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O vice-governador está na oposição


Na direita Yeda, no centro-direita Záchia e na ponta mais à direita, com pretensões ultra-liberais, o vice Feijó. Abaixo da runha, o Rio Grande e seu déficit estrutural.

3ª 16 de janeiro de 2007, Vila Setembrina dos Farrapos, Continente de São Sepé

Mal baixou a poeira da derrota de seu projeto econômico na Assembléia e a governadora Yeda Crusius voltou à carga. Na noite do domingo passado, durante o programa Canal Livre da TV Bandeirantes, o país pode conhecer o affaire Yeda contra Feijó. Ou, para uma análise um pouco mais fina, a disputa pelo controle do Estado no interior de um mesmo governo.

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Mesmo com ares de novidade, o Rio Grande do Sul se vê diante de um brete. Dentro do Piratini, estaria representado o campo da política, com seus cálculos mais sofisticados, intentando marcar uma gestão estruturante. Isto como elemento de discurso. No Palacinho do vice-governador, o outro lado dos poderes de fato do RS. A todo o momento fazendo força para desmerecer os entes estatais, se encontra o jovem líder empresarial indicado como vice-governador na chapa apoiada pelo sistema F (Fiergs-Fecomércio-Federasul-Farsul).

O apoio foi implícito no 1º turno, ainda dividindo votos e dividendos com o recalcitrante Rigotto. O dentista caxiense por sinal, concorreu aliado de Sônia Santos indicada pela legenda de Sérgio Zambiasi (PTB/RS). Nunca é demais lembrar que o senador radialista cumpriu fielmente o pacto de alianças. Apoiara o governo Lula no Planalto e o co-governo do PMDB/RS no pago. Com uma candidatura dúbia, estando o próprio Rigotto muito próximo de Lula nos dois primeiros anos de governo, a confiança estava abalada.

Eis que o empresariado decide concorrer com candidatura própria apoiando um racha forçado dentro dos tucanos gaúchos. Jamais imaginara que estaria na oposição com menos de dois meses de governo. Yeda tampouco imaginou ser alvo de aliança tão insólita. Na política, do PFL junto com a Frente Popular. No campo econômico, no pacto de classes, quando CUT e Força Sindical marcharam ao lado da patronal para brecar o pacote formulado por Carlos Crusius, Aod Cunha e seu time de confiança.

Qualquer análise realista, indo além das fantasias neo-institucionais, deve levar em conta o conjunto de agentes e fatores e indicar qual a determinância. Compreendendo que a geração de fatos midiáticos é uma das trincheiras permanentes das disputas de corredores, a coisa está pior do que aparenta. Yeda, ao vivo e em rede nacional, fez transparecer a incômoda posição do PFL, especificamente a do vice-governador Paulo Afonso Feijó.

Este é um recado direto aos aliados estratégicos durante os oito anos de governo Fernando Henrique. Sendo um partido fraco no estado e a governadora está contra a parede. Acuada entre os financiadores de sua campanha, as corporações da elite do Estado (em especial o Judiciário e o MP) e os aliados pouco ou nada orgânicos, o Núcleo Duro apelou. De forma discreta, se disse imbuída de um mandato com programa, delegado pela autoridade maior, a do voto nas urnas. Para arrasar de vez, associou a fala de Feijó com a do deputado estadual Adão Villaverde, fiel escudeiro de Tarso Genro. Segundo a professora de economia da UFRGS, a oposição tem na vanguarda o PFL e o PT.

Feijó contra-atacou no dia seguinte e não mandou recado. Tornou a referir-se ao “bando de burocratas” que controla o Estado e impede o “desenvolvimento das forças produtivas”. Entrou em uma arena delicada, onde todos os envolvidos têm telhado de vidro. Na busca por uma maior fundamentação para a gritaria empresarial, teve gente ressuscitando Lord Keynes. Na origem do debate, a tentativa de semear alguma discórdia no grupo de confiança da governadora.

Outro fato midiático, este em rede estadual seria a resposta do Palacinho. O colunista Afonso Ritter publicou na segunda-feira, 15 de janeiro, em sua coluna no Jornal do Comércio, a versão de divergência de pensamento econômico. Segundo ele, Feijó não se declara neoliberal embora defenda um Estado menos concentrador. Ainda segundo Ritter, Yeda tem formação keynesiana, e tenta aplicar o receituário do gênio inglês no combalido caixa gaúcho. Outra cortina de fumaça para encobertar o foco da disputa.

Yeda Crusius é tão keynesiana quanto Carlos Sperotto (presidente da Farsul) é socialista. Não se trata de divergência pelo modelo econômico. O foco do embate é o próprio controle do Estado. Quando o pacote econômico do Tarifaço foi derrotado, atirou-se fora junto, água e criança que se banhava. Mesmo discordando frontalmente, é preciso se reconhecer que o projeto continha um intento de alternativa estruturante para as finanças públicas. Na ausência de soluções estruturais, só resta cortar no que dá, mantendo o congelamento dos servidores e deixando lacunas nas determinações constitucionais para a Saúde e Educação.

O vice-governador declara frontalmente estar contra os rumos do governo e ataca os secretários de confiança, em especial ao secretário da Fazenda Aod Cunha. O “bando de burocratas” que o mesmo se refere é o grupo de confiança gerado no interior da Fundação Estadual de Economia e Estatística (FEE), capitaneado pelo próprio Aod. Verificamos assim, uma disputa entre operadores político-técnicos e lideranças empresariais.

Não entrou em jogo até agora o elemento mais importante. São os recursos públicos do Rio Grande do Sul, com os fundos de investimento da Caixa RS, Banrisul e BRDE. É este o dinheiro público que há mais de duas décadas financia toda a expansão empresarial e modernização produtiva no estado. Curiosamente, nem Yeda nem Feijó se pronunciaram a respeito. Lord Keynes sim teria posição, por sinal, bem distinta da governadora e do seu vice na oposição.

Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






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