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Democracy Now! em Português
a coluna semanal de Amy Goodman traduzida para o português

A guerra é um latrocínio

Jornal Montes Claros

Dívida dos Estados Unidos chega a US$ 14,5 trilhões e supera PIB de 2010. A crise não é suficiente para governo rever financiamento dos movimentos bélicos no Iraque e Afeganistão. Em vez disso, Obama mira os gastos com Saúde e Previdência Social. Até quando o Tio Sam vai aguentar?

Por Amy Goodman

“Cada guerra que os estadunidenses travaram ou irão travar no futuro fora dos seus limites continentais foi ou será um latrocínio. Um mesquinho, cruel e asqueroso latrocínio.” Assim dizia em 1935 o Major Smedley Butler. A afirmação – “a guerra é um latrocínio” – que também corresponde ao título do seu breve livro sobre o negócio da guerra, ainda soa como verdadeira na atualidade. Recentemente, uma corajosa trabalhadora civil do exército ganhou uma batalha para fazer com que os que lucram com a guerra sejam responsabilizados por seus atos. Seu nome é Bunnatine, “Bunny” de apelido, Greenhouse de sobrenome. Quando seu empregador, o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos, concedeu, sem chamar licitação, um contrato de sete bilhões de dólares à filial de Halliburton Kellogg, Brown and Root, mais conhecida como KBR, pouco antes dos Estados Unidos invadirem o Iraque, Bunny fez a denúncia. Fazia parte do seu trabalho: garantir que os procedimentos de licitação competitivos poupassem dinheiro ao governo dos Estados Unidos. Justamente por fazer seu trabalho, foi obrigada a abandonar seu cargo, humilhada e assediada.

Leia também o comentário dos editores do portal ao final do texto

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Esta semana, depois de protagonizar uma batalha judicial de mais de meia década, Bunny Greenhouse finalmente venceu. O Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos chegou a um acordo de 970 mil dólares com Greenhouse, que inclui a restituição completa de vencimentos suspensos, compensação por danos e prejuízos, além dos custos legais.

Seu erro foi contestar um contrato de sete bilhões de dólares outorgado a KBR sem prévia licitação. A invasão ao Iraque em 2003 estava prevista para algumas semanas depois e os assessores militares de Bush avaliaram que Saddam Hussein explodiria as reservas petrolíferos como aconteceu na ocasião da invasão estadunidense de 1991. O projeto se chamou “Restabelecer o Petróleo Iraquiano” ou RIO, na sigla do nome original em inglês, e foi criado para extinguir o fogo nas reservas de petróleo. KBR pertencia naquele momento a Halliburton, cujo presidente até o ano 2000 havia sido ninguém menos que o então Vice-presidente Dick Cheney. KBR foi a única companhia convidada a fazer uma oferta.

Bunny Greenhouse disse a seus superiores que o procedimento era ilegal. Ignoraram-na. Greenhouse disse que a decisão de outorgar o contrato a KBR veio do Gabinete do Secretário de Defesa, dirigido pelo bom amigo do Vice-presidente Cheney, Donald Rumsfeld.

Como disse Bunny Greenhouse a um comitê do Congresso: “Posso afirmar sem equívocos que a corrupção vinculada aos contratos outorgados a KBR representa o mais descarado e desonesto uso indevido de contratos que já vi no decorrer da minha carreira profissional.”

As reservas petrolíferas não arderam em chamas. No entanto, a KBR ganhou a autorização de readaptar seu contrato não licitado de sete bilhões de dólares a fim de fornecer combustível e apoio logístico das forças de ocupação. O acerto do negócio (de Estado, via terceirização) foi categorizado como um “contrato de custos reembolsáveis”, o que significa que a KBR não estava em condições de prover os serviços a um preço fixo e estabelecido. Em seu lugar, seriam cobrados os custos mais uma porcentagem fixa como lucro. Quanto mais a KBR incluísse custos, mais lucros obteria.

Como chefe do setor de compras, a assinatura de Greenhouse deveria figurar em todos os contratos de valores superiores a dez milhões de dólares. Pouco depois de denunciar o atroz contrato RIO, Greenhouse foi rebaixada de função, foi retirado o acesso a informação classificada de ultra-secreta e começou a receber as qualificações de desempenho menores. Antes fazer a denúncia, sempre recebera as qualificações mais altas. Finalmente, renunciou a seu posto ao deparar-se com um ambiente de trabalho insuportavelmente hostil.

Depois de anos de litígio, seu advogado, Michael Kohn, presidente do Centro Nacional de Informantes (National Whistleblower Center), conseguiu que o caso chegasse a um acordo. Kohn declarou: “Bunny Greenhouse arriscou seu emprego e sua carreira quando bateu de frente com o enorme desperdício de dólares dos contribuintes federais e as práticas de contratação ilícitas que aconteciam no Corpo de Engenheiros do Exército. Teve a coragem de se por de pé e desafiar poderosos interesses particulares. Evidenciou um ambiente de contratações corrupto nas quais as práticas informais e entre amigos são a norma em que se baseia a aprovação de contratos. Sua coragem levou à realização de modificações legais que impedirão para sempre os grosseiros abusos de poder que ela teve coragem de expor.”

Da sua parte, o diretor-executivo do Centro Nacional de Informantes, Stephen Kohn (irmão de Michael Kohn) me disse: “Os empregados federais que denunciam práticas ilegais passam por maus bocados. Por isso cada vez que o governo se vê obrigado a pagar danos e prejuízos em virtude de remunerações em dívida, compensação por custos legais, é uma grande vitória. Espero que isto constitua um ponto de inflexão. O caso foi muito aguerrido, embora não devesse ser necessário já que Bunny fez a coisa certa.”

Segundo o economista vencedor do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, os custos das guerras no Iraque e Afeganistão por si só superaram os cinco trilhões de dólares. Com custos assim, por que a guerra não se encontra no centro de debate sobre a dívida nacional?

O, Major Smedleu Butler, por duas vezes vencedor da Medalha de Honra do Congresso, tinha razão há 75 anos quando falou sobre a guerra: “Provavelmente, é a estafa mais velha, de longe, a que deixa mais lucros e, seguramente, a mais impiedosa. É a única cujos ganhos se contam em dólares e as perdas, em vidas. Que acontece em benefício de poucos a custos de muitos.”

Enquanto o Presidente Obama e o Congresso argumentam que a Saúde Pública e a Previdência Social são os dois fatores que desestabilizam o orçamento, o povo deveria exigir-lhes que deixem de financiar a guerra.

————————–

Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.
@2010 Amy Goodman

Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps y Democracy Now! em espanhol.

Esta versão é exclusiva de Estratégia & Análise para o português. O texto em espanhol traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto , e revisado por Bruno Lima Rocha. As opiniões adjuntas ao texto são de exclusiva responsabilidade dos editores de Estratégia & Análise.

Amy Goodman é âncora do Democracy Now!, um noticiário internacional que emite conteúdo diário para mais de 650 emissoras de rádio e televisão em inglês, e mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro “Os que lutam contra o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos”, editado pelo Le Monde Diplomatique do Cone Sul.

Comentário dos editores do portal

A guerra e sua indústria têm relações intrínsecas com o aparelho de Estado (de governo Central na verdade) do Império e está no coração do endividamento público dos EUA e opera como mecanismo de lucratividade e chantagem em escala planetária. Não estamos falando nenhuma novidade e o texto acima de Amy Goodman comprova factualmente aquilo que já vem sendo alvo de estudos aprofundados e denúncias rigorosas. Trata-se de uma equação tão simples como perversa. Os EUA são detentores de dois recordes mundiais. O orçamento militar do Império é superior ao de todos os demais Estados do globo juntos. Ao mesmo tempo, seu endividamento também é líder mundial, equivalendo a sete vezes o PIB de uma poderosa economia como a brasileira. Diante do acórdão provisório conseguido pelo enfraquecido Barack Obama, a natureza do corte de despesas de gastos públicos, vai pôr na mesma balança a redução de encargos dos direitos sociais (como em saúde, previdência e educação) e o gasto militar direto e terceirizado. A tendência, salvo venha a ocorrer uma profunda mudança na correlação de forças nos EUA nos próximos dois anos, é que a corda arrebente no lado da população mais carente, aumentando o abismo social e mantendo a geração de lucros incessantes para as indústrias de serviços, terceirizações e mesmo de guerra privada, como brilhantemente fora exposto por Jeremy Scahill em sua investigação a respeito da empresa Blackwater, uma entre centenas de corporações provedoras de mercenários em escala planetária. A aposta é a vitória nas ruas, passando longe do duopólio de partido quase-único. O coração do Império sangra.






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