Bruno Lima Rocha, 08 de novembro de 2014
Dando sequência na saudável polêmica e debate aberto (dentro de um campo ampliado por esquerda), neste breve texto analítico, observo dois editoriais do portal Carta Maior. Esta publicação, como se sabe, opera como a linha teórica de maior nível, onde aqueles e aquelas que aderem ao governo marcam sua posição progressista, estando à esquerda da linha hegemônica do PT e das diretrizes do Poder Executivo.
Vale observar a excelente caracterização das condicionantes do poder mundial e da capacidade de exercício de governo no Brasil. Para tanto, selecionei os seguintes trechos do editorial da Carta Maior de 29/10/2014.
“O nome da crise é a desenfreada ferocidade com que capitais especulativos impuseram um padrão global de taxa de retorno irreproduzível na economia sem níveis asiáticos de exploração de mão de obra. O nome da crise é a ausência de instituições internacionais com poder de coordenação sobre essas matilhas – e de contrapartidas locais de contenção na forma efetiva de controles efetivos sobre os fluxos de capitais. É tudo isso que subtrai o chão firme de governos progressistas nas diferentes latitudes econômicas.
No Brasil, com uma agravante, como mostram os acontecimentos nas horas que urgem. Nas páginas de economia martela-se a contrapartida macroeconômica do putsch branco: o dirigismo (leia-se o pré-sal) e a gastança fiscal (leia-se o salário mínimo e os programas sociais) são incompatíveis com a necessária redução do juro para a retomada do investimento. Em miúdos: para voltar a crescer o país precisa de algo que o governo reeleito é incapaz de propiciar, ao menos que se renda incondicionalmente ao programa derrotado.
Um xeque-mate?”
Tendo a entrar em acordo com a caracterização do “austericídio” e, ao mesmo tempo, observo que estamos anos luz de distância da possibilidade de solução. O mesmo se dá no texto seguinte.
Já no editorial de 06 de novembro, parece que finalmente a ficha caiu na redação da Carta Maior. Neste texto referido, o editorialista do maior portal governista brasileiro (de linha crítica, diga-se de passagem), assume que não há, ou não resta, um mínimo de organização popular para defender os avanços materiais ou mesmo o resultado das ilibadas urnas da democracia indireta da república. Compara a gestão Dilma com Allende (exagero), mas acertadamente compara com o Obama cool e amputado das condições de governo (este analista já afirmara o mesmo na 5ª, 06/11, em veículo líder na província de São Pedro).
Se há alguma concordância no diagnóstico, há profunda discordância na solução. Isto porque, na avançada das lutas de maio, junho e julho de 2013, a Carta Maior e o próprio Emir Sader - em textos recheados de cinismo e adesão ao governo de coalizão - convocaram as pessoas a ficar em casa "refletindo" e não lutar pelos direitos em avanço. Se há comparação com Allende, então triste notícia para os brasileiros. O respeitado presidente chileno não escutou aos conselheiros militares e de inteligência e tampouco havia acúmulo com o Lautaro ou o MIR para sobrepor as peleguices do PC Chileno e da ala direita do PS. Resultado: não havia capacidade alguma de reação e o Chile passou a ser o modelo vivo do neoliberalismo selvagem no Continente.
Não cabe comparação de momentos históricos, mas sim o aprendizado das conjunturas extremas para nosso Continente. Querem colocar o recalcitrante e Bismarckista governo de Dilma em um leito de procusto combinando a chantagem institucionalizada pelo "aliado" PMDB (Eduardo Cunha e o blocão vêm aí!) e também pela via da forja de um consenso absurdo bem denominado pela própria Carta Maior como "austericídio".
Diante dessa força de sucção para o centro vinda do partido de governo e com a guinada ainda mais à direita agora promovendo a "venezuealização esquálida" do Brasil, marcar uma posição por esquerda é obra e graça da própria esquerda restante e com temas fundamentais. Que as lições da derrota avassaladora do tímido keynesianismo tardio de Obama sirvam de lição aos arrependidos de sempre, a começar pelo derrotado governador do RS.