Na última semana da corrida eleitoral, Yeda ultrapassou o atual governador, o dentista Germano Rigotto, que disputara a reeleição coligado com o PTB e o PMN. Muitas análises podem derivar do atual quadro; sendo assim, vamos expor um panorama com ênfase em duas arenas simultâneas.
Para começarmos a entender o que se passa no Brasil meridional, é importante saber que PSDB, PTB, PDT e PP fizeram parte de um co-governo de coalizão capitaneado pelo PMDB. A ausência do PPS/RS deste governo é devido a uma peleia interna do PMDB/RS, culminada em 2002 com a saída do grupo ligado a José Fogaça, Nelson Proença e Antônio Britto. Na coligação que saiu vitoriosa na disputa em segundo turno contra o então candidato do PT Tarso Genro, o posto de vice-governador era do PSDB, reproduzindo no estado a dobradinha nacional. O co-governo resistiu até os últimos meses anteriores da definição das candidaturas do estado. Tudo indicava uma reprodução das alianças da eleição anterior. Até que, alguns choques da interna tucana e a entrada orgânica do empresariado local, mudaram os rumos da campanha.
Na aliança vitoriosa de 2002, ocupava a função de vice-governador o jornalista Antônio Hohlfeldt. Este, desafeto e adversário de Yeda na interna dos tucanos gaúchos, perdera o controle da legenda na Região Metropolitana e terminou por sair do PSDB. Ficou assim aberto o caminho para dar vazão à aliança com o PFL, avalizada pelos grandes capitais do estado. Elemento chave para compreender a composição de chapa é o candidato a vice-governador Paulo Afonso Feijó, ex-presidente da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul – Federasul.
O governo Rigotto caracterizou-se por ser pouco agressivo na arena política, “pacificando” o Rio Grande como afirmava a propaganda oficial. Mas, teve como marca um crescimento negativo do estado, somado aos problemas de estiagem e aplicações de tarifaços. Podemos afirmar sem exagero que o Piratini optou por dar prioridade aos grandes projetos econômicos, justo com capitais e corporações de fora do Rio Grande. Assim, embora não fizessem oposição direta, os sistemas Fiergs e Farsul, acusaram seguidas vezes o fato de serem aliados de segunda monta. Dos poucos grupos econômicos gaúchos favorecidos, destacam-se os gigantes Gerdau e RBS. Mesmo assim, houve tensão entre as classes dominantes locais, tanto no plano político como no estratégico.
Três metas estratégicas estruturadas nas oligarquias e transnacionais operando no RS, tendo como mote a crise do Estado local, de fato se mostraram concorrentes. São estas: a Agenda Estratégica RS 2020 do Sistema Fiergs; o Rumos 2015 ancorado na infra-estrutura necessária para as indústrias florestais; e, o próprio Pacto pelo Rio Grande. Esta falta de unidade programática refletiu-se no panorama eleitoral.
A rejeição ao atual governo estadual colou o voto tucano nacional com alguma idéia aproximada de modernização do RS. Yeda marcou sua campanha por um discurso gerencial, descolando sua imagem do governo ao qual seu partido foi parte. Desbancou Rigotto, que coligado com a legenda do senador Zambiasi, no plano da política fez uma campanha mais antiquada. A direita local, com dois candidatos fortes, garantiu a presença de seus projetos para o segundo turno. As chances de vitória são grandes, a julgar pela expressiva votação que Geraldo Alckmin obteve no estado.
Como contraponto de marketing, já na coletiva de Olívio Dutra, o “índio da Bossoroca” marcou a diferença com a “paulistana modernizante”. Resta saber se depois de tanto lavar o discurso, a guinada à esquerda terá o efeito necessário para mobilizar uma militância outrora aguerrida e hoje bastante apática.
Considerando que teremos segundo turno no estado e no país, o Rio Grande verá sua eleição ser nacionalizada. Isto se dará, tanto pelo peso de Lula como pela ajuda vinda dos já eleitos governadores José Serra e Aécio Neves. Sem dúvida, abaixo do Rio Mampituba, outubro será um mês muito quente, ressuscitando antigas e tórridas paixões políticas.
Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat