"[...] o partido de governo se torna cúmplice de oligarcas e neoliberais nas relações pouco republicanas com o aparelho de Estado".....02 de abril de 2015, Bruno Lima Rocha
Tem momentos na história de um país em que um conjunto de forças à esquerda tem as chances históricas de quebra da hegemonia de pensamento e as coisas passam desapercebidas. Entendo que, graças ao triste fato do PT se imiscuir com o pior do Brasil nos últimos 12 anos, estamos diante de um gigantesco escândalo - evidência com provas - de sonegação fiscal com provável corrupção de agentes públicos - do primeiro escalão da Receita - e apenas a difusão destes fatos poderia colocar contra a parede o andar de cima inteiro. Apenas verificando as listas cruzadas da Lava-Jato com a Zelotes (que deixara um rombo nos cofres públicos de R$ 19 bi, o dobro da Lava-Jato), derrubamos mitos de excelência do setor privado, capacidade de competência do agente econômico e superação do setor público.
O problema é o momento e a perda de poder de reação das esquerdas brasileiras neste delicado momento em que fica difícil se desmarcar do governo (tanto do reboquismo como do pacto lulista) e é urgente desarmar a direita neoliberal de linha chilena. Infelizmente, nos últimos 15 anos, a Polícia Federal vem atingindo mais a hegemonia da legitimidade do agente econômico e não a luta ideológica.
Ideologicamente, o país caminha no sentido inverso, marchando lado a lado com o pensamento cotidiano mais à direita. Segundo o SEBRAE e em escala de pesquisa global, o Brasil é o país mais empreendedor do mundo, estando à frente da China (maldição pós-stalinista). Ao mesmo tempo, temos o andar de cima atravessado por relações de clientela, patrimonialismo e que usam e abusam da conta da viúva (União) para fazer dos recursos públicos seu capital de giro e a fundo perdido. Inverter esta derrota ideológica é urgente e não pode ficar escorada em jacobinismo ou outros cantos da sereia republicanos.
Dando sequência no argumento e apontando algumas reflexões de fundo
Ainda no tema, imagino que se cruzássemos a participação de agentes econômicos de primeira envergadura nos conselhos de administração de grandes empresas, incluindo o da Petrobrás quando da famigerada compra da Refinaria de Pasadena no Texas, mais a existência de volumosas quantias nas contas do HSBC da Suíça (cuja CPI se arrasta e a difusão midiática é ainda mais lenta), com a presença de operadores individuais à frente das empreiteiras e demais contratistas da Petrobrás, somando com as suspeitas de criminosas ações de fraude e evasão fiscal e podemos, materialmente, comprovar a criminalização do agente econômico e dar uma evidência incontestável de economia política como ela é, de forma dura e simples.
De novo eu insisto nas chances perdidas quando da CPI do Banestado e no desenvolvimento das Operações Chacal e Satiagraha. Esta seria a chance de ouro para punir e reverter a farra das privatizações. Onze anos após e muita lama debaixo da ponte corroída, o partido de governo se torna cúmplice de oligarcas e neoliberais nas relações pouco republicanas com o aparelho de Estado. Há diferença programática, entre a liquidação dos sistemas e cadeias produtivas por FHC e cia (lembremos do "fim da Era Vargas"), para o Bismarckismo Tropical e dos consecutivos pacotes de bondades e choques de capitalismo (vide Eike Batista e sua difusão midiática). Definitivamente o segundo é menos pior como projeto capitalista, mas não alterna nada da hegemonia interna brasileira e menos ainda avança no pensamento mais à esquerda.
Entendo que o momento urge este cruzamento de informações, sem comprar a versão do PIG de que a Lava-Jato justifica um impeachment e tampouco comprando a versão do PIG2 e vendo esta relação de que a injustiça fiscal retroalimenta os sonegadores, especuladores e agentes econômicos dominantes no Brasil. Se tivéssemos um movimento sindical de fato classista e com autonomia política para o interesse de quem trabalha, e o estouro da Operação Zelotes virava a preponderância do discurso conservador dos neoliberais de linha chilena (repito, esta gente é realmente perigosa no sentido ideológico). Infelizmente esta frente de trabalho e organização social está sob a hegemonia de pelegos ou governistas. Articular nas franjas da esquerda social, como foi o acúmulo que fez com que ganhássemos as ruas em 2013 e operássemos uma conquista direta, pode ser a esperança para virar este ano de 2015, que é a continuidade de 2014, ano que insiste em não terminar.
Artigo originalmente publicado no Instituto Humanitas Unisinos