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Para refletir quanto ao processo eleitoral nos municípios – Bruno Lima Rocha Introdução: eleição sem apelo


Definitivamente, a direção nacional do PT e o comitê central do PC do B perderam a chance de polarizar esta eleição e dar a tão falada guinada à esquerda, ainda que fosse em um plano simbólico. A medida era simples. Bastava verticalizar as alianças municipais e proibir qualquer coligação com partidos que apoiaram o golpe com apelido de impeachment.

Bruno Lima Rocha, 02 de outubro de 2016

Introdução: eleição sem apelo

Este pleito municipal é algo no mínimo inusitado. Diante de um golpe de Estado com apelido de impeachment, cumprindo todo o rito arbitrado pelo Supremo, parece que as regras do jogo estão preservadas. Ledo engano. As regras da democracia indireta no Brasil nunca foram tão tuteladas desde o voto vinculado das eleições estaduais de 1982 e agora, paira a permanente ameaça do Judiciário e do Ministério Público atropelarem as garantias do Estado brasileiro e interpretarem segundo a própria consciência, quase que legislando por jurisprudência. 

Como o combinado foi desrespeitado, seria de se esperar uma polarização do voto mais à esquerda nestas eleições. Deu-se justo o oposto. Ainda que a corrida eleitoral seja mais polarizada em capitais e cidades-polo, o que vemos é o mais do mesmo da política de tipo paroquiana, clientelista, prebendaria e de base familiar. Nada aproxima mais o cotidiano da política brasileira do que a eleição para o município. Simultaneamente, nenhuma prática política convencional é mais corriqueira, logo, é a mais despolitizada e com pouca motivação ideológica.

A chance de aglutinar forças e reorganizar o sistema político a fórceps foi novamente perdida pelos dirigentes dos partidos que davam sustentação final do governo deposto. 

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A ex-esquerda e a oportunidade perdida   

Definitivamente, a direção nacional do PT e o comitê central do PC do B perderam a chance de polarizar esta eleição e dar a tão falada guinada à esquerda, ainda que fosse em um plano simbólico. A medida era simples. Bastava verticalizar as alianças municipais e proibir qualquer coligação com partidos que apoiaram o golpe com apelido de impeachment. A medida seguinte seria literalmente obrigar os diretórios municipais a acatar esta medida. Quando o fator era inverso, no período áureo de crescimento econômico, hegemonia quase absoluta do Campo Majoritário e com Lula (pessoa física) cativando mais de 20% do eleitorado, dava-se o oposto. Quem acompanha um pouco de política nacional cansou de ver do diretório nacional, e alguns ex-ministros, como o próprio José Dirceu, forçando os diretórios estaduais a se coligarem com o PMDB e também trazendo a reboque políticos e legendas de base neopentecostal. 

Terminada a coalizão de classes, representada no co-governo com as oligarquias partidárias, e consumada a traição por convicção do vice-presidente e seus auxiliares diretos, seria o momento para alguma autocrítica e reposicionamento. Não houve nada parecido. O custo da coesão muitas vezes é a fratura interna. Por outro lado, seguir “unificado” mas com pouca ou quase nenhuma coesão é como sobreviver na política juntando os retalhos. Todo racha é traumático e as derrotas históricas geram ainda mais trauma. Mas, sem risco político não há nenhuma possibilidade de praticar uma política transformadora.

Óbvio que tal medida não afetaria diretamente as organizações políticas bem mais à esquerda (boa parte destas não eleitoralistas), mas empurraria o reformismo (cujo partido líder é o PSOL) para uma radicalização (até para disputar discurso e aumentar a legitimidade). Ao mesmo tempo, a hoje decadente centro-esquerda ganharia novo fôlego. Tal medida não seria tão “segura” como deixar acontecer alianças “heterodoxas” com partidos que apoiaram o impeachment. O risco real seria minguar ainda mais à frente de prefeituras, e gerar uma crise pela absurda falta de convicção que atravessa esta maioria de ex-militantes. Mas, entendo, seria a penúltima chance de manter o partido de governo unificado, assim como sua linha auxiliar. Agora, as cartas estão lançadas para um rearranjo de centro-esquerda, ou centro ex-esquerda. A balança pende para uma inflexão talvez realmente nacional-desenvolvimentista, cujo discurso hoje está sob a liderança de Ciro Gomes correndo por fora. O ex-ministro de Lula está justamente esperando as decisões ou possibilidades do ex-presidente mais popular da história do país concorrer ou não para presidente em 2018.

Uma predição do curtíssimo prazo pós eleitoral

Estamos em franca e aberta corrida pela recomposição da hegemonia da política brasileira. Há uma gestação de um pacto conservador, tão frágil como a convicção desenvolvimentista dos oligarcas da coalizão rompida. Também há uma disputa entre os partidos da base do governo deposto (PT e PC do B), o racha deste que foi fruto das críticas ao modelo lulista (o PSOL) e todo um universo político na ponta esquerda da política, cuja maior evidência de capacidade de articulação foi a verdadeira rebelião popular do Brasil em 2013.

A corrida pela sobrevivência da ex-esquerda deposta começa em novembro, arrastando por tabela o reformismo cada vez menos radical. Já a esquerda não eleitoral tem a possibilidade de tomar a dianteira na luta de resistência contra as leis regressivas, aplicadas na base do rolo compressor pelo governo golpista. Ajuda nesta resistência as trapalhadas de Temer e cia. Quanto mais seus ministros falarem, menos chances terão de aprovar leis contrárias aos interesses da maioria das brasileiras e brasileiros.

 






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