29 de outubro de 2014, Bruno Lima Rocha
Logo em seu discurso de vitória, a presidente reeleita Dilma Rousseff anunciou a necessidade de retomar o debate da reforma política através de um plebiscito. No dia seguinte desta fala, ainda na ressaca pós-eleitoral, o presidente do Senado, o ilibado e republicano Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ser contra. Aproveitou para lembrar a ex-guerrilheira o fato do Congresso já haver repudiado tal ideia no auge dos protestos em 2013. Após esta fala, Dilma já apontava a necessidade de “flexibilizar” a pauta e a forma de encaminhá-la. Mais do mesmo.
Costumo afirmar, sem risco de ser taxativo ou sectário, que o PT, quando necessita, faz campanha presidencial por esquerda e governa o Brasil por direita. Uma vez abandonadas as bandeiras do reformismo radical, ao optar pela composição de maioria para assegurar a tal da governabilidade, a legenda de José Dirceu rosna e recua, ciclicamente. Neste curtíssimo prazo após o pleito, o momento é de rosnar. O modus operandi é simples e se repete a cada quatro anos ou então quando se sentem acuados, com riscos de ficar sem legitimidade. Rosnam para a outra direita e governam com a direita que lhes convêm.
Agora, o partido de governo aproveita o embalo da convocatória popular – canalizado eleitoralmente – chamada às ruas para tentar frear a ascensão tucana e a conseqüente restauração neoliberal. Ao contrário do que vem sendo enunciado através de muita opinião publicada, o PT não está com flertes chavistas e muito menos bolivarianos. A meta é de curto alcance, flertando apenas com a motivação de seus cansados eleitores e também aos que votaram no 13 tapando o nariz, motivados pelo pânico ou voto útil. Tratam apenas de ganhar fôlego para dentro de si mesmo, aproveitando a sua “massa” mobilizada e a legitimidade de quem emplaca o quarto mandato consecutivo. Logo a chama apaga e fica a rotina de um Congresso conservador e agendado por demandas particulares e elitistas.
Na 3ª dia 28 de outubro veio a segunda derrota de Dilma. A mídia governista atribui à oposição de centro-direita a aprovação do Projeto de Decreto-Legislativo 1.491/14, de autoria de um parlamentar do DEM, derrubando o Decreto Presidencial 8.243/14, estabelecendo a regularização da Política Nacional de Participação Social (PNPS). Ainda que o projeto tenha sido posto em pauta pela pressão de PSDB, DEM e PPS, não se pode colocar este retrocesso na conta da “oposição” e sim do cálculo do PT ao se aliar com os setores fisiológicos e patrimonialistas, comandados pelos oligarcas de sempre e que agora vão promover a chantagem política como nunca.
Passado o susto da quase derrota, a pressão do PMDB só vai aumentar. Nunca custa conjecturar quanto às lealdades do partido de Michel Temer (vice-presidente!) e as possíveis projeções de uma evolução da CPI da Petrobrás e as chances de acuar Dilma com uma ação de impeachment. Admito que esta possibilidade não fora aventada por mim e sim por uma consagrada (e muito bem informada) colunista política da Província. Concordo com a mesma e antevejo o óbvio. O PMDB está faminto e podem restar poucos espaços de poder para a ex-ministra da Casa Civil de Luiz Inácio. A chantagem institucional só está começando.