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Farra das passagens: não fazer o óbvio é uma decisão política

blogs diario de pernambuco

Michel Temer e José Sarney encontraram o caminho mais curto para evitar problemas com a opinião dos consumidores de notícias planaltinas e ao mesmo tempo acalmar a rebelião do baixo clero

Bruno Lima Rocha, 29 de abril de 2009

Na semana passada, o país estarrecia diante do uso indiscriminado de passagens aéreas dos congressistas para fins particulares. Sinceramente, nada daquilo era novidade para os alfabetizados na política brasileira. Ainda assim, uma imoralidade só se torna escândalo quando é amplamente divulgada. Como toda instituição acuada, a solução foi entregar os anéis para não arriscar perder os dedos.

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No meio da tarde desta terça (28/04/2009), encontraram a saída ao aplicar a regra entre os cardeais, disciplinando o baixo clero. A câmara baixa da república brasileira incorporou-se de agilidade no instinto de preservação. A instância política usada foi o Colégio de Líderes somado com a Mesa Diretora da casa, dirigida pelo hábil e experiente Michel Temer (PMDB-SP). Se por um lado as lideranças da Câmara tomaram por fim uma atitude disciplinadora, por outro, privaram os eleitores do Brasil de ver as entranhas da política brasileira.

A ameaça de rebelião viria dos parlamentares pouco notórios, somados a alguns bem conhecidos, tentando apresentar emendas que preservassem o “direito” de seus parentes diretos viajarem custeados pelo contribuinte. É óbvio que a maioria dos brasileiros é contra esta farra. Mas, tenho certeza que esta votação em plenário seria muito interessante observar. Com o acórdão dos líderes e da Mesa, ficamos privados de assistir um debate sincero. Seria a materialização do conceito, quando o fisiologismo vai ao encontro do discurso político que tenta fundamentá-lo. O eleitor perdeu o espetáculo de ver seu representante, do alto da tribuna, gastando latim na defesa de um interesse pessoal.

Mas, como é característica da política brasileira, a transparência veio pela metade. Segundo as novas regras para bilhetes aéreos, cada mandato deve publicar os gastos com passagens na internet no prazo de 90 dias. Isto não faz sentido. Porque estipular um prazo de divulgação quando qualquer programador mediano pode criar um comando de duplo registro? De tão simples chega a ser ridículo! Bastava aplicar uma ferramenta para que, ao lançar o gasto da emissão da passagem, simultaneamente este custo aparecesse numa tabela diária de viagens e emissões, com acesso universal através do portal da Câmara dos Deputados. Pessoal capacitado para isso a Câmara tem de sobra.

Portanto, havendo recursos e mão de obra, não fazer o óbvio é uma decisão política.






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