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O “alívio” do vazamento na Casa Civil


José Aparecido Nunes Pires, funcionário de carreira do TCU, homem ligado a José Dirceu e acusado de ser o pivô da crise dos dossiês com as contas privativas de FHC. Herança maldita de Zé para Dilma.

4ª, 14 de maio de 2008; Vila Setembrina dos Farrapos traídos em Ponche Verde e Porongos; Continente do Martírio de Sepé e Languiru; Liga Federal de los Pueblos Libres vencedores en ‘Mbororé

Todos os dias os leitores do Brasil, parafraseando Nelson Rodrigues, acompanham ou vivem “a política como ela é”. Neste processo, dão-se conta de duas máximas. A primeira é estrutural em qualquer correlação de poderes onde o interesse imediato prevalece sobre as normas de conduta. Sem moralismo algum, posso categoricamente afirmar que a espionagem é ferramenta usual da política brasileira. Outra afirmação é fruto das escolhas deste governo. Ao aliar-se com adversários históricos e lavar tanto o discurso fundador que o mesmo acabou se perdendo, Luiz Inácio consegue uma “proeza”. Governar ao lado da Arena e reivindicar a “esquerda democrática” que combatera em armas e com palavras a ditadura militar, regime este que seus aliados apoiavam abertamente.

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Na semana passada, esta aberração foi assistida por todos os brasileiros em rede nacional através dos telejornais, sempre cirurgicamente editados. A longa fala de Dilma Roussef no Senado, na última 4ª feira dia 7 de maio, trouxe à tona outra máxima da atualidade política brasileira. Esta aborda o discurso da “esquerda histórica” para justificar qualquer coisa no presente. É algo relativamente “novo” no cenário político nacional, na medida em que o atual governo iniciou em 1º de janeiro de 2003. Este fenômeno aparece ciclicamente, e surge em duas situações. Quando operadores do governo do ex-metalúrgico se vêem emparedados. Ou então, quando a oposição se arvora de udenista e fala tudo o que não deve, profanando a história recente do Brasil.

Foi justo o que ocorrera durante o depoimento da ministra-chefe da Casa Civil. A economista formada ela UFRGS e ex-presa política Dilma Roussef se viu diante dos holofotes e da insensatez. O senador potiguar José Agripino Maia (DEM-RN), incorporou as piores tradições da UDN e usou de um argumento absurdo para atacá-la. Perguntou, de forma saliente, se ela mentiria naquele depoimento como afirmou haver mentido na tortura?! Além de perder a chance de apertar a ministra do órgão que produzira um dossiê das contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), Agripino conseguiu o feito de gerar simpatia sobre uma operadora política conhecida por sua antipatia e rigor Executivo.

Após assistir, ver, rever, ler e reler as infelizes palavras do senador, concluí duas obviedades. Primeiro, o político do Rio Grande do Norte desrespeitou a história e o martírio de centenas de presos políticos, seus companheiros e familiares. Tentou desestabilizar uma ex-guerrilheira falando de temas muito delicados. Errou no cálculo e no alvo. Se Dilma havia declarado que passara a tortura mentindo é porque se portara muito bem diante do calvário. Ao mentir, “não cantou” ninguém, preservando a vida de seus companheiros. Ou seja, José Agripino Maia atacou-a naquilo que a ministra tem de mais digno, que é justamente seu passado aguerrido e a têmpera diante do terrorismo de Estado. Tendo ou não participado diretamente de ações armadas, o certo é que Dilma Vana Roussef militou na Polop, no Colina e depois na VAR-Palmares, caiu por esta última organização e foi conseqüente com sua formação ideológica e seu compromisso na época.

A segunda obviedade deriva da primeira e se encontra com a segunda máxima já anunciada. Na 4ª a ministra sai fortalecida. Na 5ª, a sindicância interna da Casa Civil e a PF identificam a origem da transmissão do dossiê que apontava as contas de FHC. Pela forma absurda como foi inquirida, Dilma atenuou a sensação de revolta após a revelação da origem do correio eletrônico que saíra da Casa Civil rumo ao computador de um assessor parlamentar tucano. Por mais instantânea que seja a comunicação eletrônica, não é tão veloz a capacidade de absorver informações por parte do eleitorado e do público mais instruído. Se a investigação da Polícia Federal não tiver um efeito político retumbante, o governo deve agradecer esta proeza à “habilidade argumentativa” de José Agripino Maia.

Este é o país da espionagem como ferramenta usual e corrente da política. Também é o lugar das trapalhadas e lambanças. O caso dos emails enviados do ministério outrora comandado por José Dirceu para um assessor do senador tucano Álvaro Dias (PSDB-PR) é a prova viva do que falo. O funcionário de carreira do Tribunal de Contas da União (TCU), José Aparecido Nunes Pires, é cedido do Tribunal para ocupar cargo de confiança na Casa Civil. Segundo a investigação, o destinatário da mensagem foi André Fernandes, funcionário concursado da Câmara Alta da república, e seu ex-colega no TCU. Toda a história é tão absurda quanto da argumentação de Agripino Maia para inquirir Dilma.

José Aparecido exercer a função de “controle interno” chega a ser irônico. Se ele foi o autor das mensagens, onde em anexo constava a planilha de Excel com os gastos pessoais da família Cardoso, então além de culpado, o mesmo usava das informações privilegiadas de seu cargo e as aplicava em benefício de algum interesse não-republicano. Se por acaso seu email foi violado, provavelmente o autor é outro alguém da Casa Civil, então o que seria falha de conduta ética se torna negligência. Se o Chefe do “Controle Interno” tem sua caixa de correio eletrônico violada, é porque não controla absolutamente nada. Nos dois casos, o problema é estrutural e preocupa. Por fim, se o funcionário de carreira pretendera criar um fato político e não ficar exposto, a última medida que ele poderia tomar seria o envio de um arquivo com conteúdo delicado através de duas caixas de correio oficiais.

Como se pode ver, toda esta história é composta de puro e simples vale tudo político. De tudo o que vem sendo dito, e depois desmentido, só o que se salva é o passado de Dilma Roussef. Só faltou avisarem isso ao senador José Agripino Maia.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






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