Em primeiro lugar, o custo da guerra. Os Estados Unidos gastam cerca de dois bilhões de dólares por semana somente no Afeganistão, o que representa algo em torno de 104 bilhões de dólares ao ano – e isto sem incluir o Iraque. Comparemos esta cifra com o déficit do orçamento estatal. Segundo um recente relatório do grupo independente Centro sobre Prioridades Orçamentárias e Políticas, "por volta de 45 estados mais o Distrito de Columbia projetam déficits orçamentários de um total de 125 bilhões de dólares para o ano fiscal de 2012".
As contas são claras: o dinheiro deveria ir aos estados em vez de gastá-lo num estado de guerra.
O Presidente Barack Obama não dá sinais de que vá terminar nem a ocupação do Iraque, nem a atual guerra no Afeganistão. Pelo contrário, durante sua campanha eleitoral prometeu ampliar a guerra no Afeganistão e cumpriu a promessa. Então, como marcha a guerra de Obama? Não muito bem.
Durante este período, registraram-se mais mortes de civis no Afeganistão desde o início da invasão, encabeçada pelos Estados Unidos em outubro de 2001. Informou-se que recentemente sessenta e cinco civis foram assassinados em Kunar, próximo do Paquistão, onde o aumento de mortes civis provoca o crescimento do apoio popular ao Talibã. Em 2010, também se produziu o maior número de mortes de soldados estadunidenses, alcançando um total de 711 norte-americanos e aliados mortos no Afeganistão. O número de soldados mortos continua alto em 2011, e espera-se que os confrontos se intensifiquem quando começar o clima quente.
O jornal Washington Post informou recentemente que o controvertido programa de aviões não tripulados de Obama, levado a cabo pela CIA, em que aeronaves controladas à distância sobrevoam zonas rurais do Paquistão para lançar mísseis Hellfire contra supostos "militantes suspeitos", matou ao menos 581 pessoas, das quais apenas duas faziam parte de uma lista estadunidense de suspeitos “militantes de alto nível". Há muitas provas de que os ataques com aviões não tripulados, que aumentaram drasticamente durante o governo de Obama, matam cidadãos comuns, independente do apoio civil paquistanês aos Estados Unidos.
Enquanto isso, no Iraque, a democracia que os neoconservadores em Washington pretendiam entregar a ponta de pistola, com sua estratégia de “impacto e intimidação" pode estar finalmente chegando. Não com a ajuda dos Estados Unidos, mas sim inspirada nos levantes populares pacíficos da Tunísia e Egito. No entanto, a ONG Human Rights Watch acaba de informar que, enquanto a população protesta e os dissidentes se organizam, "os direitos dos cidadãos mais vulneráveis do Iraque, especialmente mulheres e detentos, são violados sistemática e impunemente".
Samer Muscati, pesquisador no Iraque para a Human Rights Watch, acaba de sair de lá. Disse: "Uma das coisas que monitoramos é a tortura no Iraque. E lamentavelmente, a tortura segue sendo sistemática e generalizada nos centros de detenção. Os detentos queixam-se habitualmente de maus tratos que sofrem. Quando estivemos ali há algumas semanas, descobrimos outra prisão secreta em Bagdá, administrada por forças de segurança de elite, que dependem do escritório do ministro, sem nenhum tipo de prestação de contas. E estas forças mantiveram os detentos incomunicáveis. Efetivamente, estão desaparecidos. Não têm contato com seus familiares nem advogados, e os inspetores de direitos humanos estão proibidos de visitá-los. Então os problemas de direitos humanos no Iraque são graves".
Surgiram protestos em outra Praça Tahrir, em Bagdá (sim, Tahrir significa “libertação” no Iraque e Egito), contra a corrupção e para exigir empregos e melhores serviços públicos. As forças do governo iraquiano mataram 29 pessoas no fim de semana e prenderam mais 300, entre elas trabalhadores de direitos humanos e jornalistas.
No entanto, os Estados Unidos continuam destinando dinheiro e soldados para estas guerras intermináveis. Michael Hastings, da revista Rolling Stone, cujo artigo trouxe à tona o comportamento inaceitável do General Stanley McChrystal, acaba de mostrar o que denomina de operação ilegal do Tenente General William Caldwell no Afeganistão, na qual o Exército dos Estados Unidos montou uma "operação psicológica" contra senadores estadunidenses e outros dignitários que visitavam o país, para conseguir apoio e mais financiamento. Segundo uma das fontes militares de Hastings, Caldwell perguntou: "Como conseguiremos que estes sujeitos nos mandem mais gente?... O que tenho de pôr em suas cabeças?"
Arnold Fields, inspetor geral especial para a reconstrução do Afeganistão (SIGAR, por suas siglas em inglês), recém-aposentado, acaba de informar que 11,4 bilhões de dólares estão em risco por causa de um planejamento inadequado. Outro grupo, a Comissão Estadunidense para Contratos em Tempos de Guerra "conclui que os Estados Unidos têm desperdiçado dezenas bilhões de dólares dos quase 200 bilhões que se gastaram em contratos e subsídios desde 2002 para apoiar as operações militares, de reconstrução e outras ações dos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão."
Isto nos remete aos professores, enfermeiros, policiais e bombeiros de Wisconsin. Mahlon Mitchell, presidente dos Bombeiros Profissionais de Wisconsin, disse-me na esquina do Capitólio em Madison por que os bombeiros sindicalizados estavam ali, apesar de que seu sindicato não esteve entre os afetados pelo projeto de lei do governador Scott Walker:
Mahlon Mitchell disse: "Sabemos que o governador estava utilizando a táctica de nos dividir para reinar. Isto é um ataque à classe média. Basicamente está tratando de separar à classe média, separar os sindicatos, enfrentar-nos e desfazer das organizações e da negociação coletiva. E não nos íamos ficar sentados e permitir que isso acontecesse".
Se deixarmos de atacar ao povo no Iraque e Afeganistão, podemos evitar estes ataques contra os pobres e a classe média em nosso país.
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Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.
@2010 Amy Goodman
Texto en inglês traducido por Mercedes Camps, editado por Gabriela Díaz Cortez y Democracy Now! en español, spanish@democracynow.org
Texto em espanhol traduzido por Rafael Cavalcanti Barreto, revisado por Bruno Lima Rocha. A difusão em português, segundo acordo com a matriz de Democracy Now! é exclusiva de Estratégia & Análise.