|
ISSN 0033-1983
|
|
Artigos Para jornais, revistas e outras mídias
A cúpula do terror financeiro global
| gafin.vn
O ISDA opera – literalmente - como a cúpula que “auto-regula” a si mesmo, a partir do acerto de interesses dos grandes fraudadores da bolha especulativa de 2008. Estes são os julgadores dos casos de default.
|
Bruno Lima Rocha, 18 de agosto de 2014
O Comitê de Determinações da Associação Internacional de Swaps e Derivativos (ISDA, ver o site dc.isda.org) equivale a uma instância globalizada de classificação de “riscos”, afirmando, por exemplo, se algum país está em default (calote) ou não. Este órgão foi criado em 2009, para tentar impor uma legitimidade a partir dos próprios fraudadores do sistema financeiro mundial. O jornal O Globo, em sua edição de 1º de agosto (página 24, em matéria de Marcio Beck e Rennan Setti) apresenta a informação dos componentes deste Comitê, sem fazer o contraponto do passado recente destes conglomerados do cassino do capital fictício. Bastaria consultar o domínio do Comitê, observar a composição dos membros das Américas e cruzar com informações difundidas pela grande mídia para dar-se conta de que, literalmente, quem está arbitrando o conflito é parte geradora da quebradeira de setembro de 2008.
enviar imprimir Neste hiperlink , consta a lista dos membros votantes. Esta classificação afirma quem estaria pagando ou não seus títulos e compromissos. Vejamos quem tem o dom de determinar o “calote”. Começamos com os bancos de investimento: Bank of America N.A.; Barclays Bank plc; BNP Paribas; Citibank, N.A.; Credit Suisse International; Deutsche Bank AG; Goldman Sachs International; JPMorgan Chase Bank, N.A.; Morgan Stanley & Co. International plc; Nomura International plc. Conglomerados semelhantes, mas apenas com voto consultivo são: Mizuho Securities Co., Ltd.; Société Générale. Já os votantes que não são bancos de investimento, operando como hedge funds (fundos de risco), incluindo os chamados fundos abutre, são: BlueMountain Capital Management, LLC; D.E. Shaw & Co., L.P.; Eaton Vance Management; Elliott Management Corporation; Pacific Investment Management Co., LLC. Um membro de fundo que não é votante é o Citadel e completa o quadro dos votos o Ice Clear Credit.
Pode parecer uma sopa de letrinhas para quem não está acostumado a ler tais denominações, mas para iniciados, esta composição é puro terrorismo financeiro. Um belo exercício didático seria fazer uma simples busca com os nomes destes conglomerados financeiros e somente pela mídia corporativa. Com facilidade observaremos que apenas pelo fato de que os maiores apostadores na roleta russa financeira sejam os julgadores de suas vítimas tal Comitê já é escandaloso por sua própria existência. Tal classificação – se há ou não default, ou calote, ou não compromisso com uma dívida muitas vezes decidida na Justiça – é uma espécie de taxonomia contratual. Quem for classificado como não pagador, sofre uma série de ataques – como venda em massa de títulos (tal é o caso da Grécia) e a consequente fuga de capitais acrescida de alta do dólar.
Já é absurdo supor que os algozes possam julgar o comportamento de suas vítimas, que dirá levar isso a sério. Qualquer investigação de crime financeiro deve olhar esta composição como um conjunto de empresas suspeitas em escala global.
Artigo originalmente publicado no Jornalismo B, primeira quinzena de agosto de 2014
voltar |
|
|
|
|