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Lulismo, trabalhismo e a possibilidade de reeleição

carta potiguar

O lulismo se aproxima do varguismo como versão contemporânea da relação direta entre líder político e milhões de assistidos

13 de agosto de 2014, Porto Alegre - car@s leitor@es, o texto abaixo foi escrito no dia anterior da queda da aeronave e o consequente falecimento de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e candidato a presidente pelo PSB. A parte onde me refiro a esta candidatura entra aqui como memória da história imediata. Grato pela atenção, Bruno Lima Rocha 

 

 

Bruno Lima Rocha, 12 de agosto de 2014

 

Estamos em pleno ano eleitoral, e no momento em que escrevo estas linhas, tardam menos de dois meses para o pleito. Existe a real possibilidade de reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT) e com isso seria concretizado um feito inédito de dupla reeleição. Dois debates entendem-se como necessários para traçar tanto uma análise do cenário eleitoral como de uma conseqüente crítica por esquerda. O primeiro aborda o cenário eleitoral e as candidaturas oficiais por direita, além do próprio risco de não conseguir emplacar um segundo mandato. O seguinte trata da comparação do espaço político, ocupado pelo lulismo, como uma “continuidade descontínua” do trabalhismo contemporâneo.

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O cenário eleitoral de 2014 

 

A corrida às urnas de 2014 tem o seguinte perfil. A situação – favorita – é marcada pela aliança do PT com o PMDB, ainda que os correligionários do vice-presidente Michel Temer sejam, na prática, uma coligação de oligarquias estaduais, cuja cúpula controla a convenção e o muito disputado tempo de TV. A aliança com o Partido Progressista (em escala nacional, trata-se da Arena que não pulou da nau naufragada chamada de PDS), segue o mesmo padrão – controle de cúpula e interesses estaduais difusos – tal e como a composição da pouco leal “base aliada”.

 

A hegemonia da ala de centro-esquerda do governo afugentou um aliado histórico, o PSB dos herdeiros pouco orgânicos de Miguel Arraes, atiçando em Eduardo Campos e sua vice de circunstância, Marina Silva (cacique de uma legenda não legalizada), a vontade de tentar marcar uma espécie de “terceira via” nacional. O discurso de Marina (cacifado pelo desempenho em 2010), como ex-ministra do Meio Ambiente de Lula, e sobrevivente do Acre dos conflitos de seringueiros, não colou no ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Para sorte dos seguidores de Luiz Inácio, as possibilidades de Campos e Marina irem ao segundo turno são pequenas. Caso isso ocorresse, esta chapa de meia-oposição receberia apoios massivos dos grupos de direita (mais à direita), podendo atingir um empate técnico.

 

Por direita (totalmente alinhada com o ocidente), a oposição ao lulismo vê na chapa puro-sangue tucana, com Aécio Neves e o senador paulista Aloysio Nunes, a esperança de que ao menos, a legenda de Fernando Henrique Cardoso e José Serra tenha chegado unificada ao pleito. Os dois maiores colégios eleitorais do país (Minas e São Paulo) são o alvo prioritário do PSDB que vem fazendo governos estaduais nas Gerais e governa São Paulo de forma ininterrupta desde 1994. Acompanhando o tucanato, além do capital financeiro e os maiores grupos de mídia (com o Estadão à frente, seguido de Folha e Globo), está a parcela sobrevivente da UDN, revivida nos Democratas (DEM, “ah quanta ironia nas siglas partidárias”), tão democráticos como os correligionários de Carlos Lacerda e do brigadeiro Eduardo Gomes.

 

Aécio repete basicamente as mesmas teses dos anos ’90, agora com dois agravantes. Um é positivo para os neoliberais, pois após mais de uma década no Poder Executivo, o PT transformou-se em uma caricatura (grotesca) de si mesmo, estando cada vez mais parecido com os oligarcas aos quais se associa, embora levante a bandeira de algum grau de soberania combinada com políticas sociais tímidas. O agravo para os tucanos é na comparação de governo. Não há como comparar, dentro do marco de governos capitalistas sem nenhuma predisposição para romper total ou parcialmente com a ordem estabelecida, os feitos de FHC com Lula e seus herdeiros. Apenas fazendo o óbvio, o lulismo deu respostas comparáveis a Vargas em seus momentos auge.

 

A desorganização do tecido social e a fragmentação da esquerda eleitoral 

 

Diante de tamanha vantagem, como ainda cogitar um segundo turno apertado e com alguma chance de vitória neoliberal sobre a aliança centro-esquerda com as oligarquias? Uma pista está no controle do aparelho midiático; outra se localiza na desorganização quase que completa do tecido social oriundo do reformismo radical dos anos ’80. A desorganização é tamanha que não se conseguiu retomar uma central sindical aglutinando a esquerda restante no país. O mesmo se dá na esfera eleitoral. Três candidaturas apostam na construção partidária (PSOL, PSTU e PCB) e não na montagem de uma Frente de Esquerda (ainda que no cenário eleitoral). Seria interessante para a política brasileira uma grande coligação - por esquerda – nas urnas, pois isso facilitaria duas separações necessárias para a acumulação que veio após os protestos de 2013 e a atual repressão política de 2014.

 

Primeiro separaria as esquerdas eleitorais das não-eleitorais. A opção de tomar parte do jogo da democracia representativa sempre foi um divisor de águas no pensamento socialista e agora segue sendo. A segunda divisão seria dentro do grande campo de esquerdas não-eleitorais. Nesta haveria a divisão das de matriz libertária daquelas que são estatistas ou de perfil hierárquico. Neste campo, o Brasil hoje oferece a possibilidade organizativa do especifismo anarquista (através da Coordenação Anarquista Brasileira) e do maoísmo, através de movimentos como o MEPR. Facilitaria a opção política dos brasileiros, a subdivisão política aqui apregoada. Mas, o fato é que a “fragmentação maldita”, fenômeno social dos anos ’90, hoje se nota na esfera política específica.

 

Apontando conclusões: lulismo e varguismo

 

Tanto a desorganização dos rachas do PT e seus aliados, antes e depois de Luiz Inácio assumir em 1º de janeiro de 2003, como a fragmentação sindical – esta sim, obra nefasta do ex-líder metalúrgico que segundo o próprio “nunca foi de esquerda” podem ser lidas como vitórias políticas do Lulismo. Na campanha de 2002, a não presença da pauta da ALCA na campanha veio junto da Carta ao Povo Brasileiro e a aliança com o empresário mineiro José Alencar para vice-presidente. A escolha do pragmatismo político somada ao modus vivendi do andar de cima, mimetizaram-se de tal modo no PT que este sequer tinha uma ala à esquerda consolidada na segunda metade do primeiro mandato. Dez anos depois, temos no Brasil duas novas realidades.

 

Massifica-se em 2013 uma nova forma de protesto, bastante semelhante ao que vem ocorrendo em outras partes do mundo. Esta acumulação, ainda que parcial, pode ser disputada entre a fragmentada esquerda eleitoral e as forças que não participam do pleito, conforme já citado acima. O mesmo padrão de lealdade e acumulação difusa verifica-se na massa de milhões de brasileiros (em torno de 44 milhões), atendidos pelas políticas sociais, como habitação, renda mínima, estudo superior e emprego direto. Como a inclusão e o reconhecimento dos direitos não tiveram um receptor para além do próprio líder carismático, o Lulismo transforma-se no túmulo do PT histórico. Foi o inverso do PTB sem Vargas. Ao longo dos dez anos antes do Golpe de ’64, o trabalhismo transforma-se no pacto capital-trabalho com ênfase eleitoral e chance de vitória. O partido (o antigo PTB, de Brizola, Jango e Pasqualini) cresceu ao pé da tumba do ditador que o fundara. Com Luiz Inácio, a legenda outrora reformista dilui-se nas alianças de ocasião e no pacto oligárquico. Existe uma reserva eleitoral típica da América Latina, e frágil como seria de se esperar sem organização de base à altura dos milhões de incluídos no mundo consumo e do emprego. É esta a massa que pode garantir a reeleição, mas que patina na identificação das realizações do partido de governo.

 

 






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