O que diriam homens como estes, maragatos de 93, diante da liquidação da Pampa e da soberania do Rio Grande do Sul? Será que acatariam estas decisões?

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A Adaga, número 12, boletim eletrônico de Estratégia & Análise – duas notas sobre o Rio Grande de São Pedro

Rio Grande – 1

A Província foi vendia por R$ 2 bi

O Rio Grande do Sul preparou sua caixa de ressonância e o bumbo legüero rachou o couro e ficou mudo. O glorioso parlamento da Província de São Pedro, no dia 26 de março, marcou a mesma unanimidade do Pacto pelo Rio Grande. Antes, o acórdão já havia se manifestado no aumento de salário dos nobres deputados estaduais. Naquela tarde de fins de março, os parlamentares do pago, acompanhados pelo fiscal de tributos cedido para a FEE e agora titular da Secretaria da Fazenda, e pelo governador em exercício – o herdeiro do grupo Econômico, que por sinal foi vendido pelo próprio – votaram a favor do empréstimo com o Banco Mundial.

Para não ficar tão feio o acórdão entre o BIRD e o Tesouro Nacional, Raul Pont (DS-PT, dep. estadual) tentou tirar da reta e desonerar a si, sua corrente e partido remendando o empréstimo com duas emendas que pouco ou nada remediam o dano já feito. A lógica é simples. Se a União renegocia as dívidas estaduais, atenuando o arrocho nos juros, a Banca operando no país diminui sua margem. O governo do Copom precisa manter a “segurança” da base financeira. Como o Rio Grande está atolado na própria dívida, e Yeda Crusius e sua trupe gerencial não querem sentir nem o cheiro de moratória, restava procurar o agiota gringo que cobra menos juros do que o usurário de posse da chave do cofre do Brasil. O Grupo Banco Mundial quer “apenas” o controle gerencial das finanças e dos processos decisórios. A pechincha vai sair por R$ 2 bilhões de reais. De graça para um território que foi demarcado à pata de cavalo e ponta de lança!

Rio Grande – 2

O Conselho do Meio Ambiente operando como cavalo de tróia para os “técnicos” canadenses importados por Yeda e seu clube de gerentes. Ou, a forma jurídica de atentar contra a soberania de uma terra outrora altaneira.

O Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) foi o foco de disputa e a arena decisória para o plantio de eucalipto. A agenda pautou o zoneamento de áreas para silvicultura, e uma vez que as manobras no Consema funcionaram, uma nova leva de gringos está por chegar para escrever relatórios palatáveis de acordo com as exigências legais. Estes “técnicos” virão aprimorar a capacidade produtiva incluindo os discursos e justificativas. Como a professora de economia da UFRGS não dá ponto sem nó, a Universidade de Toronto manda pessoal qualificado para ajustar o avanço de uma cultura que em sete anos irá alcançar nada menos do que 900 mil hectares de área agricultável. Considerando os mais de 4 milhões de hectares dedicados ao plantio de soja (90% ou mais de transgênicos), o Rio Grande terá cerca de 1 em cada 5 hectares agricultáveis entregues para a plataforma de exportações. A ocupação do território e recursos hídricos implica também o controle dos fluxos internos. Ao invés de servir como infra-estrutura de base para o desenvolvimento sob controle desta sociedade, as hidrovias serão recuperadas e ampliadas para servir ao eucalipto. A maioria destes terminais de carga hidroviária, já nascerão privados, incluindo os de Guaíba e São José do Norte, respectivamente na entrada do Lago Guaíba para a Laguna dos Patos e na Barra da Laguna, defronte ao Porto do Mercosul.

Só para 2008, as papeleiras pretendem aplicar seus recursos em 70 mil hectares. Se isso não é abrir mão de soberania e dos recursos naturais não-renováveis, então desconheço o que seja! A vontade de abrir mão da autodeterminação é tão forte porque opera sobre os novos gerentes da Província a Maldição do Malinche. Senão, o que justifica a troca de terra e seus nutrientes pela casca do eucalipto e sua resina esterilizante? Perde-se a água e nos resta o cloro do branqueamento. O fato político que dá nascimento para o moderno movimento ecológico do Rio Grande é justamente a luta de gente como Lutzemberger contra o cloro no Guaíba, despejado pela ex-Riocell, agora Aracruz. A maldição asteca se repete no Cone Sul, sendo vendido o território por US$ 4,5 bi. Menos de R$ 10 bi de reais, cerca de 1/3 da dívida interna gaúcha, é a ordem dos investimentos promovidos pelos capitais transnacionais e cruzados das papeleiras. Detalhe: cerca de 1 a cada 5 reais deste montante sai do cofre do BNDES, direto do bolso da Plebe através de imposto embutido, direto para os viveiros da esponja orgânica destinada a plantar árvores exóticas e concluir a obra da Conquista.

Além de liberar o plantio, a reunião pautou a desconfiança como valor agregado. Assim, um dos poucos lugares no Brasil onde havia segurança com o serviço público e alguma certa empatia com as instituições, tirou todo este patrimônio simbólico no lixo. A Procuradoria Geral do Estado entrou na cancha para ganhar pelo Piratini. O governo tinha maioria no Conselho, constrangeu os técnicos da Fepam e da Fundação Zôobotânica e para completar a terra arrasada, ainda convocou a Polícia Montada em GPSs e envergando fardas de terno e gravata de seda para acabar com o trabalho dos servidores públicos do Rio Grande.

Não se trata de denúncia, mas uma reflexão. O Bioma Pampa é constitutivo da alma e da auto-imagem do Rio Grande e da Pátria Grande. É a continuidade, em outra etapa histórica, chacinando a biodiversidade de um país que tem o nome de uma árvore extinta em seu ambiente natural. Nada disso é coincidência nem surpreende. A “surpresa” é não ter um conselheiro bombachudo sequer do MTG para convocar a gauchada e defender a própria identidade. Será que tamanha pasmaceira e passividade também é coincidência?!

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