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Democracy Now! em Português
a coluna semanal de Amy Goodman traduzida para o português

Esperança e resistência em Honduras

publicacionesfranciscoalarcon.blogspot.com

Ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, volta ao país após quase dois anos de exílio.

Por Amy Goodman

Enquanto os Estados Unidos comemoravam o Memorial Day com um fim de semana de três dias, o povo hondurenho vivia um acontecimento histórico: a volta do Presidente Manuel Zelaya, depois de 23 meses de exílio forçado à base de bala, no que representou o primeiro golpe de Estado na América Central dos últimos 25 anos. Apesar de Zelaya já não ser mais presidente, seu retorno é uma grande vitória para o movimento de resistência ao golpe. O governo que se instaurou após o golpe de Estado, sob o comando do Presidente Porfírio “Pepe” Lobo, é cada vez mais repressivo. No fim de maio, uma comissão de 87 membros do Congresso estadunidense enviou uma carta à Secretária de Estado, Hillary Clinton, exigindo a suspensão da ajuda às forças armadas e polícia hondurenhas.

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Fui a única jornalista estadunidense no voo que levou Zelaya de volta a Honduras. Perguntei-lhe como se sentia sobre o seu iminente regresso. “Cheio de otimismo, fé e esperança. O diálogo e a ação política são possíveis sem armas. Não à violência. Não a golpes militares. Golpes de Estado nunca mais”.

Quando aterrissou em Honduras, Zelaya se ajoelhou e beijou o solo. Foi recebido por dezenas de milhares de pessoas que o ovacionaram enquanto agitavam a bandeira rubro-negra do movimento que surgiu após o golpe: a Frente Nacional de Resistência Popular, “a resistência”, liderada agora pelo ex-presidente. Sua primeira parada aconteceu em uma aglomeração de pessoas em frente ao monumento em memória do jovem Isis Obed Murillo, de 19 anos de idade, que foi assassinado uma semana depois do golpe de 2009, quando Zelaya tentou pela primeira vez voltar ao país. Murillo encontrava-se entre as dezenas de milhares de pessoas que esperavam o retorno do ex-presidente no aeroporto. Na ocasião, os militares bloquearam a pista de aterrissagem e dispersaram a multidão disparando balas de chumbo, que mataram o adolescente.

A partir de então, a violência e a impunidade se tornaram moeda corrente. Campesinos, jornalistas, estudantes, professores e qualquer outra pessoa em Honduras que se atreva a discordar expõe-se à intimidação, prisão e assassinato. Ao menos 12 jornalistas foram assassinados no país desde o golpe, segundo o Comitê para Proteção dos Jornalistas. Muitos campesinos também foram perderam suas vidas. Na semana passada, estudantes secundaristas que protestavam contra a demissão de professores e a privatização da educação foram atacados violentamente pela polícia a tiros e com gases lacrimogêneos.

No discurso que pronunciou no ato de boas-vindas, o Presidente Zelaya disse: “A presença de vocês nesta tarde demonstra o apoio da comunidade internacional, que não derramou sangue em vão porque estamos de pé em luta, mantendo nossas posições. Resistência pacífica, companheiros. Resistência é hoje o grito de vitória do retorno a Honduras de todos os direitos e garantias da democracia hondurenha”.
O atual governo de Honduras aceitou permitir o regresso de Zelaya para conseguir a readmissão do país na Organização de Estados Americanos numa tentativa de livrar-se da condição de pária que ganhou na América Latina em virtude do golpe.

Pária na América Latina, mas não nos Estados Unidos. Apesar do Presidente Barack Obama inicialmente qualificar a derrubada de Zelaya como um “golpe”, o governo estadunidense logo abandonou o uso do termo. Mas não há outra palavra que descreva o acontecimento. No domingo, falei com Zelaya em sua casa, de onde me contou o que ocorreu.

Era por volta de cinco da manhã do dia 28 de junho de 2009, quando soldados hondurenhos encapuzados invadiram sua casa após dispararem contra a porta dos fundos.

“Ameaçaram-me dizendo que iam disparar. E eu os disse: ‘Se tem ordem de disparar, dispare. Mas saiba que está disparando contra o Presidente da República, e você é um subalterno’. E eles não dispararam. Apenas me submeteram a acompanhá-los ao veículo, assim, com a roupa de cama. Aterrissamos na base militar norte-americana de Palmerola, onde reabasteceram o avião. Houve movimentos fora da aeronave, eu não sei com quem falaram. Ficamos ali por quinze ou vinte minutos. E depois a Costa Rica. O resto é público”.

Em última instância, o mais importante para Honduras não é a volta de Zelaya, mas sim a volta da democracia. Zelaya estava conseguindo apoio popular para políticas públicas significativas, como o aumento de 60% do salário mínimo; um plano para assumir o controle da base aérea estadunidense Palmerola com o objetivo de utilizá-la como aeroporto civil no lugar do perigoso Aeroporto Internacional Toncontin; planos de distribuir terra a camponeses; e se unir à ALBA, o bloqueio cooperativo regional criado para diminuir o domínio econômico dos Estados Unidos. No dia em que lhe sequestraram, Zelaya realizaria uma consulta popular para perguntar à população se queria uma assembléia nacional constituinte para avaliar possíveis reformas da Constituição. Esse, explica Zelaya, foi o motivo pelo qual lhe derrubaram.

A Secretária de Estado Clinton e seu amigo íntimo Lanny Davis, que leva adiante um poderoso lobby a favor do regime golpista, exerceram forte pressão a favor da legitimação do governo de Lobo, apesar de um telegrama interno do próprio Departamento de Estado sob comando de Clinton ter como título “Assunto urgente: O caso do golpe em Honduras”. O telegrama recentemente publicado pelo WikiLeaks afirma que o golpe foi claramente ilegal.

Quando me dirigia ao aeroporto para tomar meu voo de volta deste fim de semana histórico em Honduras, topei com um grupo de professores que estavam em greve de fome há um mês em frente ao Congresso hondurenho. Eles, tal como uma ampla rede de grupos da sociedade civil hondurenha, ao tempo em que celebram o retorno de seu presidente derrocado, têm claras suas exigências, que contam agora com o apoio de 87 membros do Congresso estadunidense: que se ponha fim à violência e à repressão em Honduras.

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Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.
@2010 Amy Goodman

Texto em inglês traduzido por Fernanda Gerpe y Democracy Now! em espanhol.

Esta versão é exclusiva de Estratégia & Análise para o português. O texto em espanhol traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto, e revisado por Bruno Lima Rocha.

Amy Goodman é âncora do Democracy Now!, um noticiário internacional que emite conteúdo diário para mais de 650 emissoras de rádio e televisão em inglês, e mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro “Os que lutam contra o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos”, editado pelo Le Monde Diplomatique do Cone Sul.






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