A queda do S.C. Corinthians Paulista para série B do Campeonato Brasileiro de futebol supera o fenômeno dentro das quatro linhas. O clube com a segunda maior torcida do Brasil sofreu um ataque identitário, mascarado sob a forma de “problema de gestão”. A linguagem gerencial acoberta a liquidez sem fim e os crimes financeiros.
O tema é duro, mas tem de ser abordado. A economia política rege o futebol hoje. Nenhuma “commodity” ambulante e singular não tem valor agregado tão alto como um boleiro. Os valores astronômicos, o estilo de vida agregado com marcas, o uso de tecnologia de consumo individual, o fetiche da mercadoria portado por outra “mercadoria”; tudo isso atenta contra a memória desta instituição de futebol.
Não foi falta de aviso, foi falta de exercício de governo mesmo. O Banco Central e o CADE não intervieram nas negociações do Corinthians. O Ministério Público denunciou e tudo estava previsto em letreiros garrafais. Máfia russo-georgiana, uso de laranjas, controle oligárquico familiar sobre o destino e ansiedade de milhões. Não poderia dar em outra coisa. E, não foi a primeira vez.
Pouca gente hoje se recorda, mas quando o Corinthians fechou patrocínio com o Banco Excel, a situação falimentar foi a mesma. Depois o primeiro tornou-se Excel-Econômico, sendo que ambas as empresas de financistas foram vendidas para o Banco Bilbao-Vizcaya. Com a Hicks, Muse, Tate & Furst Incorporated, nova tragédia. Como se nada nem ninguém aprendesse com os erros. O problema é que quando um erro é sistêmico, é porque não é equívoco e sim intencionalidade.
Embora alegando herança madita, pouco ou nada mudou a não ser a queda para a segunda divisão. André Sanches Dias é a continuidade descontínua de Dualib e cia. Era membro da gestão anterior, amigo de Kia e operador da “parceria”. O discurso de despedida do cartola Antoine Gebran gritou a herança mas não atentou contra o grupo de herdeiros.
O neoliberalismo fracassou no intento de tragar a alma dos corintianos para a liquidez falimentar das instituições sócio-culturais brasileiras. Por sorte, a conversão ideológica e identitária nem sempre funciona. O preço a ser pago e a dívida ainda com a cobrança em aberto precisa ser executada. Como não existe ação coletiva sem responsabilidade individual, uma leva de cartolas tem de ser punida, tanto herdeiros como depositários.