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O congresso do PT que nada decidiu a não ser manter os mesmos rumos sem rumo


A solução dada pelo partido de governo para o governo de coalizão é guinar à direita e hipotecar a sua própria base restante.

15 de junho de 2015, Bruno Lima Rocha

Tendo como pano de fundo o 5º Congresso Nacional do PT, Bruno Lima Rocha, jornalista e cientista político, professor de Relaões Internacionais, afirma "o lulismo vai deixar uma sequela ideológica difícil de ser superada tanto nesta agrupação política como na sociedade brasileira".

Segundo ele, "superar o paradigma do pacto de classes e do minimalismo vai exigir profunda autocrítica e radicalidade através das bases sociais mobilizadas".

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Eis o artigo.

Vejo a chamada acima como algo que beira o absurdo embora seja mais do que previsível. O 5º Congresso Nacional do PT realizado em Salvador foi uma ampla vitória do lulismo e da luta pela sobrevivência política, abrindo mão de quase tudo para seguir fazendo quase nada.  Os governos petistas da Bahia, além de recuperarem uma parte considerável dos carlistas (partidários e afilhados políticos de Antônio Carlos Magalhães, ACM ou “Toninho Malvadeza”) também pouco ou nada fizeram no sentido de uma justiça histórica contra o racismo estrutural da terra de Marighella, Bimba e Pastinha. O local é exemplar para realizar um congresso, pois  materializa um estado onde a ex-esquerda se coliga com  parte da oligarquia local.

Voltando ao Planalto e observando a composição de gabinete do segundo mandato marcado pelo terceiro turno, a manobra de Dilma trazendo elementos de confiança da DS para sua assessoria direta freou a maior crítica na interna da legenda, cabendo aos ex-igrejeiros da Articulação de Esquerda espernear como minoria quase irredutível vinda do Rio Grande do Sul.  Interessante é o reposicionamento de Tarso Genro, que a meu ver, mais opera como um protagonista de si mesmo do que como uma nova proposta partidária. Se levada às últimas consequências, a necessidade de superar o rentismo e vir a ter um maior vínculo militante levaria ou a uma fratura do partido de governo ou ao rompimento da coalizão que equilibra o segundo mandato de Dilma materializando a divina e triste música de João Bosco e Aldir Blanc, “O Bêbado e o Equilibrista”.

Cabe, de fato, uma severa crítica ideológica ao abandono da ideia básica das esquerdas dentro do partido de governo. Se a autocrítica passa pelo comando de Tarso Genro, já é notável que o caminho não é  de longo alcance. Quem se lembra da atuação de Tarso à frente do Piratini vai identificar como o mesmo perdeu o controle do aparelho policial e jogou calúnias sem fim contra a esquerda realmente existente no RS. Não é de espantar do congresso do equivalente ao PSOE brasileiro. Para os desavisados, ao comparar o PT com o PSOE não faço elogio algum; poderia compará-lo ao PASOK grego estaria  na mesma vala comum. O PSOE é ex-partido social-democrata espanhol, responsável, dentre outros crimes históricos, pelo Pensionazo de 2011, o pacto social junto da Izquierda Unida para retirada de direitos de aposentados e desempregados no Estado Espanhol. Por mais sofisticada que seja, e ainda que contenha elementos interessantes de crítica ao capital financeiro, se a crítica vem de políticos como Tarso é difícil que esta resulte em quase nada além de continuísmo – atravessada por linguagem rebuscada - e mais derrota ideológica.

A tristeza que se abate - e reforço que esta é sincera e sem ironia -, é saber que as lideranças dos movimentos que interessam, os setores que ainda têm envergadura e poder de mobilização para alterar a correlação de forças neste país - como MST e MTST-, tendem a reproduzir o duplo discurso e a lenga-lenga do "apoio crítico". Assim, terminam por responsabilizar a equipe econômica isentando o padrão de alianças e a coalizão oligárquica motivada por um pacto de classes.  O efeito perverso da leitura vulgar de Grasmci legitima as piores práticas em Brasília como “guerra de posições”. Quando tudo é tática não há estratégia, só oportunismo e sem um amplo espaço político para acumular forças. Na ausência de projeto de longo prazo, só sobrevive à prática cotidiana e talvez as boas condutas.

Caso houvesse mais democracia interna nestas bases, caso estas fossem menos controladas e mais politizadas – falo também no sentido autocrítico de quem conhece esta lida por dentro e como ex-organizador -  dificilmente as famílias e os  quadros médios seriam arregimentados para apoiar tamanha desfaçatez. O racha das mulheres do MST do RS, a gloriosa frente de mulheres com referentes históricos na luta de classes da Província de São Pedro, é o melhor exemplo dos efeitos maléficos deste reboquismo e excesso de manobra tática sem debate franco no nível estratégico. Sempre dá tempo de retomar o debate e oxigenar a militância, sempre e apesar das horrorosas práticas leninistas. Como analista, brasileiro e libertário afirmo sem nenhum tom professoral que é possível uma reorientação estratégica (basta observar o fenômeno PKK e sua democracia interna), mas é determinante uma – algumas – minoria(s) ativa(s) convicta da proposta.  

 

O governo de coalizão que governa por direita

A solução dada pelo partido de governo para o governo de coalizão é guinar à direita e hipotecar a sua própria base restante. O mais recente pacote de bondades, com a ampliação de infra-estrutura e logística buscando concessões privadas para portos, aeroportos, hidrovias, e ferrovias se dá através do BNDES. O banco de fomento vai liberar uma quantia aproximada de R$ 150 bilhões, exatamente o dobro do cortado pela “tesoura de Levy”, R$ 79 bilhões. Na ponta do lápis trata-se de uma escolha ainda ancorada no pacto de classes, sendo que o jogo do “ganha-ganha” (o fundamento do pacto lulista) está  esgotado. Temos no Brasil um déficit de R$ 8 milhões de moradias, algo que poderia ser solucionado com um investimento público de cerca de R$ 76 bilhões de reais ao ano, ao  longo de quatro anos. Esta é a agenda de reivindicação direta dos movimentos do direito à moradia e direito à cidade, algo bem distante do próprio Ministério das Cidades, e longe do núcleo duro do governo. Agora, de pires na mão, o governo abre novamente a chave do cofre cortando nos direitos básicos da população, e depois o partido de governo reclama quando apanha por esquerda.   

A constatação acima é observável com o aumento do custo de vida advindo do controle da mesma equipe econômica liberando os preços controlados no rumo inexorável do aumento inflacionário. Podemos citar dois exemplos: - a vergonhosa subida do preço das tarifas básicas de luz e telefonia, tudo para manter a margem das operadoras e concessionárias e assegurar as margens de lucros de suspeitíssimos concessionários de serviços públicos, como os conglomerados de telefonia e transferência de dados. Para quem duvidar convido a uma breve pesquisa a respeito da fusão da Brasil Telecom com a OI e a posterior saída da Portugal Telecom do negócio da Vivo Celular no Brasil. Não é razoável esperar um governo minimamente coerente quando ex-guerrilheiros e militantes de base convivem no mesmo gabinete com oligarcas fisiológicos, líderes empresariais e Chicago Boys de carteirinha.  Quando as decisões de governo são analisadas sem preconceito, observamos o óbvio.  As medidas mais contundentes evidenciam a pior faceta do Estado capitalista, quando este aparece como forma jurídico-política da dominação de classes. Esta, no caso brasileiro, é condicionada pela roubalheira institucionalizada do rentismo com a impagável e imoral dívida pública e seus operadores.

Para quem enxerga exagero nesta afirmação convido a leitura dos informes públicos tanto da Operação Lava-Jato como da Operação Zelotes, assim como as razões evidentes da retirada do HSBC do Brasil e suas operações criminalizadas em todo o mundo, incluindo a lista de depositários do HSBC na Suíça (Swissleaks) e o caso da agência central do mesmo banco em Nova York e a lavagem de dinheiro de cartéis mexicanos.

Nesta breve análise, tendo como pano de fundo o 5º Congresso Nacional do PT, concluo que o lulismo vai deixar uma sequela ideológica difícil de ser superada tanto nesta agrupação política como na sociedade brasileira. Superar o paradigma do pacto de classes e do minimalismo vai exigir profunda autocrítica e radicalidade através das bases sociais mobilizadas.






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