Duas questões pautam a possível unidade por esquerda. Uma delas é a própria “esquerda” que ainda existe dentro do segundo mandato de Luiz Inácio. Dentro do panorama do Encontro Nacional, todo guarda-chuva de coordenação tem alguma corrente que ainda dialoga com a CUT ou com o sistema federativo sindical. Afirma-se a radicalidade de acordo com estas alianças e posições.
A outra questão é saber se a unidade na reclamação pode virar uma pauta coordenada. Dúvidas serão tiradas nas jornadas do dia 17 de abril. É preciso saber se MST e Via Campesina vão coordenar com outros setores ou somente liderar um processo aberto a adesões. O 11º aniversário de Eldorado dos Carajás servirá como teste para um 1º de maio unificado. Caso o Dia do Trabalhador tenha uma marca distinta dos últimos anos, acumulando forças para se contrapor às reformas, então os próximos oito meses serão de intensa atividade.
Análise semelhante fez o Planalto. Na troca de ministérios, convocaram a Força Sindical para ser governo enviando Luiz Marinho para o sacrifício. Por mais que evite o tema, Carlos Lupi, ministro do Trabalho indicado pelo PDT, será de fato o representante da central de Paulo Pereira da Silva no governo. Intervir nas regras sindicais é um custo menor e pode ir sendo protelado. Assim, o capital político deve ser gasto na aprovação da reforma sindical, deixando a trabalhista como conseqüência da política econômica.
Já o ex-presidente da maior central sindical da América Latina terá de pagar o pato nas finanças da Previdência. O rombo das contas públicas não será tão grande como o desprestígio político. A CUT vai exercer o papel de aliada de sua inimiga histórica, e junto da Força Sindical, tentará conter o ascenço de lutas no ano de 2007.
Independente da correlação de forças existe um problema estrutural nas bases sindicalizadas. As categorias urbanas são compostas de trabalhadores precarizados. Mais de 60% da mão de obra ativa do país está na informalidade. Dos que tem emprego, as condições de trabalho não permitem a sindicalização nos moldes clássicos. Isto porque mais da metade dos empregos diretos são gerados por micro, pequenas e médias empresas. Quanto menor o local de trabalho, mais controlado é.
O recrutamento de novas bases, a unidade de ação contra o governo e a capacidade de apontar uma saída para o modelo macro-econômico são os desafios da esquerda sindical brasileira. Se estas dezenas de agrupações ultrapassarem o momento de reconstrução, entraremos em uma outra etapa de acumulação de forças na sociedade brasileira e aqui na província.
Artigo originalmente publicado em minha coluna mensal na Revista Voto, Porto Alegre, edição de abril de 2007, no. 31, Ano 3, pág. 42