Tendo a felicidade de passar pelo nordeste, algumas reflexões são inevitáveis. Especificamente no caso de Fortaleza (CE), é visível a explosão do turismo como indústria. Ao mesmo tempo, é gritante a desnacionalização desenfreada e a falta de infra-estrutura que acompanhe tal crescimento.
Ao adaptar uma praia também portuária como orla turística, o turismo como indústria remodelou a cidade. Como é de praxe, uma rede de hotéis de 4 e 5 estrelas pululam em espaço inferior a 4 kms. Edifícios modernos e pós-modernos ocupam a orla. Vêm a substituir a casarões e clubes sociais antigos e tradicionais.
Alguma categoria contratual poderia ser tentada entre os governos da cidade e do estado do Ceará para garantir uma rede sanitária melhorada. Capital para isso as redes hoteleiras, européias em sua maioria, tem e de sobra. A capacidade de investimento é algo absurda, mas a infra-estrutura da cidade não acompanha o ritmo. Há geração de empregos, mas não coleta de limpeza pública compatível. Urbanização das áreas favelizadas, menos ainda.
Traduzindo a observação impressionista para um conceito opeacional, o que se nota é a falta de capacidade de mando. Simples e direta. Esta falta é ajudada por outra ausência, a de vontade política para estas realizações. Transformar um estado em plataforma de turismo industrial e de exportação é uma saída para regiões historicamente prejudicadas e com pouco desenvolvimento. Mas, aplicar así no más, sem contrapartida, é a tradução direta de ausência de mando.
A enseada no Mucuripe é onde o porto dos anos 30 e remodelado anos depois encontra-se com os edifícios da "nova ocupação" transnacional. Um terreno baldio, dos poucos que ainda restam na área, trás a memória para a outra cidade, de areia e barro. Uma língua negra de esgoto deságua diretamente na enseada cujas areias e águas calmas também estão plenas de jangadas. Ao lado da língua negra, poucas quadras no máximo, uma sequência impressionante de hotéis, flats e residence services.
Esta imagem fala mais que1000 palavas.