Estrat�gia & An�lise
ISSN 0033-1983
Principal

Artigos

Clássicos da Política Latino-Americana

Coluna Além das Quatro Linhas

Coluna de Rádio

Contenido en Castellano

Contos de ringues e punhos

Democracy Now! em Português

Democratização da Comunicação

Fale Conosco

LARI de Análise de Conjuntura Internacional

NIEG

Original Content in English

Pensamento Libertário

Publicações

Publicações em outros idiomas

Quem Somos

Sobre História

Sugestão de Sites

Teoria



Apoiar este Portal

Apoyar este Portal

Support this Website



Site Anterior




Creative Commons License



Busca



RSS

RSS in English

RSS en Castellano

FeedBurner

Receber as atualiza��es do Estrat�gia & An�lise na sua caixa de correio

Adicionar aos Favoritos

P�gina Inicial












































Democracy Now! em Português
a coluna semanal de Amy Goodman traduzida para o português

Cheney, Rumsfeld e a obscura arte da propaganda

usurpadores.blogspot

A implosão das Torres Gêmeas no atentado do 11 de Setembro só não matou mais estadunidenses do que os Governos de Bush e Obama com suas guerras no Oriente Médio.

Por Amy Goodman

“Quando se mente, deve-se mentir grande e ser fiel a essa mentira”, escreveu Joseph Goebbels, o ministro da propaganda do Reich alemão em 1941. O ex-Vice-presidente Dick Cheney parece ter tomado o famoso conselho nazista em seu novo livro: “No meu tempo”. Cheney continua fiel a suas convicções em temas que vão desde a invasão do Iraque até o uso da tortura. Durante uma entrevista no programa Dateline da NBC News, o republicano falou sobre as revelações do livro: “Muitas cabeças vão rolar em Washington”. As memórias de Cheney seguem as de seu colega e amigo Donald Rumsfeld. Enquanto ambos promovem sua própria versão da história, há quem os desafie e os enfrente.

enviar
imprimir

O título do livro de Rumsfeld, “Conhecido e desconhecido”, advém de uma resposta infame que deu durante uma conferência de imprensa no Pentágono quando ainda era ministro da Defesa. Em 12 de fevereiro de 2002, Rumsfeld tentava explicar a falta de evidências que vincularam o Iraque a armas de destruição em massa: “Há conhecidos que conhecemos, há coisas que sabemos que sabemos. Também sabemos que há conhecidos que desconhecemos, o que quer dizer que sabemos que há algumas coisas que não sabemos. Mas também há coisas desconhecidas que desconhecemos, aquilo que não sabemos que não sabemos”.

A enigmática declaração de Rumsfeld se fez famosa e emblemática por seu desdém aos jornalistas. É considerada um símbolo das mentiras e manipulações que levaram aos Estados Unidos à desastrosa invasão e ocupação do Iraque.

Uma pessoa que foi convencida graças à retórica de Rumsfeld foi Jared August Hagemann.

Hagemann se alistou no exército para servir seu país, a fim de fazer frente às ameaças que repetidamente o Ministro da Defesa mencionava. Quando o soldado estadunidense recebeu o chamado para mais uma missão (sua esposa não se lembra se era a sétima ou a oitava), a pressão foi demasiada. No dia 28 de junho de 2011, Jared Hagemann, de 25 anos, atirou em si mesmo na Base Conjunta Lewsi-McChord, próximo de Seattle. O Pentágono deu a entender que Hagemann morreu por causa de uma ferida de bala “auto-infligida”, mas ainda assim não chamou o fato de suicídio.

Jared ameaçou suicidar-se várias vezes. Não foi o único. Segundo informações, cinco soldados cometeram suicídio no Fort Lewis em julho. Estima-se que mais de trezentos mil soldados que voltaram da guerra padecem de transtornos por estresse pós-traumático ou depressão.

A viúva de Hagemann, Ashley Joppa-Hagemann, soube que Rumsfeld disponibilizaria exemplares de seu livro na base. Na sexta-feira, 26 de agosto, Ashley entregou a Rumsfeld uma cópia do programa dos serviços fúnebres em memória de seu falecido esposo. Ela me descreveu o encontro: “Disse-lhe que queria que visse meu esposo, e assim o conheceria, assim poderia lembrar-se do rosto de ao menos um dos soldados que perderam suas vidas em virtude das mentiras em relação ao 11 de Setembro”.

Perguntei-lhe sobre a resposta de Rumsfeld: “Tudo o que lembro é ele dizendo ‘Ah,sim! Ouvi algo disso’. Em seguida, fui acossada por um de seus seguranças pessoais, expulsa do local e advertida para não mais voltar”. Infelizmente, é o Sargento do Estado Maior Hagemann quem nunca mais vai voltar a sua esposa e a seus dois pequenos filhos.


Em uma entrevista para a NBC, Cheney afirmou ter desempenhado um papel na renúncia do então Secretário de Estado Colin Powell. Consultei a respeito junto ao ex-chefe de despacho de Powell, o Coronel Lawrence Wilkerson, que respondeu: “Pelos trechos que li, vale dizer que não li o livro inteiro, o que o vice-presidente disse de mais impactante é que teve algo a ver com o afastamento de Colin Powell de seu cargo em janeiro de 2005. Isso é um disparate total”.

Mais importante, no entanto, é a cobrança de Wilkerson para que os responsáveis por levar o país à guerra no Iraque sejam responsabilizados por seus atos, o que implicaria em um castigo a si mesmo. Um pilar central da invasão do Iraque foi o discurso de Powell em 2003 diante das Nações Unidas, em que expôs o caso das armas de destruição em massa. Wilkerson assume plena responsabilidade pela coordenação do discurso de Powell: “Infelizmente, e já reconheci diversas vezes publicamente e em particular, fui a pessoa que preparou a apresentação de Powell ante Conselho de Segurança das Nações Unidas. Provavelmente foi o maior erro da minha vida.
Lamento-o até o dia de hoje. Lamento não ter renunciando naquele momento”. Perguntei ao Coronel Wilkerson o que pensa de grupos como o Centro pelos Direitos Constitucionais e o advogado e blogueiro Glenn Greenwald que pediu o julgamento criminal de Cheney, Rumsfeld e outros funcionários do governo Bush. Respondeu-me: “Estaria disposto a testemunhar, e estaria disposto a enfrentar qualquer castigo que mereça”.

O Coronel Wilkerson ainda comentou sobre o livro de Cheney: “É um livro escrito sem medo. Sem medo de que um dia alguém faça de Cheney um ‘Pinochet’”. O Coronel Wilkerson se refere ao caso do ditador chileno Augusto Pinochet, que foi preso na Inglaterra e detido durante um ano antes de ser liberado. Um juiz espanhol queria que o extraditasse para julgá-lo por crimes contra a humanidade.
A poucos dias do décimo aniversário d0 11 de Setembro e enquanto aumenta o número de vítimas de todos os lados envolvidos no conflito, os livros de Rumsfeld e Cheney nos lembram mais uma vez qual é a primeira baixa da guerra: a verdade.

————————–

Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.
@2010 Amy Goodman

Texto em inglês traduzido por Fernanda Garpe y Democracy Now! em espanhol.

Esta versão é exclusiva de Estratégia & Análise para o português. O texto em espanhol traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto, e revisado por Bruno Lima Rocha.

Amy Goodman é âncora do Democracy Now!, um noticiário internacional que emite conteúdo diário para mais de 650 emissoras de rádio e televisão em inglês, e mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro “Os que lutam contra o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos”, editado pelo Le Monde Diplomatique do Cone Sul.






voltar