A crise do gás e dos hicarbonetos na Bolívia retoma a velha discussão e práxis do Estado brasileiro em ser subimpério na América do Sul e ter como área de influência direta o eixo da América Latina e do Atlântico Sul. Essa prática política não remonta aos dias atuais, embora o centro nervoso tenha mudado da bacia do Prata e Cone Sul para o eixo amazônico.
Interessante é notar como a gritaria da mídia tupiniquim muda o foco bem ligeiro. Quando o Exército Brasileiro começa a concentrar suas tropas na zona de fronteira, quando são criados o Calha Norte, os Pelotões Especiais de Fronteira e a decisão firme de tomar como medida estratégica a resistência a uma virtual internacionalização da Amazônia Legal, a mídia em geral se cala. Vergonhosamente se cala, os ocupantes de turno em Brasília pouco ou nada fazem de real e tudo vai indo progressivamente rumo a um desastre ecológico e social.
Nossa projeção como Estado para os países vizinhos funcionou muito bem em forma de cooperação subordinada ao jogo dos EUA. No quintal do Império fomos síndicos, de ingleses e estadunidenses. Depois do fim da bipolaridade, enfim caem as máscaras. O país aproveita-se, e bem, dos vizinhos limítrofes, expele população rural, projeta nova classe dominante em províncias e estados lejanos, cria enclaves abrasileirados no Paraguay e na Bolívia, e reforça a dominação cultural através da mídia central e oficiosa.
Mas, deveriam saber os moradores do Planalto que quem lidera sustenta e financia. Toda a cadeia industrial do sul da Africa é vinculada aos ramos de produção da África do Sul. Já o era em tempos de apertheid e a partir do regime em parceria de Mandela-CNA e o FMI, tudo seguiu igual. Hoje, os vizinhos imploram pela manutenção das cadeias produtivas do ex-odiado inimigo, até para poderem escoar seus bens minerais. A política externa, quando vai além do declarativo, tem de matar no peito os prejuízos, liderar seu bloco e confrontar os interesses da região em contra as projeções da Alca e da Comunidade Comum Européia.
Caso contrário, seremos parceiros de quintal do grande irmão do norte e primos pobres neste terreno baldio do ocidente chamado América Latina; nem tão latina assim quando cholos y bolitas partem para o ataque. O mesmo país que se indigna ao ver a Bolívia reclamar de um direito histórico, finge que nada acontece quando atingimos a “auto-suficiência” em petróleo, independência esta para sustentar o crescimento de padrões haitianos que vivemos. Mesmo auto-suficientes, a política energética da Petrobras mais parece uma das 7 grandes irmãs do que uma empresa nacional.
Tínhamos é de tomar vergonha na cara e partir para dentro da Cia. Vale do Rio Doce, retomando com os periquitos de Caxias aquilo que vendemos a preço de banana, ainda por cima aceitando como garantia uma moeda podre. Como nada disto vai acontecer neste modelo de organização social, resta esperar a enchente terminar e depois cruzar o rio caudaloso manobrando uma canoa de madeira de lei. Triste é saber que outubro nada fará de distinto dos outros meses do ano. Mas, como sabiamente dizem os muros hermanos da Banda Oriental:
“Não importa o que fazemos em um domingo de outubro mas sim aquilo que somos em todos os dias do anjo!”
Parábola final: “Ou assumimos um papel determinado, ou ficamos aplaudindo a Chavez, Morales, Humala e o dança dos fantasmas de Torrijos, Alvarado, Perón dos ’50 e outros generalíssimos.”
?Y el pueblo, donde está? E o povo daqui, por que canal se manifesta?