PARTE 1 – Entendo que se Marina Silva não segurar a campanha, é o fim de sua carreira política. Por outro lado, caso continue como cabeça de chapa, deve vir a ser condicionada a aceitar a função com todas as alianças como porteira fechada. Como no Brasil não há verticalização de alianças, os palanques estaduais são costurados no trato direto com as executivas das siglas nos estados e as lideranças nacionais. Nos estados, talvez até por uma bom motivo, Marina tem rejeição de certos setores, o que dificulta a aliança de conveniência. Mas, trata-se de um brete. Não pode recuar e tampouco aceita de bom grado o enredo de alianças montado numa candidatura onde ela empresta prestígio e pega carona na estrutura nacional do PSB.
É muito cedo para conjecturar o destino dos votos de Campos, mas podemos afirmar que a campanha que já era fraca tende a perder fôlego, pelo simples fato de que a estrutura partidária de quadros médios e executivas estaduais vai estar mais focada em assegurar um bom desempenho estadual e não se cacifar para um distante palanque como terceira força compondo com algum dos favoritos no segundo turno. Marina já não subiria com Aécio sendo vice, agora menos ainda.
Vale uma observação com tom de autocrítica: nunca antecipamos cenário com o abandono de algum candidato ou então a partir de um desastre como este. Todo analista deveria levar este cenário em conta, ainda que em menores proporções.
Concluo afirmando que não o momento de pegar carona, como a infeliz nota da direção nacional do MST, como acertadamente colocou o historiador carioca Rafael Viana. Cabe o respeito aos familiares das vítimas fatais ou não fatais (tanto as da aeronave como das casas atingidas), mas nunca uma aproximação na propaganda política para colher frutos para uma candidatura. 13/08/2014 – 18.17
PARTE 2 - Eu entendo que a estrutura do PSB está contra a parede, pondo Marina Silva a cavaleiro. Ela pode vir a ser indicada como cabeça de chapa, mas a partir da condição de aceitar as alianças de porteira fechada, o que inclui palanques tucanos em alguns estados, como em São Paulo. Quem vai operar como fiador da aliança é a Executiva Nacional do PSB, que já desautorizou falas individuais projetando-a como "candidata natural" (caso do irmão de Eduardo Campos).
Vamos supor que ela assuma a campanha e tenha um bom desempenho, levando-a ao 2o turno. Não creio nisso, mas há alguma probabilidade em ela sendo indicada - o que a forçaria a aceitar a função. Caso chegue ao 2o turno, as chances de vitória são reais, pois sua campanha teria um aporte absurdo da oposição paulista e seus aliados incondicionais. Marina tem rejeição destes mesmos aliados, mas a aventura da vitória pode ser mais envolvente do que os anteparos de distintas ordens.
Caso a probabilidade mais remota venha a ocorrer, a sua vitória no 2o turno, daí a chance de que ela de descole do partido e construa uma base própria e uma legenda ao seu redor, é imensa e da ordem do dia. Assim, pode ser benéfico para os caciques do PSB que ela concorra, mas atada, e de modo a forçar uma boa negociação para o 2o turno, e uma composição ministerial obrigatória com a chapa vencedora. O projeto de Campos e do PSB era para 2018, agora seria plantar o nome e forçar uma terceira via de discurso (meta falha, tanto para Campos como para Marina).
A tendência ruma para a fragmentação da legenda, senão na superfície, ao menos nos bastidores. Por exemplo, Roberto Amaral, ex-ministro de Lula e cacique da legenda, inclina-se ao abandono da própria candidatura e o alinhamento com Dilma. Definitivamente o cenário está aberto (semi-aberto) eu diria, e os maiores prejudicados são os caciques nacionais do PSB e suas respectivas - e muito heterodoxas - alianças estaduais. – 14/08/2014 – 18.47