Propor é mais difícil do que criticar. Mas, propor algo exeqüível é algo ainda mais complicado. As premissas do pensamento neoliberal estão quase sempre ocultas. O problema orçamentário se apresenta como uma caixa preta. As informações estão longe de ser auto explicativas e assim os poucos brasileiros bem informados vão levando o dia a dia sem entender porque é tão difícil ver uma grande realização. É por causa dessa prática errada e antiética de premissa oculta que vou tentar aqui pôr um grão de areia nas alternativas sócio-político-econômico-culturais.
O foco desta coluna, como o próprio título já afirma, é a vida coletiva no município. Não necessariamente em qualquer um dos mais de 5564 municípios do país. Me concentrarei nas cidades que não são uma de nossas 27 capitais ou as chamadas cidades-pólo. Portanto, gostaria de afirmar aqui que esta coluna vai se dedicar às cidades que tem menos visibilidade para o conjunto do país. Por nossa classificação, são as com menor renda das regiões metropolitanas e àquelas cidades que não são pólo regional. Não necessariamente trata-se de município com vocação rural, embora a maior parte dos municípios do interior tenha este perfil econômico.
Como estamos em ano de eleições para prefeituras, vamos iniciar pondo foco e atenção nas intencionalidades não-manifestas pelos candidatos a cargos municipais. Mas, repito, seremos propositivos, muitas vezes buscando dar um nó na cabeça do leitor, de modo que ele ou ela vejam a política além do voto. Um choque de idéias é sempre saudável e bem vindo no meio da pasmaceira do pensamento político brasileiro.
Estas linhas e este autor vêem a POLÍTICA como a síntese de idéias, vontades, necessidades, relações de poder, aspirações e interesses. Buscamos o lado oposto da chamada “polititica” porque estamos indo além das mazelas do clientelismo, compra de votos, máximas como “é dando que se recebe”, apadrinhamentos, dublês de políticos e cartolas, além de tudo aquilo que caracteriza uma cultura política pragmática e paroquiana.
Concluo esta apresentação reforçando o convite para as próximas semanas. Debateremos um tema por vez, uma idéia distinta, proposta ou possibilidade de realização. Só para colorir o panorama do fundo da tela, apresento uma possibilidade no campo do audiovisual.
Imaginem um festival de vídeos gravados em celulares. É algo fácil, custo baixo, abundância de câmaras e possíveis participantes. Hoje uma razoável ilha de edição se consegue baixando um programa gratuito ou livre. Os vídeos poderiam ter categorias por resolução de imagem, tempo (5’, 10’ e até um curta de 15’), dividindo os produtores audiovisuais por idade e escolaridade. Todo município tem uma secretaria ou departamento de cultura, certo? Então porque não investem na produção audiovisual de baixo custo?
Ah, podem me questionar. De que adianta fazer festival se não tem como veicular? Eu asseguro que tem como veicular, tem como distribuir e ainda por cima, pode recriar um circuito cultural com identidade própria nestas cidades. Como para a maioria dos brasileiros não falta imaginação, então o que está em falta é outra coisa, sendo que o problema se localiza no quesito mentalidade política.
Mas, como já foi dito, este tema, assim como muitos outros, veremos nas próximas quinzenas. Certamente o arsenal dos leitores-eleitores irá aumentar. Senhores prefeitos, vice-prefeitos, secretários municipais, vereadores, assessores, candidatos e auxiliares, preparem seus corações para aquilo que aqui vou expor.
Este artigo foi originalmente publicado no portal da TV Tribuna, Baixada Santista, SP.