yeda, Ênio Bacci, depôs por setes horas na CPI. Este advogado e deputado federal pelo PDT (base do Vale do Taquari) era presença permanente no noticiário durante os primeiros cem dias de gestão do co-governo tucano gaúcho. Sua queda, fora motivo de um artigo meu também publicado neste blog, e caracteriza o ambiente do colunismo político da Província. O deputado desfilou um rosário de acusações indiretas, deixando claro que, na sua versão, a governadora recebera dele as denúncias de irregularidades no Detran-RS e na “república de Canoas” e nada fizera.

Na tarde da terça 20 de maio, Yeda Crusius expõe sua versão em entrevista coletiva e manda de volta a bomba para o ex-aliado. A bola de neve segue rolando porque Bacci incluíra o vice-governador Paulo Afonso Feijó em seu depoimento. O vice, como se sabe, reatou com Yeda há pouco, mas continua atacando o presidente do Banrisul, Fernando Lemos. Segundo Feijó, o esquema de contratos sem licitação e sub-contrato de sistemistas se aplicaria no banco estadual de forma muito parecida ao Detran-RS. Caso isto venha a crescer a ponto de abrir outra CPI, é plausível supor uma crise política profunda na gestão de Yeda Crusius.

Seria uma irresponsabilidade fazer qualquer prognóstico de curto prazo a respeito do primeiro governo tucano gaúcho. Mas, duas conclusões são irrefutáveis. A primeira aponta que o discurso do gerencialismo e da eficiência técnica não resistira ao hábito incorporado dos partidos tradicionais do Rio Grande. A segunda afirma que o dano será maior no longo prazo. Não poderão mais os operadores políticos gaúchos encher a boca para afirmar que “aqui é diferente do resto do país”. Isto porque, sem dualismo, sem embate de idéias e sem a estampa da honestidade, a política estadual é apenas uma versão sulina daquilo praticado em nível nacional.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






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