O país vive um momento delicado e inglório no que diz respeito ao sistema de comunicações. Impossível de se pensar em democracia atual sem a presença da mídia; portanto, sem mídia democrática não há democracia viável. Em nenhum nível. Vive-se uma rodada de um jogo bem complicado, onde estão na berlinda algumas questões:
- a TV digital, e provável assinatura por Lula do padrão japonês. Isto caracteriza a aliança do governo com a Rede Globo, não importando as justificativas, se por estarmos em um ano eleitoral ou não. O fato é, o governo atual não implementou nenhuma mudança significativa dentro do mercado e no modelo de negócios e difusão brasileiros.
- somado à TV digital, está a disputa pela geração de conteúdo; neste ponto entram as empresas de telefonia móvel, que assim como os mega-portais da web, são controlados por transnacionais. Ao demarcar uma barreira branda, o Congresso abriu a porteira e a boiada está quase estourando.
- o mesmo se trata na fusão da DirecTV com a Sky. Além de representar a multinacionalização da TV a cabo, de costas para o continente, e portanto, afastando-se mais do que se acercando dos países vizinhos, também reproduz a fusão do capital da Globo com a News Corp. O dinheiro e os fundos não provêm mais da Time Life, mas de outra parceria. Não bastasse a falência do consórcio NEC, a falência fraudulenta do Banco Roma, as dívidas da Net Cabo, o Proer da mídia e outros financiamentos mais. Isto vai representar 95% do mercado de TV por assinatura nacional! Concentração pouca é bobagem.
- para concluir o pacote de problemas, temos todo o universo do rádio no Brasil, a comunicação comunitária - a qual explicitamente estamos a favor e participamos – as rádios “picaretárias” e a nova pirataria digital. O decreto lei fundador do SBTVD, não foi acompanhado do Sistema Brasileiro de Rádio Digital. Vindo a ser aprovado o padrão IBOC, como é vontade tácita das grandes emissoras e com a anuência do governo da União, o espectro será ocupado por poucas mega-emissoras, difundindo em rede nacional. Perdem espaço as pequenas e médias emissoras do interior e todas as comunitárias.
Considerando o papel do financiamento do Estado dos mega-conglomerados brasileiros e transnacionais, é duro de entender como se pode esperar do Poder Estatal um procedimento distinto daquele que cumpre?! Na outra ponta, além de intelectuais, artistas, cientistas e outros militantes político-técnicos, tem-se um movimento de massa com massa desorganizada. Trata-se das mais de 5000 emissoras comunitárias, com distintos graus de legalização, repressão e nível político. Se a democracia brasileira precisa ser reinventada, a “eureka” passa por pequenos transmissores de 25 W e telecentros em pequenas cidades ou áreas periféricas.
Como dizia o filósofo do Vale do Paraíba: “jogo é jogado e lambari é pescado”; ainda corre água nesta piracema de monstros-híbridos!
Obs: no sítio newscorp.com pode ser observado o organograma da controladora da Fox onde já constam a Sky e a DirecTV.