Quem acompanha meus artigos neste blog há quase nove anos sabe o quanto sou crítico do governo de coalizão, incluindo o modelo de Bismarckismo Tropical, onde o governo federal se associa aos capitais oligopolistas, favorecendo campeões nacionais e seus pares estrangeiros.
Ressalto que minha crítica por esquerda não tem relação com este mecanismo de chantagem e criação de factóides oriundas do centro do capitalismo e em particular da retro-alimentação do cassino financeiro.
O último ataque contra a economia brasileira tem origem na nota rebaixada da agência de análise de risco Standard & Poor’s (S&Ps), passando o país de BBB para BBB-. A previsão de longo prazo desta agência indica certa “instabilidade”, mas ainda não retira o grau de investimento (investment grade).
Por incrível que pareça, a recomendação desta empresa privada condiciona a compra dos papeis da dívida pública brasileira, porque os grandes fundos globais têm nas suas regras de funcionamento tal avaliação prévia terceirizada.
Se a agência não recomendar a compra, os gerentes de operações e analistas não podem comprar títulos de um país, o que resulta numa rebaixa violenta. O chamado “efeito de manada” pode começar numa venda combinada – como foi o caso da Grécia – ou então numa nota rebaixada.
Parece piada, mas é farsa. A S&Ps deu nota AAA (máxima) para a fraudulenta Enron (antes da empresa de energia falir) e para os bancos de investimento Lehman Brothers e Bear Stern - co-responsáveis pela bolha financeira – semanas antes da quebradeira de 2008. Somente este dado já seria o suficiente para colocar em dúvida a lisura destas agências e o mecanismo de análise.
Para piorar, tanto o FT como o The Economist e o Wall Street Journal (do “impoluto” Rupert Murdoch) tomam como fontes autorizadas, a operadores da jogatina global igualmente cúmplices pela bolha e a crise subsequente de 2008.
Ora, quando uma matéria toma como fato gerador um índice duvidoso e ouve apenas especialistas diretamente interessados no tema, o texto fica no mínimo sob suspeita. A suspeição se confirma quando aplicam o recurso do sujeito oculto, ouvindo “o mercado” ou consultando “a maioria dos economistas” para confirmar o argumento central.
Isto é uma chantagem, tentando condicionar a decisões soberanas do Brasil diante dos especuladores globais.
Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat.