Existe uma enorme coletividade em franca expansão dentro do território da superpotência. Os EUA são – segundo dados de seu governo central - um país pluriétnico e ainda sob a antiga denominação de multirracial. O Departamento de Orçamento e Gestão estadunidense reconhece a existência de cinco macro-grupos raciais (cabe a crítica a este conceito), sendo estes: “brancos” (caucasianos ou não), negros ou afro-americanos, nativo-americanos ou nativos do Alaska, asiáticos, nativos do Havaí e nativos de outras ilhas do Pacífico e hispânicos ou latino-americanos. Destes, o contingente de “brancos”, incluindo o conjunto das etnias e grupos culturais mais conhecidos, ultrapassa os 50% dos residentes dos EUA. Os demais 50% são compostos por uma variedade étnico-racial, sendo que a maior parte destes se origina de povos dominados pela superpotência.
O censo de 2013 dos EUA apurou o total de 54 milhões de pessoas de origem “hispânica” vivendo dentro do território da superpotência. Deste total, os sub-grupos - como assim se referencia o governo central para as distintas origens étnicas e nacionais de matrizes latino-americanas – mais representativos são mexicanos (64%), porto-riquenhos (9,4%), salvadorenhos (3,8%), cubanos (3,7%), dominicanos (3,1%), guatemaltecos (2,3%) e os remanescentes 13,7% pertencem aos demais sub-grupos originários da América Latina. Neste mesmo ano, as matrículas de latino-americanos nas escolas básicas e secundárias eram de 23,3% sendo que a proporção no nível superior é de apenas 6,8%.
O estado mais populoso dentre os Hermanos é a Califórnia, com mais de 14,7 milhões de pessoas desta origem. Já o de maior percentual de “hispânicos” é o Novo México, com mais de 47,3%. Em ambos estados a absoluta maioria de latino-americanos é composta por mexicanos nascidos dentro das atuais fronteiras do México e também de chicanos, a população originária antes da derrota na Guerra de 1846 e 1848, conflito este que implicou na perda de 55% da antiga colônia espanhola para o “irmão do norte”.
Observando com atenção verificamos um padrão de povos conquistados ou fruto da violenta política externa dos Estados Unidos. Tal é o caso do México, já citado anteriormente. O mesmo se dá com Porto Rico e sua condição de Estado Livre associado também foi invadido na guerra contra Espanha em 1898, sendo que seus habitantes ganharam um status equivalente ao de cidadania estadunidense em 1917. A relação entre Cuba e EUA é objeto de amplo estudo e acompanhamento, já sendo debatida por este analista em outras ocasiões. Ressalto apenas que a ilha foi fruto de tentativa de invasão em abril de 1961, no episódio conhecido como Baía dos Porcos ou Batalha Girón. A República Dominicana também foi invadida militarmente pelos EUA, em abril de 1965, ocupação que durou até setembro de 1966.
Já a Guatemala inaugura como vítima da nova série de golpes de Estado entre maio e junho de 1954. Também de triste recordação são os efeitos da operação de “terra arrasada” promovida pelo Comando Sul e as forças especiais da superpotência no combate da guerrilha salvadorenha nos anos ’80. No caso, o intento de Washington era frear a aplicação da Teoria do Dominó, cercando estrategicamente a Nicarágua sandinista, sendo o país de Sandino também vítima de outra invasão, esta no início do século XX. Se formos analisar a presença de colônias latino-americanas crescentes dentro do território dos Estados Unidos, como panamenhos e hondurenhos, todos estes países tiveram uma triste passagem de presença militar, ocupação direta ou apoio a golpes de Estado ou para-militarismo.
Dentro desta lista incluímos ao Brasil, alvo da Operação Brother Sam cujo resultado foi o apoio incondicional ao golpe militar de 1964. A saber, segundo estimativas do IBGE, em torno de 23% do total de brasileiros hoje residindo no exterior está nos EUA; convivendo com coletividades Hermanas ainda que com uma integração reduzida com as vizinhas comunidades. É urgente uma aproximação com estas comunidades Hermanas e a disputa por sua identidade e capacidade de gerar uma política coletiva para o Continente.
Bruno Lima Rocha é professor de relações internacionais e de ciência política
(www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com)